DISTORÇÕES COGNITIVAS: o que são?

DISTORÇÕES COGNITIVAS: o que são?

As distorções cognitivas são tipos de pensamentos automáticos que apresentamos no dia a dia e que tem como característica principal uma falha avaliativa da realidade e que leva o indivíduo a uma percepção distorcida dela. São pensamentos que evidenciam falhas no processamento da informação e geram vieses de como o sujeito irá interpretar a si mesmo, os outros, suas experiências, o mundo e o futuro. Mas na prática, como isso acontece?

Vamos imaginar o caso de uma pessoa que esteja vivenciando uma crise depressiva. Em meio a seus sintomas de apatia, falta de vontade e de energia para fazer as coisas, perda de sentido de vida, problemas de sono, falta de prazer em atividades antes prazerosas e do seu interesse, entre outros sintomas, surgem pensamentos negativistas, pessimistas, e que a levam a perceber a si, sua vida, suas experiências de forma negativa, desqualificantes. Imaginemos que ela apresentou as seguintes falas:

“Sou um fracasso”

“Nunca conquistei nada, nunca fiz nada de relevante”

“Não adiante eu insistir, eu já tentei todas as possibilidades.”

“Devo ser uma pessoa muito ruim mesmo para estar vivendo tudo isso.”

“Eu deveria ter me esforçado mais, mas agora é tarde demais.”

Perceba quão negativos e pessimistas são estes pensamentos, e o quanto eles impactam potencializando negativamente a experiência emocional desta pessoa para se sentir ainda mais imersa em sentimentos de tristeza e fracasso. Mas observem também algumas caraterísticas que estão presentes nestes pensamentos e que estão interferindo na percepção que ela tem a seu respeito e da sua vida:

ROTULAÇÃO: “Sou um fracasso”, “devo ser uma pessoa muito ruim mesmo para estar vivendo tudo isso.” ou seja, ela entende ser o fracasso e não que teve algumas experiências frustrantes ou que não alcançaram alguns resultados desejados. Atribui como sendo ela integralmente este traço negativo.

PENSAMENTO ABSOLUTISTA: “Nunca conquistei nada, nunca fiz nada de relevante.” , desconsiderando todas as outras experienciadas vivenciadas em outras dimensões de vida e hiperdimensionando a experiência de fracasso. É o famoso “tudo ou nada”, “8 ou 80”.

PREVISÃO NEGATIVA DE FUTURO: “Não adiante eu insistir, eu já tentei todas as possibilidades.” Aqui a pessoa unicamente considera como perspectiva de futuro o fracassar mais uma vez caso tente fazer algo. E isto a leva a paralisar, resignar, por influência desta visão negativa de futuro.

AFIRMAÇÕES “EU DEVERIA…”: “Eu deveria ter me esforçado mais, mas agora é tarde demais.”, isto é, interpretando os acontecimentos em termos de como ela imagina que deveriam ter sido, em vez de focar no que de fato aconteceu e no que pode fazer a partir disso. Um pensamento que potencializa a fixação no passado, nos que não é possível ser mudado, impactando na perda do seu poder de ação para seguir em frente.

Estes tipos de pensamentos são o que chamamos de erros cognitivos ou de distorções cognitivas. Percebem como estes pensamentos automáticos interferem em como a pessoa irá enxergar a realidade e como será sua experiência emocional? Aqui trouxe para você melhor compreender o conceito alguns exemplos práticos, mas existem outros tipos de distorções cognitivas, conforme abaixo:

LEITURA MENTAL: você assume que sabe o que as pessoas pensam, assumindo como verdade, sem fundamentos em fatos e evidências.

CATASTROFIZAÇÃO: acredita que o que aconteceu ou acontecerá será algo de grande magnitude negativa e insuportável de tolerar.

DESQUALIFICAÇÃO DOS ASPECTOS POSITIVOS: assume como triviais ou de pouco valor os aspectos positivos, as realizações e qualidades próprias ou dos outros.

FILTRO NEGATIVO: foca somente nos que há de ruim, negativo, raramente observando ou entrando em contato com os aspectos positivos e agradáveis das experiências.

HIPERGENERALIZAÇÃO: percebe um padrão global de aspectos negativos a partir de uma única situação, entendendo que todas as outras terão o mesmo desfecho.

COMPARAÇÕES INJUSTAS: interpreta acontecimentos a partir de padrões não realistas, focando no como as outras pessoas se saem melhor e entendendo ser pior, inferior a elas a partir de tais comparações.z

*são apenas alguns tipos aqui sinalizados, mas existem outros muitos.

A terapia cognitivo comportamental, bem como a terapia do esquema, auxilia o indivíduo a tomar consciência de suas distorções cognitivas, como elas acontecem no seu dia a dia e de forma automática, quais situações servem-lhe de gatilho para ativá-los rapidamente, aprende a questionar a veracidade destes pensamentos com base em evidênvias e dados de realidade, bem como auxilia a estruturar novos e melhores pensamentos mais adaptativos, realistas e que contribuirá para melhora na sua experiência emocional, bem como estruturar novas estratégias e comportamentos mais saudáveis e adaptados ao seu contexto atual.

Você não precisa estar em depressão ou qualquer outro quadro de sofrimento psicoemocional ou psiquiátrico para apresentar distorções cognitivas. Todos nós temos de alguma forma elas no nosso dia a dia. A diferença está em como lidamos, questionamos, confrontamos e mudamos nosso olhar a partir de sua identificação.

Fazer terapia é uma das estratégias que nos ajuda a melhor nos conhecermos e, consequentemente, melhorar nossa relação com nossos pensamentos, nossas emoções, nossas atitudes com nós mesmos, com os outros e no mundo. Ou seja, fazer terapia é uma grande oportunidade de autoconhecimento e melhoria contínua para todos. E não é preciso esperar vivenciar um sofrimento insuportável para colocar em prática esta estratégia de autocuidado. Permita-se, cuide-se, desenvolva-se, aprimore-se.

Para saber mais, confira:

WRIGHT, J. H., BASCO, M. R. & THASE, M. E. APRENDENDO ATERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL UM GUIA ILUSTRADO. 2008. ARTEMED.

DEPRESSÃO: o que é e quais sintomas

DEPRESSÃO: o que é e quais sintomas

Muita gente ainda tem receio de falar sobre depressão, mas ele é mais presente do que se possa imaginar no dia a dia dos brasileiros. E a pandemia só contribuiu para agravar casos de depressão e ansiedade no mundo. Segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), no Relatório Mundial de Saúde Mental de 2022, a depressão cresceu em 28% na população mundial e os casos de ansiedade elevam em 26% no último ano. No Brasil, os dados oficiais mostram um crescimento de 7,7%% para 14,8% dos brasileiros (entre jovens de 18 a 24 anos), sendo o Brasil o país com maior índice de pessoas ansiosas do mundo, 9,8%.

Estes números não só trazem um alerta da importância em falar e psicoeducar nossa sociedade sobre o que é esta doença, como melhor lidar com pessoas com este tipo de sofrimento, assim como buscar e promover ações socioeducativas e  na esfera de saúde pública para promover qualidade de vida, vida com sentido, autocuidado, saúde integral e bem estar.

A depressão é um distúrbio emocional, afetivo e que interfere na forma como a pessoa percebe a sua vida, a si mesmo, os outros e o mundo. Isto porque pessoas que sofrem de depressão, seja um evento episódico ou que acompanha ela por toda uma vida, apresentam comprometimento significativo no seu humor, nas suas relações, na sua energia, disposição física/mental e interesse, manifestando a diminuição significativa ou perda destes indicadores tanto no nível do pensar, do sentir como do agir.

Traduzindo em uma lista de sintomas mais comuns em adultos, a depressão costuma se apresentar a partir da expressão de pelo menos 5 ou mais sintomas dos listados a baixo por um tempo de duas ou mais semanas de forma persistente, incluindo os sintomas humor deprimido ou falta de interesse e prazer necessariamente:

  • Apatia e falta de motivação: para engajar-se em atividades e fazer as coisas no dia a dia. A procrastinação é uma expressão muito comum disto;
  • Medos: que antes não existiam e passam a existir e/ou serem potencializados;
  • Dificuldade de concentração e foco;
  • Perda ou aumento de apetite;
  • Alto grau de pessimismo: refletido na forma de pensar os eventos/situações do dia a dia, como enxerga a si e aos outros, sem perspectiva de futuro e com capacidade de sonhar rebaixada ou comprometida;
  • Indecisão: dificuldade para tomar decisões em diferentes campos de vida, muitas vezes sentido-se paralisada, sem saber o que fazer, como resolver suas dificuldades e problemas
  • Insegurança: muitas vezes se sentido incapaz ou sem forças para fazer as coisas do seu dia a dia, para sair de casa, trabalhar, socializar-se;
  • Sentimento de Culpa frequente;
  • Insônia ou Hipersonia: um dos sintomas de ansiedade muito comum que aparece em comorbidade com quadros depressivos. Dificuldade para relaxar, ter um sono de qualidade, dorme poucas horas ou tem sono interrompido. Ou pode também apresentar hipersonia (dormir demais) como forma de não suportar acessar os problemas e sofrimento emocional;
  • Falta de vontade em fazer atividades antes prazerosas: perda sensação de prazer e desfrute;
  • Sensação de vazio: perda de sentido da vida
  • Irritabilidade
  • Raciocínio mais lento
  • Esquecimentos frequentes
  • Ansiedade: agitação mental (fluxo contínuo de pensamentos) e motora, fatores que drenam bastante energia e que potencializam no nível físico o desânimo e falta de disposição;
  • Angústia: refletida em sentimentos de tristeza diária, humor deprimido, por período prolongado de tempo;

Há casos em que a ideia de morte também se faz presente (ideação suicida) pelo nível de sofrimento causado à pessoa, comprometimento de seu funcionamento social, produtivo e especialmente por perda de sentido de vida associado ou não ao sentimento de culpa.

Um ponto muito importante a falar é que, ao contrário do que muitos de nós imaginamos, a pessoa que sofre com a depressão não necessariamente representa aquela imagem de pessoa que chora todos os dias, que não sai da cama, não faz sua higiene pessoal e está completamente prostrada.

Muitas delas continuam produtivas, fazendo as suas tarefas do dia a dia, e até mesmo sorrindo, porém seu sofrimento é intenso e perpassa pela sua cognição (seu pensar de si, dos outros, do mundo e do futuro), suas emoções (humor deprimido, irritabilidade) e anedonia (falta de interesse e prazer). Suas dimensões de corpo, mente e espírito sofrem impactos significativos, mas é importante sempre avaliar a mudança a partir da trajetória da própria pessoa, e não comparar ela com outros. Pois se ela sempre foi muito ativa no seu dia a dia, não necessariamente ela irá parar por completo, mas sim apresentar mudanças significativas no seu padrão comportamental, forma de pensar, sentir, agir, relacionar-se por um período a partir de 2 semanas de forma persistente.

A função da Terapia no manejo da Frustração

A função da Terapia no manejo da Frustração

Frequentemente ouço relatos de pessoas, sejam em sessão de terapia, seja em conversas familiares ou amistosas, trazendo sofrimentos relacionados à frustração. Algumas até colocam como uma inabilidade ou mesmo limitação a dificuldade em lidar com frustrações, sendo que as mais categóricas chegam a afirmar “eu não sei lidar com frustrações”. E algumas perguntas frequentemente surgem em minha mente: será que as pessoas sabem o que é frustração? Será que elas percebem quando acontecem, quando se frustram e quais fatores relacionados às suas frustrações? Daí surgiu o motivo para escrever estas linhas de hoje aqui no blog.

São diversas as definições que podemos encontrar do termo frustração, a exemplo:

  1. “estado de um indivíduo quando impedido por outrem ou por si mesmo de atingir a satisfação de uma exigência pulsional.” (dicionário Oxford Languange)
  2. “sentimento, uma emoção que ocorre quando algo que era esperado não ocorreu.” (https://www.significados.com.br/frustracao/)
  3. “sentimento desagradável que se produz quando as expectativas de uma pessoa não são satisfeitas por não poder conseguir aquilo que pretende.”(https://conceito.de/frustracao )

Só aqui temos três diferentes perspectivas a respeito do termo, porém o ponto em comum é: frustração gera insatisfação. Aprofundando um pouco mais, podemos identificar alguns tipos de frustração:

  1. Frustração por não ter necessidades atendidas: sejam elas emocionais, fisiológicas, materiais;
  2. Frustração por não alcance de um objetivo: seja qual for a meta, o objetivo, o indivíduo se sente frustrado ao não concretizar ou ser impedido por ele mesmo e/ou fatores externos de concretizar o que estabeleceu como objetivo;
  3. Frustração por elevadas e/ou distorcidas expectativas: quando o indivíduo não encontra na realidade, nas situações, nas interações, fatos congruentes com suas expectativas, termina se decepcionando consigo ou com o(s) outro(s), ou com o contexto, quando o que se apresenta é diferente do que ele esperava(expetava).
  4. Frustração por perda: seja de pessoas importantes, relacionamentos rompidos, perdas materiais, de um emprego, projeto, etc;
  5. Frustração dilemática: quando o sujeito necessita tomar decisão, fazer uma escolha e percebe que a escolha que fizer implicará em perdas e ganhos, ou seja, terá de escolher 1 entre diversas opções, o que o levará a abrir mão das outras e de alguns benefícios;
  6. Frustração por falta de reconhecimento: por falta de gratificação positiva, emocional e/ou material, ou seja, por não ser validado pelos outros em suas habilidades, talentos, resultados, desempenho ou mesmo por não ser promovido, premiado com bônus ou outro tipo de reconhecimento material.

São tantas? Pois é…O fato é que frustração é algo parte da vida, isto é, em algum momento (ou vários) nos depararemos com este sentimento, porque fatos acontecem, a maior parte deles estão fora do nosso controle, e muitos deles podem chegar de surpresa, de forma totalmente imprevisível, com menor ou maior impacto na nossa vida (ex. pandemia que nos levou ao isolamento social compulsório, perdas de familiares e amigos, perdas de emprego, crise econômica, limitação da liberdade, etc) . Daí a importância da terapia como estratégia no manejo da frustração.

A terapia é um espaço livre de qualquer julgamento. É aquele lugar que você chega e fala como quiser, rindo, chorando, com ou sem escárnio, raiva, perplexidade e outras emoções. Fala coisas que não se sentiria à vontade para falar com outras pessoas, mesmo as mais próximas e da sua confiança, seja por qual motivo for: sentir-se perdido(a), confus(a), receio de machucar, de ser mal compreendido, de não atender as expectativas, receio de perder ou alguém importante afastar-se por não gostar ou concordar com o que você disse.

Mas este falar exatamente o que você pensa e sente faz toda a diferença no manejo da frustração. É a partir do reconhecimento do que você acontece internamente a você, seus pensamentos, suas emoções, suas percepções, expectativas, fatores limitantes, tudo isso é material para a terapia. Porque é a partir deste conteúdo que você tem oportunidade de expressar suas verdades, sejam quão duras ou felizes elas sejam. E é a partir deste material que você tem, na terapia, a oportunidade de ampliar seu campo de visão sobre si  mesmo, os outros, as situações, o mundo e sobre o futuro.

Por estes princípios da ética, do não julgamento , da escuta ativa, do acolhimento, da empatia, do respeito, lugar de fala, da livre associação e expressão de ideias é que a terapia se torna importantíssimo espaço para toda e qualquer pessoa manjar e aprender a lidar com suas frustrações. É um espaço que provoca você a trabalhar a aceitação da frustração como algo parte da vida, mas que você poderá aprender e encontrar novos sentidos, ao compreender que fatores contribuíram para que se sinta frustrado(a), se eles são internos ou externos a você, se você tem ou não poder de ação para modificá-los ou modificar a realidade que se apresenta, desenvolver novas estratégias de enfrentamento para seguir e não ficar fixado na frustração, nem deixar de viver novas experiências por sentir-se frustrado(a) em algum momento.

A terapia auxilia você garimpar e levar consigo aprendizados a partir de cada momento de vida, sejam os mais felizes, sejam os mais limitantes, tristes, decepcionantes. Podemos aprender com cada situação que vivemos, a depender da nossa disposição e abertura emocional.

Por isso, deixo aqui este convite: FAÇA TERAPIA. Ao contrário do que muita gente ainda pensa, terapia não é coisa de gente louca ou com problemas mentais. Terapia é para pessoas corajosas e dispostas ao auto-enfrentamento, sejam elas com ou sem qualquer transtorno mais significativo. Qualquer pessoa pode e deve fazer terapia, exatamente por ser uma incrível estratégia de aprendizado, autoconhecimento, regulação emocional, desenvolvimento de habilidades sociais e outros muitos benefícios. Experimente e sinta você mesmo os benefícios e transformações que ela proporciona.

O que são ESQUEMAS?

O que são ESQUEMAS?

Na abordagem da Terapia dos Esquemas, proposta pelo psicólogo Jeffrey Young (2008), o termo esquemas é conceituado como um conjunto de padrões cognitivos, emocionais e comportamentais estruturados a partir dos primeiros vínculos que estabelecemos com nossos pais (primeiros cuidadores), aprendizagem de comportamentos e crenças dentro da família e no contexto social, a partir das nossas primeiras relações e experiências de vida, durante a infância e adolescência.

Tratam-se de maneiras habituais de perceber, enxergar e sentir a partir das interações e situações vivenciadas e que se repetem como padrões automatizados de percepção. Podemos entendê-los como filtros emocionais que inteferem na nossa percepção de nós mesmos, dos outros, do mundo e de futuro.

Para entender como eles são formados, precisamos levar em conta que:

  • Ao longo do nosso desenvolvimento infantil e juvenil, temos algumas tarefas evolutivas a serem cumpridas, a partir do suprir de necessidades emocionais básicas (quadro 1);
  • A qualidade do apego que estabelecemos com nossos pais e/ou cuidadores primários interfere em como nos sentiremos e nos perceberemos nas relações outras que vamos construindo ao longo da vida, tendo estes primeiros vínculos como referência emocional, sensorial, cognitivo e comportamental (quadro 2);
  • Fatores genéticos (biológicos) e de contexto (familiar, social, cultural) contribuem para a estruturação dos esquemas.

ESQUEMAS ADAPTATIVOS

Os esquemas são considerados adaptativos quando, ao longo da nossa infância e adolescência, conseguimos estabelecer vínculos de apego seguro com nossos pais e/ou cuidadores, que nos fornecem progressivamente suprimento das 5 necessidades emocionais básicas, permitindo-nos desenvolver e cumprir tarefas evolutivas, conforme o quadro abaixo:

QUADRO 1: Tarefas Evolutivas. Fonte: REIS, B. Revisão Conceitos da Terapia do Esquema. Aula Especialização em Terapia do Esquema. CETCC. 2021

ESQUEMAS DESADAPTATIVOS

Por outro lado, estruturamos esquemas desadaptativos quando não conseguimos realizar uma ou mais destas tarefas evolutivas no nosso desenvolvimento infantil e juvenil, por ausência de 1 ou mais necessidades emocionais básicas, apego inseguro, evitativo ou ambivalente com os pais e/ou cuidadores, situações traumáticas (acidentes, adoecimentos, perdas, abandono, abusos, negligências, etc).

QUADRO 2: Tipos de Apego. Fonte: REIS, B. Revisão Conceitos da Terapia do Esquema. Aula Especialização em Terapia do Esquema. CETCC. 2021

Young e colaboradores, no livro “Terapia do esquema: guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras”(2008), afirmam ainda que “os esquemas desadaptativos remotos lutam para sobreviver. (…) isso resulta da necessidade instintiva que os seres humanos têm de coerência. O esquema é o que o indivíduo conhece. Embora cause sofrimento, é con­fortável e familiar, e ele se sente bem.”(Young, 2008, p.23).

Parece contraditório ler estas palavras do autor, mas se você parar por um instante e se conectar com padrões de comportamentos que você repete ao longo da sua vida, poderá entender na prática como os esquemas buscam se perpetuar. Observe sua zona de conforto e note que ela não necessariamente é gostosa ou agradável, mas por esta necessidade de coerência, você pode permanecer nela por muito tempo, anos, seja por desconhecer outras formas de pensar, sentir, agir ou lidar com a situação, seja por entender ser uma estratégia de enfrentamento para sua sobrevivência e/ou proteção (evitar/fugir, atacar/lutar ou resignar-se / paralisar).

QUADRO 3: NEB`s x Esquemas x Estratégias de Enfrentamento. Fonte: REIS, B. Revisão Conceitos da Terapia do Esquema. Aula Especialização em Terapia do Esquema. CETCC. 2021

Sendo assim, a terapia entra como importante estratégia para aprofundar este autoconhecimento e desenvolver estratégias novas de enfrentamento. A terapia do esquema auxilia você a:

  • Identificar padrões disfuncionais de pensamentos, comportamentos e emoções associados aos esquemas iniciais desadaptativos estruturados na sua jornada de vida;
  • Qual ou quais destes esquemas impactam na sua vida de hoje gerando sofrimento e comprometimento de diferentes dimensões da sua vida e relacionamentos;
  • Reconhecer qual ou quais necessidades emocionais básicas faltaram para você nas suas experiências e memórias;
  • Aprender a reconhecer a cada situação quais necessidades emocionais básicas hoje necessita e como nutrir elas de forma saudável e adaptativas nos diferentes relacionamentos;
  • Aprender a confrontar, questionar os esquemas, avaliar suas vantagens e desvantagens em continuar com eles ativados e melhorar seu diálogo interno;
  • Aprender novas estratégias de enfrentamento mais saudáveis e adaptativas que permitam você ser de forma autêntica, integral, viver de forma plena, saudável e realizar suas ideias, sonhos e projetos que deseja.

Para saber mais e aprofundar este tema, confira estas referências utilizadas na construção deste artigo:

YOUNG, J. E. Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: uma abordagem focada no esquema. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

LEAHY, R. L. Técnicas de Terapia Cognitiva: Manual do Terapeuta. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2018

TERAPIA DO ESQUEMA: o que é?

TERAPIA DO ESQUEMA: o que é?

A Terapia do Esquema é uma abordagem em psicoterapia que surgiu como expansão da terapia cognitivo comportamental. Isso se deu quando o psicólogo americano Jeffrey Young notou que a TCC tradicional se deparava com alguns limites frente a uma série de comportamentos, cognições e experiências emocionais que os pacientes apresentavam cristalizados ao longo de toda a vida. Na sua prática clínica e estudos com outros colegas (Young, 1990, 1999), ele observou que os diversos protocolos desta abordagem não davam conta de atender todas as necessidades e peculiaridades dos seus pacientes e que o processo terapêutico focado em curto prazo (16 a 20 sessões) necessitava de adaptações e inclusões de outras técnicas.

Os pontos que ele reconheceu como limitantes no trabalho com a TCC tradicional foram:

  • Transtornos de personalidade: padrões rígidos, inflexíveis e duradouros na forma de pensar, sentir, agir e se relacionar dos pacientes;
  • Distorções rígidas e persistentes na tríade cognitiva (percepção distorcida de si, dos outros, do mundo e de futuro ao longo da vida);
  • Prejuízos muito significativos nas relações interpessoais;
  • Estratégias de enfrentamento não assertivas e recorrentes dos pacientes com pouca ou nenhuma flexibilidade para a mudança;
  • Evitação de emoções, pensamentos, memórias de forma persistente;
  • Medo intenso (consciente ou inconsciente) de não suportar a dor de entrar em contato com conteúdos importantes ao processo;
  • Pacientes com relatos de problemas vagos, difusos, difíceis de definir, por muitas vezes só conseguiam perceber um mal estar geral, frequente, constante, mas sem conseguir identificar gatilhos desencadeantes específicos.

Young também observou que muitos destes pacientes apresentavam, em suas histórias de vida, experiências de negligência, abandono, abuso, privação emocional ou mesmo presenciaram situações violentas que poderiam inclui-los ou envolver outras pessoas. Estas situações poderiam acontecer de forma pontual e potente (traumas) ou recorrentes (estresse crônico), gerando impactos significativos em como estes pacientes percebiam e experienciam eventos similares posteriores, apresentando respostas emocionais, fisiológicas e comportamentais intensas ou mesmo incongruentes com estas situações.

A partir daí, este autor estruturou a terapia do esquema como uma abordagem integrativa, ou seja, promovendo expansão na abordagem da TCC e inclusão de técnicas de diferentes referenciais teóricos:

  • Psicodinâmica (psicanálise): olhar minuncioso para a história de vida do paciente, especialmente infância, adolescência, relações parentais e outros cuidadores, bem como contextos de desenvolvimento;
  • Gestalterapia: incluindo o trabalho com técnicas vivenciais;
  • Terapia cognitivo comportamental (TCC): inclusão de técnicas cognitivas e comportamentais para promover flexibilização e mudança e técnicas de regulação emocional;
  • Teoria do apego (Bowlby)e relações objetais (Klien, Winnicott): buscando compreender os vínculos iniciais estabelecidos (ou não) entre paciente e cuidadores, o impacto no comportamento, experiência emocional e suas outras relações
  • Terapia focada nas emoções (TFE): incluindo técnicas de ativação emocional, focalização, aprendizado e mudança a partir das emoções.

Esta abordagem de psicoterapia é especialmente recomendada para pessoas com transtornos crônicos psicológicos, transtornos de personalidade, transtornos de humor (depressão, bipolaridade), transtornos de ansiedade (TAG, TOC, Fobia Social, Pânico, Fobias Específicas), transtornos alimentares e transtorno por uso de substâncias (alcoolismo, tabagismo, drogadição). Ela foca no tratamento dos aspectos caracteriológicos dos transtornos e não somente na remissão de sintomas agudos psiquiátricos, sendo um processo terapêutico de médio ou longo prazo (mais do que 20 sessões).

O ponto de partida de trabalho nesta abordagem integrativa é compreender como se deu a estruturação dos esquemas iniciais desadaptativos na infância e adolescência do indivíduo, a partir da sua relação com seus cuidadores e com o seu contexto de desenvolvimento, quais necessidades emocionais não foram atendidas e quais impactos destes EID’s no contexto de vida atual do paciente.

É um processo terapêutico colaborativo entre paciente e terapeuta, que progressivamente vão identificando problemas crônicos organizando-os e localizando-os ao longo da história de vida do indivíduo, enfatizando especialmente como eles se apresentam nos seus relacionamentos interpessoais, escolhas, tomadas de decisões, quais estratégias foram estruturadas por ele para sobreviver, conviver, lidar e/ou evitar tais problemas e impactos gerados na sua vida.

Esta terapia focaliza na relação terapêutica, nas dimensões cognitivo, experiencial, emocional e comportamental. Tem por objetivo mudar a forma de encarar, interpretar e reagir aos estímulos, mudar como o paciente se relaciona consigo mesmo e com outras pessoas. Auxilia o indivíduo a modificar suas percepções acerca dos seus relacionamentos, do mundo e de futuro, a processar emoções e conexões com eventos traumáticos, bem como estruturar estratégias de enfrentamentos mais saudáveis e adaptativas.

Para saber mais e aprofundar este tema, confira estas referências utilizadas na construção deste artigo:

YOUNG, J. E. Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: uma abordagem focada no esquema. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

A Terapia do Esquema é uma abordagem integrativa em psicoterapia, estruturada pelo psicólogo americano Jeffrey Young, a partir de casos mais complexos e de difícil manejo, especialmente os transtornos de personalidade. Ele percebeu em sua prática clínica e estudos que os protocolos da terapia cognitivo comportamental tradicional não davam conta de atender todas as necessidades e peculiaridades dos seus pacientes. A partir daí, propôs uma extensão na abordagem da TCC e integração de técnicas de diferentes referenciais teóricos: da psicodinâmica (psicanálise), da gestalterapia (técnicas vivenciais), da terapia cognitivo comportamental (TCC), teoria do apego (Bowlby) e da terapia focada nas emoções (TFE).

O ponto de partida de trabalho nesta abordagem é compreender como se deu a estruturação dos esquemas iniciais desadaptativos na infância e adolescência, a partir da relação do indivíduo com seus cuidados e com o seu contexto de desenvolvimento, quais necessidades emocionais não foram atendidas e qual impactos destes EID’s no contexto de vida atual do paciente;

Tem por objetivo mudar a forma de encarar, interpretar e reagir aos estímulos, a partir das situações vivenciadas e relacionamentos, processar emoções e relações com eventos traumáticos, bem como estruturar estratégias de enfrentamentos mais adaptativas.

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA

A relação terapêutica trata-se da relação terapeuta e paciente estabelecida no setting terapêutica. Mas na terapia do esquema, ela é encarada como uma técnica importantíssima e fundamental em todo o processo terapêutico. YOUNG (2008), afirma que “o terapeuta do esquema considera a relação terapêutica vital para avaliação e mudança de esquemas”, pois é nesta relação que o paciente trará e expressará com o terapeuta quem ele é no mundo, como se percebe, como percebe as outras pessoas, como pensa, sente, age e como se relaciona.

Num primeiro momento, e assim como acontece em outras abordagens em psicoterapia, o terapeuta está focado em estabelecer sintonia, conexão com o paciente, em promover um espaço seguro, receptivo, de acolhimento, sem julgamento, para que este se sinta à vontade para trazer suas questões, dificuldades e dilemas, progressivamente vincule-se com o terapeuta e entre de fato em terapia.

Na fase de avaliação, a relação terapêutica se mostra como poderosa ferramenta para reconhecimento de esquemas emocionais ativados do paciente, agregando informações vitais ao processo avaliativo, feito não somente por técnicas estruturadas (questionários dos esquemas, estilos parentais, estilos de enfrentamento, imagens mentais). Assim, ao longo desta etapa, o terapeuta está focado em identificar os esquemas ativados do paciente a partir do que ele trás nas sessões, quais estilos de enfrentamento ele vem colocando em prática até o momento, quais necessidades emocionais estão ausentes e não foram supridas e como tudo isto impacta na sua vida atual.

Neste sentido, a relação terapêutica servirá como espaço de reparação parental limitada, oferecendo as necessidades emocionais básicas de forma limitada ao paciente, bem como espaço experimental de aprendizado de novas estratégias de enfrentamento, mais saudáveis, mais adaptativas.

YOUNG (2008) também afirma que “os terapeutas do esquema são pessoais na maneira de se relacionar com os pacientes, em vez de distantes. Tentam não parecer perfeitos, nem conhecedores de algo que ocultam do paciente. Deixam que suas personalidades naturais transpareçam, compartilham respostas emocionais que acreditam ter um efeito positivo sobre o paciente, expõem-se quando isso auxilia o paciente e visam a uma postura de objetividade e compaixão.”

No processo terapêutico, o terapeuta utiliza suas emoções, esquemas e vivências a favor do processo do paciente, ou seja, mostra-se como de fato ele é, espontaneamente. Estimula o paciente a falar como se sente nesta relação, bem como fornecer feedbacks a respeito do terapeuta, como estratégia de auxiliar o cliente na sua autopercepção, comunicação e expressão das suas necessidades emocionais e vulnerabilidades. É também esta relação espaço para exercício da empatia, escuta ativa e compaixão por parte do terapeuta, de forma a reconhecer o que de fato o paciente necessita e entender a situação a partir do ponto de vista dele.

O terapeuta utiliza a técnica do confronto empático para provocar o cliente a acessar seus esquemas e entender seu funcionamento, provocando-o a encontrar formas alternativas e mais adaptativas frente às suas necessidades e desafios. Utiliza-se ainda da autorrevelação quando oportuna ao aprofundamento da reflexão do cliente, quebrando o mito do psicólogo como sujeito detentor de um saber diferenciado,  articulando no setting terapêutico seus esquemas, emoções e experiências como ferramentas na ampliação de repertório emocional e comportamental do paciente, e  contribuindo para que este encontre em si mesmo, fortaleça e promova seus aspectos saudáveis.

Para saber mais sobre o assunto, seguem algumas sugestões de conteúdo:

Entrevista com Jeffrey Young: https://www.youtube.com/watch?v=brIWqbjuMj8

Livro “Reinvente sua vida” (Jeffrey Young): https://www.sinopsyseditora.com.br/livros/reinvente-sua-vida-1648

http://www.tfebrasil.com.br/psicoterapia_esquema.asp

Referência Bibliográfica:

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

O poder do PERDÃO

O poder do PERDÃO

Perdoar diz respeito à remissão de culpa, livrar-se de um arrependimento, erro, falha, ofensa que alguém tenha cometido, ou seja, você pode ter falhado com alguém, ou uma pessoa pode ter traído, desrespeitado você, ou mesmo você decepcionou a si mesmo. O perdão acontece quando dores e angústias relacionadas à situação experienciada são superadas pelos envolvidos.

Segundo o neurocientista Pedro Calabrez, o perdão não é sinônimo de simplesmente esquecer uma situação, acreditando que não terá mais registros daquela memória, que é possível deletá-la do seu cérebro. Não diz respeito ao outro, mas sim da nossa capacidade de seguir em frente. Envolve compreender, reconhecer que houve um sofrimento a partir do acontecimento e aceitação do que houve. Envolve escolhas do que você fará a com o que aconteceu para virar a página da vida e levar os aprendizados que a situação gerou

Trata-se, assim, de um processo de cura de uma ferida emocional que promoveu mal estar psicoemocional. Este processo leva tempo para ser superado, assim como uma cicatriz e recuperação de uma dor física, e por este motivo exige respeito a este tempo.

Por essa definição, podemos entender que perdoar tem um poder de libertar, liberar-se emocionalmente de mágoas, sentimentos negativos, angústias, raiva, ressentimentos, entre outras questões emocionais que envolvam frustração, o aspecto punitivo, crítico, ou julgamento (moral ou ético).

A intensidade destas experiências (emoções e sentimentos) e a duração de permanência delas vivas em nós varia a depender do quanto nos afetamos e do como experienciamos estes acontecimentos, emoções envolvidas e processos avaliativos.

Perdoar alguém

Muitas vezes, passamos por situações difíceis por alguém ter feito ou dito algo para nós que nos levou a sentir decepção, frustração, raiva, tristeza ou mágoa. Estas experiências emocionais revelam algo sobre nós: como nos sentimos. Se fomos desrespeitados em algum direito, se alguma necessidade emocional não foi atendida,  se fomos injustiçados, maltratados, negligenciados, trapaceados, discriminados, ignorados, excluídos, prejudicados a partir da ação ou fala do outro, ou mesmo a partir de um acontecimento.

Ou seja, para perdoar, é preciso tomar consciência e reconhecer quais necessidades emocionais e direitos foram desrespeitados e o que será feito daqui para frente para ressignificar esta relação de forma saudável, diferente, respeitando as necessidades e direitos de ambos, e seguir em frente na jornada levando estes aprendizados positivos, permitindo-se se abrir para novas experiências.

Perdoar a si

Quando falamos de perdoar a si mesmo, falamos de autoperdão. Perdoar-se significa então libertar-se de culpas e arrependimentos que você sinta por algo que tenha feito a si mesmo ou a outra(s) pessoa(s) e que tenha entendido não ter sido a melhor solução, escolha, decisão, não ter sido justo, respeitoso, ou mesmo ter machucado, magoado ou ultrapassado os limites consigo mesmo ou com alguém.

Esta ação é super importante como estratégia de cura e liberação emocional, porque quando não nos perdoamos ficamos presos às situações passadas, que não temos mais poder de ação de modificá-las, já que não é possível mudar o passado.

A pessoa que não exercita o perdão permanece ruminando pensamentos relacionados à situação, normalmente com pensamentos que recriam o cenário buscando outros desfechos, mas que emocionalmente leva à reatualização constante das emoções desagradáveis, da mágoa, arrependimento e culpas envolvidas na situação. O corpo revivencia toda a avalanche emocional a cada vez que se volta àquela situação. Este movimento psíquico e emocional contribui para potencializar quadros de ansiedade e mesmo de depressão, por este aprisionamento autoimposto pelo sujeito em situações passadas.

Assim, o autoperdão é este movimento de liberação emocional, de libertar-se das culpas e arrependimentos que surgiram em situações difíceis que pertencem ao passado e buscar novos sentidos a partir do que aconteceu. Perdoar-se é entender, compreender que houve uma dor, um sofrimento pelo que você fez, mas também incluir que você foi o que poderia ter sido naquele momento, que também é tão humano quanto outras pessoas, passível de erros, falhas. É aceitar que, além de forças pessoais, também tem fraquezas, vulnerabilidades, e que pode seguir em frente e fazer diferente, ressignificar relações a partir das experiências vividas.

Considerações finais

É importante lembrar que faz parte da condição humana o aspecto da imperfeição, e isso envolve ter consciência de que estamos sujeitos a cometer falhas, imprudências, prejuízos, perdas, tanto no aspecto material como subjetivo.

Somos humanos e por assim sermos, estamos sujeitos a tomar decisões não assertivas, escolher caminhos com consequências desagradáveis ou de alto impacto, enfim, podemos falhar em algum momento da nossa caminhada, assim como o outro pode vir a nos decepcionar de alguma forma, pelo fato de ser tão humano quanto nós, estar nesta mesma condição e sob os mesmos direitos universais.

O fato é que aprendemos com todas as experiências que vivemos, erros e acertos. Sabemos que falhamos ou que fomos bem sucedidos numa ação, numa escolha, a depender das consequências envolvidas.

É importante reconhecermos nossas responsabilidades diante delas, fazer o que precisa ser feito, ajustar as melhorias possíveis, mas também levar em conta que somos o que podemos ser a cada momento.

Não perdoar alguém, assim como não perdoar a si mesmo, envolve permanecer na dor, no julgamento, na tensão, na ansiedade, na dura crítica ou mesmo na punição. Esta é uma escolha que faz a pessoa paralisar, ficar presa ao passado, ao que poderia ter sido, e, consequentemente, ter dificuldades para seguir em frente, para se permitir fazer diferente em outras e novas situações.

Perdoar, assim, é necessário para libertar a si mesmo e o outro de dores, ressentimentos, de histórias passadas para seguir em frente. É permitir-se acolher e aceitar as vulnerabilidades, entendendo que elas fazem parte da nossa condição humana, existencial. É se abrir para novas oportunidades, aprendizados, novos sentidos, ressignificar. É praticar a melhoria contínua na arte de ser, viver, relacionar, agir, realizar.

Para saber mais: https://www.youtube.com/watch?v=JH5X4vUMkCg

Santiago, Adriana – O Poder Terapêutico do Perdão. Teoria, Prática e Aplicabilidade do Perdão com Base Científica na Psicologia Positiva. Ed Sinopsys

ATENDIMENTO ONLINE: principais pontos de adaptação dos profissionais

ATENDIMENTO ONLINE: principais pontos de adaptação dos profissionais

Em meio ao contexto de pandemia do coronavírus, o atendimento psicológico online se tornou realidade para terapeutas e clientes, como uma estratégia de assegurar o distanciamento social preventivo contra o contágio do COVID-19 e dar seguimento nos processos de psicoterapia.

Além disso, muitas pessoas que antes não faziam terapia, por conta do contexto pandêmico, entraram em contato com diversas emoções, questões existenciais, assim como o desafio de viver temporariamente, mas sem prazo, em confinamento, seja sozinho, seja com seus familiares,  deparando-se com conflitos até então não existentes ou que foram potencializados neste momento. Isto tem levado cada vez mais pessoas buscar psicólogos para fazer terapia online como estratégia de saúde mental, promoção de bem estar, qualidade de vida e gestão de conflitos.

DESAFIOS

O fato é que a maior parte dos psicólogos não atendiam online até então, e neste momento foram inclusive orientados pelo CPF (Conselho Regional de Psicologia), em virtude da portaria n°639/2020 do Ministério da Saúde de 31/03/2020, a fazerem os atendimentos online, seguindo os critérios da resolução CFP N°11/2018,  que estabelece regras para o atendimento psicológico mediado por tecnologia.

Daí que uma série de desafios para adaptação dos terapeutas e pacientes se deram a partir desta realidade e aqui vamos listar alguns principais pontos de adaptação para os profissionais:

  1. Cadastro E-PSI: ainda que neste período de pandemia o CFP tenha flexibilizado a obrigatoriedade do cadastro do profissional na plataforma e-psi para monitoramento e fiscalização, é fundamental psicólogos deixarem seu cadastro em dia, já que não temos previsão de quando nem como será o contexto de atendimentos pós quarentena;
  2. Assegurar o sigilo: estamos trabalhando nos atendimentos online, mas continuamos seguindo o código de ética da nossa profissão. É fundamental garantir o sigilo, confidencialidade e proteção das informações do paciente, assim como fazíamos nos atendimentos presenciais. Muito importante que o psicólogo não compartilhe seu computador e outros dispositivos com terceiros, continue gerando pronturários e seguindo protocolos das suas respectivas abordagens, assim como esclarecer clientes sobre seus recursos tecnológicos a serem utilizados para garantir tal segurança de sigilo dos dados;
  3. Setting Terapêutico: isto diz respeito ao ambiente físico e subjetivo da escuta terapêutica. Antes o setting era presencial, com recursos e ferramentas de intervenção presenciais, e que agora precisam ser adaptados pelo terapeuta para assegurar eficácia do seu atendimento. Muito importante ter um espaço privativo reservado aos atendimentos, assim como orientar os clientes também neste sentido: buscar espaço sem interrupções, sem distrações, que se sinta plenamente à vontade para falar sobre suas questões. Se você psicólogo tiver possibilidade de manter alguns elementos do setting presencial no seu setting online de atendimento, ajudará no sentimento de conforto e segurança para o seu paciente;
  4. Campo de Visão: Outro ponto que se perde no atendimento online é a visão em 3D, a presença efetiva do outro, perceber as reações fisiológicas (olhar, temperatura, cheiro, sudorese, velocidade da respiração, agitação motora, e outras informações não verbais e corporais). Sendo assim, vale investir num ambiente privativo sem outros estímulos, que permita escuta ativa, diretiva, e atenta ao que é sinalizado pelo cliente na tela do dispositivo utilizado. Como o campo visual fica ainda mais restrito, preste bastante atenção tanto na sua expressão verbal e não verbal como na do seu cliente;
  5. Agenda: apesar de estar em casa, é preciso manter a mesma rotina de dias/horários marcados, tempo de sessão. Isto contribui para o senso de rotina, mantendo as mesmas regras de funcionamento do presencial no formato remoto. Isto ajuda a diminuir o senso de incerteza e instabilidade;
  6. Qualidade dos dispositivos e conexão: este é um desafio tanto para psicólogos quanto para os clientes. Quanto melhor o sinal e a velocidade de transmissão de dados da internet disponível, mais estável e sem interrupções de conectividade será o atendimento, contribuindo para manter o fluxo do atendimento sem interrupções de ordem técnica. Importante também combinar e orientar o paciente qual ferramenta ele melhor se adapta, como utilizar, como assegurar seu sigilo e privacidade;
  7. Atendimento a crianças: são ainda mais desafiante para o terapeuta, além de exigir o consentimento expresso dos responsáveis legais delas. Além disso, a depender da idade da criança, a participação de pelo menos 1 dos cuidadores pode ser essencial para que a sessão aconteça.
  8. Cuidar de si para cuidar dos outros: é bem importante estar a tento que nós terapeutas estamos vivenciando o mesmo contexto pandêmico que nossos clientes. Somos humanos e também temos nossas vulnerabilidades. Então é fundamental que você procure colocar em prática estratégias de autocuidado e saúde integral, não superlotar sua agenda de atendimentos online, colocar intervalos entre os clientes para fazer pausas e ter tempo de recuperação de um cliente para outro. Procure manter uma rede de apoio e troca ativa com seus colegas, compartilhar ferramentas e técnicas que sejam úteis para todos, pedir ajuda a colegas de sua confiança, fazer terapia, fazer supervisão.

São muitos desafios para nós psicólogos em assegurar para o cliente uma sessão de qualidade e eficácia terapêutica. Porém, diante do contexto, é muito melhor assegurar os atendimentos ainda que de forma remota e adaptada, do que suspendê-los. Estamos num contexto de muitas incertezas, riscos reais, e que provocam inúmeras emoções e sentimentos como o desamparo.

Para o paciente, saber que pode contar com seu terapeuta ao longo deste processo e ter a possibilidade de fazer suas sessões online, fará toda a diferença no sentir-se amparado, apoiado, acolhido, com escuta ativa e poderá pensar e praticar as estratégias de promoção de bem estar e qualidade de vida que estiver ao seu alcance.

Para saber mais:

http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-639-de-31-de-marco-de-2020-250847738

Resolução CFP Nº 11/2018

https://br.noticias.yahoo.com/terapia-%C3%A0-dist%C3%A2ncia-psic%C3%B3logos-e-073012246.html

https://blogdodunker.blogosfera.uol.com.br/2020/03/27/sofrimento-como-ter-atendimento-psicologico-online-em-epoca-de-coronavirus/