O poder do PERDÃO

O poder do PERDÃO

Perdoar diz respeito à remissão de culpa, livrar-se de um arrependimento, erro, falha, ofensa que alguém tenha cometido, ou seja, você pode ter falhado com alguém, ou uma pessoa pode ter traído, desrespeitado você, ou mesmo você decepcionou a si mesmo. O perdão acontece quando dores e angústias relacionadas à situação experienciada são superadas pelos envolvidos.

Segundo o neurocientista Pedro Calabrez, o perdão não é sinônimo de simplesmente esquecer uma situação, acreditando que não terá mais registros daquela memória, que é possível deletá-la do seu cérebro. Não diz respeito ao outro, mas sim da nossa capacidade de seguir em frente. Envolve compreender, reconhecer que houve um sofrimento a partir do acontecimento e aceitação do que houve. Envolve escolhas do que você fará a com o que aconteceu para virar a página da vida e levar os aprendizados que a situação gerou

Trata-se, assim, de um processo de cura de uma ferida emocional que promoveu mal estar psicoemocional. Este processo leva tempo para ser superado, assim como uma cicatriz e recuperação de uma dor física, e por este motivo exige respeito a este tempo.

Por essa definição, podemos entender que perdoar tem um poder de libertar, liberar-se emocionalmente de mágoas, sentimentos negativos, angústias, raiva, ressentimentos, entre outras questões emocionais que envolvam frustração, o aspecto punitivo, crítico, ou julgamento (moral ou ético).

A intensidade destas experiências (emoções e sentimentos) e a duração de permanência delas vivas em nós varia a depender do quanto nos afetamos e do como experienciamos estes acontecimentos, emoções envolvidas e processos avaliativos.

Perdoar alguém

Muitas vezes, passamos por situações difíceis por alguém ter feito ou dito algo para nós que nos levou a sentir decepção, frustração, raiva, tristeza ou mágoa. Estas experiências emocionais revelam algo sobre nós: como nos sentimos. Se fomos desrespeitados em algum direito, se alguma necessidade emocional não foi atendida,  se fomos injustiçados, maltratados, negligenciados, trapaceados, discriminados, ignorados, excluídos, prejudicados a partir da ação ou fala do outro, ou mesmo a partir de um acontecimento.

Ou seja, para perdoar, é preciso tomar consciência e reconhecer quais necessidades emocionais e direitos foram desrespeitados e o que será feito daqui para frente para ressignificar esta relação de forma saudável, diferente, respeitando as necessidades e direitos de ambos, e seguir em frente na jornada levando estes aprendizados positivos, permitindo-se se abrir para novas experiências.

Perdoar a si

Quando falamos de perdoar a si mesmo, falamos de autoperdão. Perdoar-se significa então libertar-se de culpas e arrependimentos que você sinta por algo que tenha feito a si mesmo ou a outra(s) pessoa(s) e que tenha entendido não ter sido a melhor solução, escolha, decisão, não ter sido justo, respeitoso, ou mesmo ter machucado, magoado ou ultrapassado os limites consigo mesmo ou com alguém.

Esta ação é super importante como estratégia de cura e liberação emocional, porque quando não nos perdoamos ficamos presos às situações passadas, que não temos mais poder de ação de modificá-las, já que não é possível mudar o passado.

A pessoa que não exercita o perdão permanece ruminando pensamentos relacionados à situação, normalmente com pensamentos que recriam o cenário buscando outros desfechos, mas que emocionalmente leva à reatualização constante das emoções desagradáveis, da mágoa, arrependimento e culpas envolvidas na situação. O corpo revivencia toda a avalanche emocional a cada vez que se volta àquela situação. Este movimento psíquico e emocional contribui para potencializar quadros de ansiedade e mesmo de depressão, por este aprisionamento autoimposto pelo sujeito em situações passadas.

Assim, o autoperdão é este movimento de liberação emocional, de libertar-se das culpas e arrependimentos que surgiram em situações difíceis que pertencem ao passado e buscar novos sentidos a partir do que aconteceu. Perdoar-se é entender, compreender que houve uma dor, um sofrimento pelo que você fez, mas também incluir que você foi o que poderia ter sido naquele momento, que também é tão humano quanto outras pessoas, passível de erros, falhas. É aceitar que, além de forças pessoais, também tem fraquezas, vulnerabilidades, e que pode seguir em frente e fazer diferente, ressignificar relações a partir das experiências vividas.

Considerações finais

É importante lembrar que faz parte da condição humana o aspecto da imperfeição, e isso envolve ter consciência de que estamos sujeitos a cometer falhas, imprudências, prejuízos, perdas, tanto no aspecto material como subjetivo.

Somos humanos e por assim sermos, estamos sujeitos a tomar decisões não assertivas, escolher caminhos com consequências desagradáveis ou de alto impacto, enfim, podemos falhar em algum momento da nossa caminhada, assim como o outro pode vir a nos decepcionar de alguma forma, pelo fato de ser tão humano quanto nós, estar nesta mesma condição e sob os mesmos direitos universais.

O fato é que aprendemos com todas as experiências que vivemos, erros e acertos. Sabemos que falhamos ou que fomos bem sucedidos numa ação, numa escolha, a depender das consequências envolvidas.

É importante reconhecermos nossas responsabilidades diante delas, fazer o que precisa ser feito, ajustar as melhorias possíveis, mas também levar em conta que somos o que podemos ser a cada momento.

Não perdoar alguém, assim como não perdoar a si mesmo, envolve permanecer na dor, no julgamento, na tensão, na ansiedade, na dura crítica ou mesmo na punição. Esta é uma escolha que faz a pessoa paralisar, ficar presa ao passado, ao que poderia ter sido, e, consequentemente, ter dificuldades para seguir em frente, para se permitir fazer diferente em outras e novas situações.

Perdoar, assim, é necessário para libertar a si mesmo e o outro de dores, ressentimentos, de histórias passadas para seguir em frente. É permitir-se acolher e aceitar as vulnerabilidades, entendendo que elas fazem parte da nossa condição humana, existencial. É se abrir para novas oportunidades, aprendizados, novos sentidos, ressignificar. É praticar a melhoria contínua na arte de ser, viver, relacionar, agir, realizar.

Para saber mais: https://www.youtube.com/watch?v=JH5X4vUMkCg

Santiago, Adriana – O Poder Terapêutico do Perdão. Teoria, Prática e Aplicabilidade do Perdão com Base Científica na Psicologia Positiva. Ed Sinopsys