Com a pandemia, desde março de 2020, todas as empresas e áreas profissionais necessitaram se reinventar para sobreviver a este contexto repleto de incertezas, perdas, grandes fatores de estresse, estratégias de higiene (lavar as mãos frequentes, higienização constante de superfícies, objetos, ambientes), proteção (uso de máscaras, isolamento social). Todas estas mudanças impostas pelo risco de contágio pelo COVID-19 levaram as empresas a implementação do home-office e do teletrabalho como estratégia imediata de continuidade das atividades.
É fato que algumas empresas já adotavam parcialmente esta estratégia desde o início da última década, porém com objetivos relacionados à qualidade de vida dos colaboradores. O home-office, naquela ocasião, acontecia 1 vez por semana ou de forma mais esporádica, como no caso de aniversário ou bônus, a depender da política de cada empresa.
Com esta implementação compulsória do home-office, times inteiros e suas lideranças passaram a trabalhar das suas residências. Num primeiro momento, alguns pontos foram vistos como benefícios (redução de custos com transporte, tempo de deslocamento, alimentação, estar mais próximo da família, trabalhar no conforto de casa, etc). Todavia, a permanência em home-office sem previsão de encerramento da pandemia e de retomada de uma rotina presencial, o lidar com cenário repleto de incertezas e grandes perdas de diferentes ordens por quase 1 ano e meio, tornou-se fator de estresse crônico.
A psicologia organizacional também foi uma área de atuação que sofreu grandes impactos e foi chamada a propor mudanças na relação com o trabalho, contribuições e estratégias para o processo adaptativo das pessoas parte das empresas frente a este contexto pandêmico.
Um aspecto de fundamental relevância e que com este contexto emergiu como prioridade foi o cuidado com a saúde mental dos colaboradores. Não que antes não houvesse empresas preocupadas com estratégias de promoção de saúde, qualidade de vida e prevenção de enfermidades. Mas agora se tornou uma prioridade geral, uma vez que todas as pessoas foram pegas de surpresas, obrigadas a permanecerem em casa sem previsão de retorno à normalidade, passando a lidar com medo constante de contaminação, de internação, risco real de morte, bombardeio de notícias diárias de números gigantescos de mortes, perdas pessoais, financeiras, falência, encerramento de empresas, altos índices de desemprego, enfim, uma enxurrada de fatores de estresse que contribuíram diretamente para o aumento de quadros de ansiedade, depressão, burnout, alcoolismo, outros transtornos por uso de substâncias, transtornos alimentares e outros transtornos psiquiátricos.
Diante disto, psicólogos organizacionais foram chamados a entender como todos estes fatores crônicos de estresse (excesso de incertezas, isolamento social, riscos reais à saúde, perdas constantes, permanência prolongada em isolamento social) impactam qualidade de vida e produtividade dos colaboradores, bem como estruturar mudanças nas políticas e práticas de gestão de pessoas para proporcionar um contexto mais acolhedor, mais saudável, seguro, menos incerto, buscando minimizar impactos psicológicos e sociais no enfrentamento de todo este estresse crônico relacionado à pandemia e o teletrabalho. Abaixo alguns temas que psicólogos organizacionais passaram a lidar e propor estratégias de enfrentamento:
- Protocolos de biossegurança e autocuidado: seguindo critérios recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de forma a assegurar protocolos sanitários e de segurança e promoção do autocuidado nas suas multidimensões (físico, mental, emocional, espiritual, social), estimulando a alimentação saudável, pratica de exercícios físicos em casa, descanso e pausas, qualidade do sono, partilha de emoções e angústias com colegas, familiares, amigos, prática de meditação, mindfullness e atividades prazerosas saudáveis;
- Atualização continuada e comuncação clara: visando esclarecer e orientar colaboradores e gestores a respeito das práticas de autocuidado, necessidade de redussão do estresse para lidar com aumento de ansiedade depressão e outros quadros psiquiátricos, abertura de canais de escuta e acolhimento para todos dentro da organização, orientação de lideranças para flexibilização e proposição de novas políticas em gestão de pessoas considerando o atual contexto,
- Orientação, esclarecimento sobre saúde mental: orientando empregadores e lideranças sobre impactos e consequências do estresse crônico e confinamento prolongado sobre a saúde mental, incidentes críticos, emergências psicológicas, dores e desafios do home-office prolongado para a saúde psicoemocional dos colaboradores, bem como sintomas e quadros mais expressivos ao longo da pandemia (sintomas de ansiedade, depressão, pânico, Transtorno do Estresse Agudo (Estado de Choque), Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), insônia, hipersonia, luto, alterações de concentração, memória, comportamento alimentar, redução de produtividade, transtornos por abuso de substância, entre outros;
- Adoção de práticas em saúde mental: abertura de espaços de acolhimento dos colaboradores, contratação de psicólogos clínicos e/ou consultorias especializadas em saúde mental para oferecer atendimento psicológico especializado, triagem e encaminhamento para psicoterapia e/ou internações (nos casos necessários), estimular colaboradores a incluir a terapia como estratégia de autocuidado e prevenção de crises, oferecer espaço adequado sigiloso interno ou encaminhar para rede especializada em saúde mental tanto privada como pública. Prestar os primeiros atendimentos psicológicos na própria organização e capacitar lideranças neste sentido;
- Rede de apoio e acompanhamento: para oferecer suporte aos colaboradores em casa, especialmente àqueles com maiores dificuldades para lidar com o momento de crise bem como monitorar pessoas que sofreram algum tipo de adoecimento, seja por COVID-19 ou outros quadros que limitem ou tire o profissional da sua rotina de trabalho, orientar e acolher familiares;
- Quebra de preconceitos e estigmas relacionados à saúde mental: promovendo intervenções informativas relacionadas a estresse no home-office, assédio moral, gestão de conflitos, luto, promover rodas de conversas virtuais para eliminar estigmas e preconceitos a partir da partilha de informações corretas e de experiências;
- Entrevistas de desligamento: realizando trabalho em conjunto às lideranças e assistente social para promover maior espaço de acolhimento, escuta ativa, orientação clara e suporte, sugestões de alternativas, especialmente neste momento em que desligamentos estão sendo feitos virtualmente;
Ainda neste sentido, algumas empresas adoratam estratégias propostas pelo RH de modo a lidar com estes e outros desafios do home-office em tempos de pandemia. Alguns exemplos de estratégias implementadas foram:
- Comunicação clara, objetiva e continuada, com respostas às dúvidas mais frequentes dos colaboradores (FAQs), gerando canais de escuta, acolhimento e esclarecimento virtuais (online, via site, apps de videoconferência, telefone, SAC)
- Canais exclusivos para informes, notícias, comunicados sobre o COVID, com atualização constante de números relacionados aos colaboradores, empresa no mercado e políticas públicas;
- Criação de Comitê de Crise que envia constantes atualizações sobre diretrizes e ações da empresa relacionadas ao lidar com o contexto pandêmico;
- Criação de cartilhas com diretrizes de comunicação, relacionamento, saúde e prevenção para os colaboradores em home-office;
- Estratégias de lazer e descompressão para o time se manter integrado, compartilhar experiências, relaxar, descontrair em coletivo, mesmo que à distância, nos happy hours virtuais;
- Pesquisa interna sobre dores, dificuldades e desafios vivenciados pelo home-office para promoção de melhoria contínua nas políticas e práticas de RH e Qualidade de Vida (QV);
Para saber mais, confira as reportagens abaixo que suportaram a confecção deste artigo:
https://www.mundorh.com.br/9-empresas-revelam-suas-acoes-durante-a-pandemia-de-covid-19/
https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/about-deloitte/articles/10-acoes-empresas-pandemia.html
https://www.castgroup.com.br/blog/rh-em-momentos-de-crise-e-pandemia/
https://forbusiness.vagas.com.br/suporte-emocional-colaboradores-quarentena/
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