SAÚDE MENTAL E BEM-ESTAR: as contribuições da Terapia dos Esquemas

SAÚDE MENTAL E BEM-ESTAR: as contribuições da Terapia dos Esquemas

O que você tem feito por você ultimamente? Como tem cuidado da sua saúde mental e bem-estar? Sabia que a terapia dos esquemas é uma abordagem que oferece múltiplas ferramentas de autoconhecimento, autocuidado, promoção de saúde e qualidade de vida? Pois bem, vamos falar sobre as contribuições da terapia dos esquemas para uma vida mais saúdável, com mais bem-estar e sentido.

Como você já deve ter lido noutros artigos aqui do blog a respeito da terapia dos esquemas, esta é uma abordagem integrativa em psicoterapia, ou seja, que foi estruturada reunindo referenciais teóricos de diferentes linhas da psicologia, a saber:

  • Psicodinâmica (Psicanálise)
  • Teoria do Apego
  • Gestalt
  • Terapia Cognitivo Comportamental
  • Terapia focada na Emoção
  • Psicologia Positiva
  • Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)

Dentre as contribuições que a TE oferece, a partir deste conjunto de abordagens terapêuticas que a integram, temos as seguintes técnicas e estratégias na promoção de saúde e bem estar:

  • NECESSIDADES EMOCIONAIS BÁSICAS: aprender a reconhecer quais necessidades emocionais básicas foram e/ou estão ausentes ou pouco nutridas a partir da nossa história de vida e relações. Como é possível buscar atender nossas necessidades emocionais de forma saudável e assertiva;
  • RELAÇÃO TERAPÊUTICA: que é a relação entre paciente e terapeuta. Esta relação está à serviço do processo de cura e mudança do indivíduo, uma vez que nela são reproduzidos comportamentos e padrões disfuncionais que ele realiza nas suas outras relações, sendo esta relação espaço de aprendizado, reparação, mudança e treino de novos padrões saudáveis a serem levados para a vida;
  • ESQUEMAS EMOCIONAIS: aprender a reconhecer qual ou quais esquemas se mostram ativados nos diferentes momentos de vida e situações, tendo consciência de como eles interferem na percepção de si mesmo, dos outros, do mundo, emoções, cognições e comportamentos. Quanto maior o autoconhecimento a respeito dos seus esquemas, mais o indvíduo passa a reconhecer quando seus padrões disfuncionais entram em ação, a partir de qual ou quais gatilhos, e promover ações diferentes buscando estratégias de enfrentamento mais saudáveis e assertivas;
  • TÉCNICAS VIVENCIAIS: elas contribuem diretamente na mudança de padrões emocionais, ou seja, promovendo transformação na relação do paciente com eventos traumáticos, entendimento de suas necessidades emocionais faltantes, expressão de emoções e falas reprimidas, bem como ressignificação de relações e momentos críticos de vida a partir do sentir;
  • TÉCNICAS COGNITIVAS: auxiliam na identificação de distorções cognitivas, o impacto delas nas emoções e comportamentos, avaliar vantagens e desvantagens das crenças, o quanto elas limitam ou impulsionam para ação. Elas também contribuem na mudança de mindset trabalhando a flexibilização e ressignicação cognitiva para ampliar o repertório com pensamentos mais assertivos e saudáveis;
  • TÉCNICAS COMPORTAMENTAIS: convidam o indivíduo a entrar em ação, entendendo que com ações diferentes ele terá novos fatos, novas experiências, que impactarão no sentir e na reflexão a seu próprio respeito e dos outros. As técnicas comportamentais geram espaço de desenvolvimento de novos estilos de enfrentamento, aprendizado de comportamentos mais funcionais, adaptativos e saudáveis e também ampliar o repertório emocional e comportamental para viver com maior bem estar e qualidade de vida;
  • PSICOLOGIA POSITIVA: trás o olhar para a salutogênese, ou seja, para que a pessoa foque na sua promoção de saúde integral, bem estar, qualidade de vida, viver com sentido e priorizando colocar em prática suas forças pessoais e valores como norteadores de escolhas e ações;
  • ACEITAÇÃO E COMPROMISSO: técnicas que provocam o paciente a avaliar o quanto vale a pena resistir à mudança, ou fixar-se em alguns padrões emocionais, relacionais e comportamentais disfuncionais. São técnicas que convidam o indivíduo a olhar para si, para os outros, relações e situações buscando aceitar como de fato se apresentam. Ao aceitar a si mesmo, as coisas e pessoas como de fato são e se mostram, com virtudes e vulnerabilidades, incertezas e imprevistos, ajuda na tomada de consciência do que faz bem, do que não faz, do que gera sofrimento e assumir o compromisso do que está disposto a fazer dali para frente para viver melhor, com sentido, em paz, com equilíbrio, harmonia, saúde, bem-estar, agindo naquilo que de fato está ao seu alcance e poder de ação de transformar.

Como você pode pôde rapidamente nesta leitura ver, são múltiplas as estratégias e contribuições que a terapia do esquema apresenta para promover saúde mental, qualidade nas relações, regulação emocional, aprendizado de habilidades, fazer melhores escolhas, resolução de problemas, tomada de decisão e mudanças em padrões emocionais, relacionais e comportamentais de longas datas.

Por se tratar de uma abordagem integrativa, o objetivo maior é que a pessoa viva plenamente a sua vida, de forma autêntica, seja quem de fato ela é, esteja bem com suas escolhas, assuma responsabilidades, viva com autonomia, independência, construa e nutra relacionamentos saudáveis consigo mesmo, com os outros, trabalhos, diferentes grupos e contextos. Enfim, que ela viva com sentido, colocando em prática seus valores, suas forças pessoais e desenvolva a capacidade de autorregular-se diante dos desafios, mas também de buscar ajuda quando sentir que sozinha não consegue superá-los. A terapia do esquema convida o indíviduo a tomar consciência de que mais importante do que o que aconteceu e fizeram com ele é o que ele escolhe fazer com tudo isso e daqui por diante para viver com sentido, saúde integral, qualidade e vida e bem estar.

Para saber mais a respeito da Terapia dos Esquemas, confira os links abaixo:

TERAPIA DO ESQUEMA: o que é?

O que são ESQUEMAS?

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

AVALIAÇÃO DOS ESQUEMAS: como acontece?

TERAPIA DA ACEITAÇÃO E COMPROMISSO

TIPOS DE APEGO

 

 

Esquema de EMARANHAMENTO: características

Esquema de EMARANHAMENTO: características

O esquema emocional de emaranhamento é um dos 18 esquemas mapeados pelo psicólogo Jeffrey Young (2008) dentro da abordagem da terapia dos esquemas. Este esquema é parte do domínio Senso de Autonomia e Competência, ou seja, em que a necessidade emocional básica de autonomia e independência mostrou-se ausente ou prejudicado no desenvolvimento do indivíduo.

Isso pode ter se dado por diferentes motivos ao longo do desenvolvimento da criança na relação com seus pais e tendo eles como primeiros fornecedores de suas necessidades emocionais básicas.

Um exemplo disso são situações em que pais ou primeiros cuidadores, por excesso de zelo e superproteção, terminam por fazer e/ou decidir tudo pela criança. Este comportamento parental, de forma recorrente e continuada, acaba tirando da criança e do adolescente a oportunidade de explorar o ambiente, experimentar fazer as coisas por conta própria, desenvolver habilidades, descobrir interesses, inclinações próprias e talentos, aprender com eventuais falhas e desenvolver senso de identidade, autonomia e independência.

Há casos de pessoas que não desenvolveram este senso de self independente por conta de figuras parentais abusivas, opressoras, dominadores, controladoras em excesso, que podem ter isolado ou privado a criança e/ou adolescente de ampliar sua rede de relacionamento e desenvolvimento de habilidades, restringindo seu aprendizado ao contexto familiar por longos anos. Como consequência, estes indivíduos somente conhecem como certo, verdadeiro, como realidade, crenças, valores e comportamentos provenientes do seus pais, desenvolvendo uma autopercepção de incompetentes e/ou incapazes de tomarem decisões , fazerem escolhas e resolverem problemas sozinhos, dependendo excessivamente dos seus pais para se colocarem no mundo.

CARACTERÍSTICAS

Pessoas que apresentam este esquema emocional ativado costumam apresentar algumas características como:

  • Sensação de estar fundidos, emaranhados, com outras figuras próximas que podem ser parceiros, pais, amigos ou outros vínculos de importância;
  • Dificuldades de reconhecerem gostos, preferências, desejos e vontades próprias, assimilando como seus os interesses e opiniões dos outros de forma consciente ou inconsciente;
  • Self subdesenvolvido, ou seja, uma identidade não contruída ou não fortalecida, com dificuldade de reconhecer-se como indivíduo, a parte e/ou independente de pessoas que para elas são importantes;
  • Podem se sentir invadidas ou asfixiadas pela constante presença e interferência do outro em suas escolhas, decisões, rotina;
  • Podem se sentir frágeis, vulneráveis, incapazes de tomar decisões sozinhas com dificuldades de fazer escolhas, resolverem problemas e entrarem em ação;
  • Sensação de vazio constante por não conseguirem se reconhecer como identidade, não terem clareza de seus interesses, gostos, preferências, habilidades, talentos e inclinações naturais;
  • Podem evitar situações de tomada de decisão, de mudança, ou fazer escolhas baseadas no que outros acreditam ser importantes ou certo para elas, evitar conflitos, estabelecer ou fortalecer a dependência emocional em relação aos outros;
  • Inibição de opiniões, emoções, sentimentos, posicionamentos, falta de espontaneidade, por falta de clareza do que de fato é próprio ou por não saberem como agir;
  • Podem copiar comportamentos daqueles aos quais se encontram emaranhadas;
  • Podem sentir culpa ou senso de incapacidade de viver de forma autônoma e independente. (YOUNG, 2008, pág. 204-206)

A terapia do esquema é uma estratégia chave no tratamento deste esquema emocional, auxiliando a pessoa na tomada de consciência de seu esquema em funcionamento e suas estratégias de enfrentamento (evitativas, hipercompensatórias e de resignação). Permite trabalhar tanto no nível cognitivo, emocional e comportamental para fortalecer seu senso de identidade, trabalhar o autoconhecimento de interesses, gostos, preferências de forma independente, desenvolvimento de habilidades sociais, entrar em contato com seus talentos, e aprender a viver de forma plena, autêntica, espontânea, com autonomia e independência em relação aos outros.

Para ampliar a reflexão, segue sugestão de conteúdo e título que serviu de referência para este artigo:

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

MITOS EMOCIONAIS

MITOS EMOCIONAIS

Os mitos emocionais são crenças a respeito das emoções e que aprendemos ao longo do nosso desenvolvimento. São pensamentos a respeito do sentir que aprendemos a partir de contextos (família, cultura) e que assumimos como verdade, mas que geram impactos negativos na nossa experiência emocional.

Normalmente, os mitos emocionais envolvem pensamentos distorcidos (distorções cognitivas) a respeito das emoções. E costumamos entrar em contato com eles quando crescemos e nos encontramos em ambientes invalidantes, ou seja, contextos que entendem ser errado e/ou proibido o entrar em contato com as emoções, gerando em nós comportamentos de evitar e/ou ignorar o sentir delas assim como expressá-las, entendendo ser elas não importantes. Ademais, se as pessoas parte deste ambiente invalidante ainda tem uma postura punitiva frente a elas, podemos aprender e entendê-las como inaceitáveis, contribuindo para a inibição emocional e impactando negativamente na nossa regulação emocional.

Um ponto importante é que aprendemos a nos regular emocionalmente a partir dos nossos modelos, referências, sendo as nossas primeiras referências os nossos pais e o contexto familiar. A forma como nossos pais reagem às próprias emoções e às nossas quando criança, aceitando, validando, ou, o contrário, chamando atenção de forma desqualificante ou mesmo punindo, influenciará na formação das nossas crenças a respeito delas e como devemos lidar com nossas emoções.

Por exemplo: se você foi tratado com reprovação por seus pais ao expressar raiva, tristeza, você pode ter aprendido que estas emoções são erradas ou inaceitáveis. Se você foi ignorado ao senti-las, você pode ter aprendido que elas não tem importância e devem ser ignoradas ou descartadas.

O fato é que aprendemos quando criança e levamos isto ao longo da nossa vida para outros contextos e relações, que também exercerão novas influências a respeito de como sentimos e expressamos (ou não) as emoções.

EXEMPLOS DE MITOS EMOCIONAIS

Para melhor ilustar tudo isso que hoje estamos falando, seguem alguns exemplos que você pode reconhecer também como seus:

  1. “Existe um jeito certo de sentir a cada situação” : Somos seres diferentes e podemos sentir e nos comportar de formas diferentes a partir de uma mesma situação. O importante é que a cada momento buscaremos administrar nossas emoções para encontrar formas mais assertivas de expressá-las e buscar ter nossas necessidades emocionais atendidas.
  2. “Se eu expresso e deixo os outros saberem como me sinto, serei visto como fraco(a).”: Estamos aqui diante de um julgamento a respeito de uma vulnerabilidade. Se nos sentimos frágeis, vulneráveis, com medo, com raiva ou outra emoção é como nos sentimos simplesmente, não uma questão de certo ou errado. E isto nos ajuda a identificar o que necessitamos a partir de cada situação. Mostrar como nossas vulnerabilidades nos permite receber a ajuda, apoio necessários, não é uma fraqueza, apenas se trata de nossa humanidade e que está tudo bem sermos assim.
  3. “Sentimentos negativos são ruins e destrutivos.”: mais uma vez, não existe emoção certa ou errada, simplesmente são como nos sentimos e cada uma das emoções exercem um papel, uma função e comunicam algo a nosso respeito. As emoções desagradáveis nos fazem parar, refletir sobre razões possíveis que contribuíram para assim nos sentirmos e, como consequeência, buscar acionar recursos para promover mudanças necessárias.
  4. “Ser emotivo é estar fora de controle, vão me chamar de louco(a).” : ser emotivo frente às situações não tem nada de errado, a questão é como isto acontece e como você dá vazão às suas emoções. Se você manifesta suas emoções sempre de forma explosiva ou se você simplesmente embota suas emoções, de um jeito ou de outro haverá custos emocionais e consequências. A ideia é que você identifique o que está sentido e possa aprender a expressar-se e regular-se de forma saudável.
  5. “Toda emoção dolorosa é resultado de uma má atitude.”: mais uma vez aqui está acontecendo um julgamento a respeito do sentir. Muitas emoções dolorosas não dependem de nós, por exemplo, quando nos sentimos tristes ao perder uma pessoa querida. Podemos sentir emoções desagradáveis a partir de como os outros agem conosco ou a partir de situações que fogem ao nosso controle.
  6. “Se os outros não aprovam como me sinto, então eu não deveria estar me sentido assim.”: mais uma vez, não é uma questão de certo ou errado, simplesmente como você se sente. E às vezes outras pessoas poderão não compreender suas razões, seja por falta de empatia, seja porque viveram outras referências contextuais e emocionais. Não é o outro que deve dizer a você como se sente nem o que deve fazer com as suas emoções, esta é uma experiência emocional sua e cabe a você isso. É sua a responsabilidade sobre suas emoções, como expressa e o que faz com elas.

Exercícios de focalização e meditação axiliam a entrar em contato com as emoções, observá-las, identificar o que está sentindo no momento, fortalecer sua regulação emocional e aprender a reconhecer o que necessita e a melhor forma de expressar e buscar atender suas necessidades a cada situação e interação.

As emoções tem processamento diferente das nossas cognições (racional) e isto nos leva a aprendizados ricos a nosso respeito e colocar em prática mudanças, transformações.

Para saber mais sobre o assunto, confira esta leitura, referência para este artigo:

LEAHY, Rober. L. Terapia do Esquema Emocional: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental.Tradução: Sandra Maria Mallmann da Rosa; revisão técnica: Ricardo Weiner. – Porto Alegre: Artemed, 2016.

TIPOS DE APEGO

TIPOS DE APEGO

Um dos referenciais teóricos importantíssimos dentro da abordagem da Terapia dos Esquemas é a teoria do Apego, proposta pelo médico psiquiatra infantil John Bolwby, na década de 1950, trazendo à luz da ciência contribuições acerca da origem dos vínculos afetivos. Ele e o pesquisador James Robertson, no ano de 1952, fizeram estudos de observações clínicas e filmagem com crianças de 2 e 3 anos, com foco em estudar o comportamento delas quando separadas de suas mães, sem substituição desta figura parental por outra estável. Neste experimento, Robertson identificou e mapeou as fases da separação (protesto, desespero, desapego), sendo que os resultados destes estudos geraram grande impacto na sociedade inglesa daquele período histórico.

Bolwby (1952) passou a levantar questões a respeito dos efeitos da privação materna na infância, como as crianças lidam com a perda, o luto e separação, e quais impactos destas experiências para o desenvolvimento delas e estruturação de personalidade patológica. A partir destas perguntas, este autor passou a aprofundar seus estudos em etologia a respeito do comportamento dos animais, deparando-se com estudos de outros autores como Konrad Lorenz (1935) sobre imprinting e Harry Harlow (1958) a respeito da separação materna com macacos Rhesus. Como influência de tais autores e destes achados, Bowlby identificou os seguintes pontos como chaves na estruturação da sua teoria do apego:

  • Sistemas comportamentais: potencial biológico que herdamos, fruto de adaptações evolutivas da espécie, e que favoreceram a sobrevivência no passado. Compostos de comportamentos rápidos e automáticos, mas que sofrem influências do meio e das experiências do sujeito (perspectiva evolutiva interacionista)
  • Homeostase Ambiental: potencial biológico + influência do meio + experiências do indivíduo geram modificações nos sistemas comportamentais visando a homeostase ambiental, ou seja, flexibilizando antigos e modelando novos comportamentos com foco em adaptar-se ao meio e sobrevivência;
  • Sistema de Apego: com função de gerar proteção, segurança e suprimento de necessidades para o indivíduo sobreviver, sendo decisivo na perpetuação da espécie.

Em síntese, os achados de Bolwby contribuíram para ele estruturar a teoria do apego, integrando conceitos da psicanálise, etologia, psicologia evolucionista, comportamental e cognitiva. Esta teoria explica como se originam o vínculo dos bebês com as mães e seus primeiros cuidadores e como o tipo de apego influenciará nos outros vínculos que o sujeito irá estruturar ao longo da sua jornada de vida com outros indivíduos.

Neste sentido, podemos entender a necessidade dos bebês em estabelecer vínculo com as mães e/ou cuidadores, por uma necessidade de sobrevivência que envolve tanto aspectos fisiológicos quanto emocionais (alimentação, cuidados, proteção, segurança) e que são chaves na sua sobrevivência, já que sozinho ele não teria condições de atender as próprias necessidades e sobreviver.

Como este vínculo é estruturado ao longo da infância impactará na construção de modelos mentais a respeito de si próprio, dos outros, do mundo, e contribuirá diretamente na formação da personalidade, regulação da percepção de mundo, dos sentimentos e dos comportamentos do indivíduo.

TIPOS DE APEGO

A estruturação do apego acontece num processo de 3 etapas:

  1. PRÉ-APEGO (0 a 6 semanas de vida): a criança demonstra orientação e sinalização para as pessoas à sua volta, ainda sem preferências, a partir de seu “equipamento biológico pré-programado” para buscar proximidade com os humanos que cuidam dela e ter suas necessidades satisfeitas;
  2. FORMAÇÃO DO APEGO (6 semanas a 6/8 meses de vida): a criança começa a apresentar preferências por figuras familiares, mas sem recusar estranhos ainda. Vocaliza e chora de formas diferentes a depender da proximidade da mãe/cuidador primário;
  3. APEGO DEFINIDO (6/8 meses a 18 meses de vida): o bebê busca ativamente presença e proximidade da(s) figura(s) de apego a partir da sua locomoção, sinalização, choro, evidenciando ansiedade de separação, busca de segurança, proteção e maior reciprocidade esta(s) figura(s).

Os tipos de apego foram mapeados pela psicóloga Canadense Mary Ainsworth (1970), a partir do seu experimento “Estudo psicológico da situação estranha” (AINSWORTH, 1970), realizado por ela com crianças de 12 a 18 meses, observando as reações que elas apresentavam ao serem separadas de suas mães, bem como ao reencontro delas, tendo ou não a presença de uma outra pessoa estranha a elas. A partir dos resultados deste experimento, Ainsworth estruturou 4 tipos de apego:

  1. APEGO SEGURO: a mãe ou outra figura de apego primária responde rapidamente ao choro da criança, é sensível às suas necessidades, cuida, conforta, acalma, oferece carinho, segurança, proteção e é disponível. A criança demonstra interesse pelo cuidador, busca sua presença e proximidade quando necessita, sente-se capaz de explorar o ambiente desde que o adulto não se afaste por longos períodos, e tolera estranhos, mas só expressa confiança pela figura de apego;
  2. APEGO INSEGURO ANSIOSO/AMBIVALENTE: ambiente e/ou cuidador imprevisível, desorganizado, instável. Cuidador pode até se mostrar atento à criança, mas sem sincronia com suas necessidades e solicitações, não respondendo ou respondendo tardiamente elas. Pouco disponível emocionalmente. A criança costuma se desestabilizar na ausência do cuidador, entendendo a separação como ameaça real e iminente. Expressa raiva, angústia nas separações e não se conforta facilmente. Mostra-se constantemente insatisfeita;
  3. APEGO INSEGURO EVITATIVO: mãe ou cuidador não disponível ou não atento às necessidades da criança, podendo ser rejeitador ou mesmo distanciar-se física e psicologicamente. A criança ignora este afastamento, não se empenha em manter contato, não distingue estranhos do cuidador e termina priorizando atividades, objetos e coisas ao invés de pessoas;
  4. APEGO DESORGANIZADO: crianças expostas a maus tratos, abusos, negligência parental, famílias com transtornos por uso de substâncias, ambientes violentos. Ela recebe informações ambíguas do cuidador gerando angústia, desconfiança, age de modo confuso, passando a vivenciar medo crônico e intenso, ansiedade, agitação podendo apresentar ataques de fúria.

APEGO X CONSEQUÊNCIAS

A partir destes tipos de apego, podemos identificar, ao longo da adolenscência e fase adulta, impactos em como o indivíduo percebe a si mesmo, aos outros, ao mundo, bem como se relaciona. Vejamos abaixo quais consequências mais frequentes a partir de cada tipo de apego:

  1. APEGO SEGURO: pessoa sente-se competente para lidar com pares, aberta a novas experiências, curiosidade, autoestima positiva, tolerância a novidades, frustrações, reagindo bem frente a seus fracassos. Entusiasmo, persistência, resolução de problemas e tomada de decisão assertivas, independência e consegue restabelecer relacionamentos saudáveis e recíprocos;
  2. APEGO INSEGURO ANSIOSO/AMBIVALENTE: indivíduo apresenta imaturidade, insegurança, incompetência social, comportamentos de dependência emocional, material, insegurança. Dificuldades para se relacionar, para permanecer nos relacionamentos, dificuldades para desfrutar dos mesmos, para empatizar com o outro e refletir sobre suas responsabilidades nas relações. Pode apresentar condutas impulsivas e agressivas;
  3. APEGO INSEGURO EVITATIVO: sujeito pode se mostrar contradependentes ou autossuficientes, evitando pedir ajuda, compartilhar, estabelecendo relacionamentos superficiais e/ou não duradouros. Pode apresentar traços antissociais;
  4. APEGO DESORGANIZADO: autopercepção negativa e desqualificante de si (indigno, mau), visão dos outros como perigosos, ameaçadores, abusivos e imprevisíveis. Podem apresentar muitos traumas, transtornos de memória e atenção, comportamentos agressivos, cruéis, oposicionistas, ausência de empatia e sensibilidade moral, bem como culpabilizar os outros ou quem queira ajudá-lo.

Para saber mais, confira as referências abaixo:

WAINER, R. Terapia cognitiva focada em esquemas : integração em Psicoterapia [recurso eletrônico] / Organizadores, Ricardo Wainer … [et al.]. – Porto Alegre : Artmed, 2016.

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2008.

MELO, W. V. Estratégias psicoterápicas e a terceira onda em terapia cognitiva / organizado por Wilson Vieira Melo… [et al.] – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2015.

Esquema de ISOLAMENTO SOCIAL: características

Esquema de ISOLAMENTO SOCIAL: características

O psicólogo e autor da abordagem da terapia do esquema, Jeffrey Young, mapeou até o momento 18 esquemas emocionais, a partir dos seus estudos, pesquisas com colaboradores e vivência clínica. Como se trata de uma abordagem em psicoterapia bastante recente (a partir de 1990), os estudos continuam sendo feitos, publicados e atualizados na comunidade científica. Hoje vamos falar a respeito do esquema de isolamento social.

ISOLAMENTO SOCIAL

Segundo Young (2008), pessoas que apresentam o esquema de isolamento social costumam experienciar uma intensa solidão e se percebem como diferentes de outras pessoas, excluídas, rejeitadas, isoladas, apresentando como principal comportamento a dificuldade em fazer parte de grupos, socializar-se ou mesmo relacionar-se.

Este autor afirma que “qualquer pessoa que cresce se sentindo diferente pode desenvolver este esquema.” (Young, 2008 p.198). Ele ainda acrescenta como exemplos de pessoas que costumam apresentar este esquema emocional “superdotados, membros de famílias famosas, indivíduos muito boni­tos ou muito feios, homossexuais, pessoas que pertencem a minorias étnicas, filhos de alcoolistas, sobreviventes de traumas, portadores de deficiências físicas, órfãos ou adotados e membros de uma classe social muito superior ou muito inferior a daque­les no entorno.” (Young, 2008 p.198)

Concluímos, a partir destes pontos sinalizados pelo autor, que pessoas que vivenciam experiências de exclusão, rejeição, preconceito, discriminação, seja por questões relacionadas a imagem, habilidades, gênero, cultura, aspectos sociais, políticos, econômicos, traumas, perdas, portadores de deficiências físicas, transtornos psiquiátricos, transtornos por uso de substâncias e/ou outras condições, costumam estruturar o esquema de isolamento social, por não terem a necessidade emocional básica de apego e pertencimento nutrida ao longo de sua jornada. Por vezes, nas suas interações iniciais, percebe-se alguns destes aspectos:

  • Ausência de conexão, vínculos estáveis e duradouros com outras pessoas;
  • Dificuldades para integrar-se em grupos, ou mesmo experiência de exclusão;
  • Ambientes desorganizados, instáveis, violentos, inseguros, perigosos (fuga de guerras, perseguições, catástrofes, etc);
  • Experiência de migração para contextos sócio-culturais diferentes;
  • Pouco ou ausência de afeto (carinho, amor) de forma incondicional;
  • Desconsideração, desrespeito, negligência.

Estas vivências terminam contribuindo para que o indivíduo se perceba diferente dos outros à sua volta, mas também experienciar ser percebido assim pelos outros, fortalecendo sentimentoa de diferenciação, não pertencimento, isolamento, solidão.

COMPORTAMENTOS

Os principais comportamentos que pessoas com esquema de isolamento social apresentam são:

  • Ficar à margem ou evitar totalmente os grupos;
  • Realizar atividades individuais, solitárias;
  • Evitar conhecer pessoas, estabelecer novos relacionamentos;
  • Evitar situações sociais e de exposição;

Estes comportamentos podem ser expressos de diferentes formas e intensidades, de acordo com a história de vida de cada sujeito. Mas o fato é que se percebe nitidamente este padrão evitativo presente, que podem estar a serviço do sujeito para protegê-los de novas situações traumáticas (violência, preconceito, discriminação, bullying), de novos constrangimentos, exposições, ou mesmo de sofrimentos, perdas e dores envolvidos a partir de tais experiências.

Quando o indivíduo assume sua percepção de si em relação aos outros como diferente e/ou inadequado, pode resignar-se ao esquema de isolamento social, ou seja, assumir como verdade para si mesmo tal percepção e seguir sua jornada de vida repetindo o padrão de isolamento, pouquíssimas interações e evitação de grupos.

Mas ainda há casos em que este esquema se mostra como uma estratégia de enfrentamento hipercompensatória, por exemplo, casos de pessoas que interagem superficialmente, sem aprofundar vínculos ou engrenar relacionamentos duradouros, chegando a mudar com frequência de parceiros ou mesmo estabelecer amizades sem initmidades, sem abertura para abrir suas vulnerabilidades e necessidades emocionais.

O fato é que, para entender caso a caso e os impactos gerados pelo esquema de isolamento social ativado na vida do paciente, é preciso avaliação e acompanhamento especializado por parte de um terapeuta do esquema, observando dados de histórico de vida, familiar, social, laboral, relacionamentos, acontecimentos traumáticos, bem como fatores biológicos e de temperamento que possam também contribuir para a estruturação e expressão deste esquema.

Para ampliar a reflexão, seguem algumas sugestões de conteúdo e títulos que serviram de referência para este artigo:

Entrevista com Jeffrey Young: https://www.youtube.com/watch?v=brIWqbjuMj8

Livro “Reinvente sua vida” (Jeffrey Young): https://www.sinopsyseditora.com.br/livros/reinvente-sua-vida-1648

http://www.tfebrasil.com.br/psicoterapia_esquema.asp

Referência Bibliográfica:

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

O que são ESQUEMAS?

O que são ESQUEMAS?

Na abordagem da Terapia dos Esquemas, proposta pelo psicólogo Jeffrey Young (2008), o termo esquemas é conceituado como um conjunto de padrões cognitivos, emocionais e comportamentais estruturados a partir dos primeiros vínculos que estabelecemos com nossos pais (primeiros cuidadores), aprendizagem de comportamentos e crenças dentro da família e no contexto social, a partir das nossas primeiras relações e experiências de vida, durante a infância e adolescência.

Tratam-se de maneiras habituais de perceber, enxergar e sentir a partir das interações e situações vivenciadas e que se repetem como padrões automatizados de percepção. Podemos entendê-los como filtros emocionais que inteferem na nossa percepção de nós mesmos, dos outros, do mundo e de futuro.

Para entender como eles são formados, precisamos levar em conta que:

  • Ao longo do nosso desenvolvimento infantil e juvenil, temos algumas tarefas evolutivas a serem cumpridas, a partir do suprir de necessidades emocionais básicas (quadro 1);
  • A qualidade do apego que estabelecemos com nossos pais e/ou cuidadores primários interfere em como nos sentiremos e nos perceberemos nas relações outras que vamos construindo ao longo da vida, tendo estes primeiros vínculos como referência emocional, sensorial, cognitivo e comportamental (quadro 2);
  • Fatores genéticos (biológicos) e de contexto (familiar, social, cultural) contribuem para a estruturação dos esquemas.

ESQUEMAS ADAPTATIVOS

Os esquemas são considerados adaptativos quando, ao longo da nossa infância e adolescência, conseguimos estabelecer vínculos de apego seguro com nossos pais e/ou cuidadores, que nos fornecem progressivamente suprimento das 5 necessidades emocionais básicas, permitindo-nos desenvolver e cumprir tarefas evolutivas, conforme o quadro abaixo:

QUADRO 1: Tarefas Evolutivas. Fonte: REIS, B. Revisão Conceitos da Terapia do Esquema. Aula Especialização em Terapia do Esquema. CETCC. 2021

ESQUEMAS DESADAPTATIVOS

Por outro lado, estruturamos esquemas desadaptativos quando não conseguimos realizar uma ou mais destas tarefas evolutivas no nosso desenvolvimento infantil e juvenil, por ausência de 1 ou mais necessidades emocionais básicas, apego inseguro, evitativo ou ambivalente com os pais e/ou cuidadores, situações traumáticas (acidentes, adoecimentos, perdas, abandono, abusos, negligências, etc).

QUADRO 2: Tipos de Apego. Fonte: REIS, B. Revisão Conceitos da Terapia do Esquema. Aula Especialização em Terapia do Esquema. CETCC. 2021

Young e colaboradores, no livro “Terapia do esquema: guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras”(2008), afirmam ainda que “os esquemas desadaptativos remotos lutam para sobreviver. (…) isso resulta da necessidade instintiva que os seres humanos têm de coerência. O esquema é o que o indivíduo conhece. Embora cause sofrimento, é con­fortável e familiar, e ele se sente bem.”(Young, 2008, p.23).

Parece contraditório ler estas palavras do autor, mas se você parar por um instante e se conectar com padrões de comportamentos que você repete ao longo da sua vida, poderá entender na prática como os esquemas buscam se perpetuar. Observe sua zona de conforto e note que ela não necessariamente é gostosa ou agradável, mas por esta necessidade de coerência, você pode permanecer nela por muito tempo, anos, seja por desconhecer outras formas de pensar, sentir, agir ou lidar com a situação, seja por entender ser uma estratégia de enfrentamento para sua sobrevivência e/ou proteção (evitar/fugir, atacar/lutar ou resignar-se / paralisar).

QUADRO 3: NEB`s x Esquemas x Estratégias de Enfrentamento. Fonte: REIS, B. Revisão Conceitos da Terapia do Esquema. Aula Especialização em Terapia do Esquema. CETCC. 2021

Sendo assim, a terapia entra como importante estratégia para aprofundar este autoconhecimento e desenvolver estratégias novas de enfrentamento. A terapia do esquema auxilia você a:

  • Identificar padrões disfuncionais de pensamentos, comportamentos e emoções associados aos esquemas iniciais desadaptativos estruturados na sua jornada de vida;
  • Qual ou quais destes esquemas impactam na sua vida de hoje gerando sofrimento e comprometimento de diferentes dimensões da sua vida e relacionamentos;
  • Reconhecer qual ou quais necessidades emocionais básicas faltaram para você nas suas experiências e memórias;
  • Aprender a reconhecer a cada situação quais necessidades emocionais básicas hoje necessita e como nutrir elas de forma saudável e adaptativas nos diferentes relacionamentos;
  • Aprender a confrontar, questionar os esquemas, avaliar suas vantagens e desvantagens em continuar com eles ativados e melhorar seu diálogo interno;
  • Aprender novas estratégias de enfrentamento mais saudáveis e adaptativas que permitam você ser de forma autêntica, integral, viver de forma plena, saudável e realizar suas ideias, sonhos e projetos que deseja.

Para saber mais e aprofundar este tema, confira estas referências utilizadas na construção deste artigo:

YOUNG, J. E. Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: uma abordagem focada no esquema. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

LEAHY, R. L. Técnicas de Terapia Cognitiva: Manual do Terapeuta. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2018

AVALIAÇÃO DOS ESQUEMAS: como acontece?

AVALIAÇÃO DOS ESQUEMAS: como acontece?

A terapia do esquema, estruturada pelo psicólogo Jeffrey Young (2003), propõe um processo terapêutico integrativo, respaldado por conceitos e técnicas das abordagens cognitivo-comportamental (TCC), Teoria do Apego (Bowlby, Ainsworth), Gestalt, Psicodinâmicas e Terapia Focada nas Emoções (TFE). Este processo envolve as seguintes etapas de forma geral:

  1. Psicoeducação: a respeito da terapia dos esquemas, o que são esquemas adaptativos e desadaptativos, estilos de enfrentamento, necessidades emocionais básicas, modos;
  2. Avaliação dos Esquemas: que tem por objetivo identificação e reconhecimento dos esquemas desadaptativos, estilos de enfrentamentos e modos, como eles são estruturados durante a infância e adolescência do paciente, e como eles se relacionam com os problemas atuais dele;
  3. Mudança: etapa que envolve técnicas cognitivas, vivenciais, comportamentais, relação terapêutica, com foco na mudança de padrões disfuncionais desadaptativos, auxiliando o paciente compreender suas necessidades emocionais básicas, aprender a solicitar, comunicar e buscar nutrir elas nas suas diversas relações, reduzir a potencia de ativação dos seus esquemas a partir de mudanças emocionais e da sua relação com memórias/eventos estressores, bem como estruturar novas estratégias de enfrentamento saudáveis e adaptativas.

Avaliação dos Esquemas

Como vimos acima, esta é a 2a etapa do processo terapêutico da terapia do esquema. Segundo Young (2008), “o terapeuta ajuda os pacientes a identificar seus esquemas, entender as origens destes na infância ou adolescência e a estabelecer relações com seus problemas atuais” (Young, 2008, p.69).

Nesta etapa, o terapeuta convida o paciente a participar de forma ativa e colaborativa, orientando-o a engajar-se às técnicas propostas de modo a gerar um mapeamento de quais esquemas, no momento atual, se encontram mais ativos, quais esquemas iniciais desadaptativos, esquemas condicionais, estratégias de enfrentamento (resignação, hipercompensação, evitação), assim como aprendizado com seus estilos parentais e modos.

Ao longo do processo de avaliação, são geradas hipóteses que permitem organizar as informações levantadas progressivamente e testá-las em busca de evidências e identificação de pontos de mudança que irão nortear o processo terapêutico.

Para que esta avaliação aconteça, algumas técnicas e ferramentas são utilizadas, a seguir:

  • Anamnese Psicológica (Multimodal Life History Inventory)
  • Questionários de Esquemas (YSQ)
  • Questionário de Estilos Parentais
  • Inventário de Estilos de Enfrentamento Evitação (YRAI)
  • Inventário de Estilos de Enfrentamento Evitação (YCI)
  • Questionário de Modos (YAMI)
  • Imagens mentais de avaliação
  • Baralho das Necessidades Emocionais Básicas
  • Baralho dos Esquemas e Domínios
  • Baralho de Modos
  • Relação Terapêutica

Uma vez realizado, ao longo de sessões, todo este levantamento de informações relevantes acerca da história de vida do paciente, seus padrões de funcionamentos disfuncionais, a partir das técnicas acima propostas, o terapeuta irá reunir e organizar estas informações numa conceitualização de caso.

Young afirma que nela o terapeuta “inclui os esquemas do paciente, as conexões com os problemas atuais, os gatilhos ativadores de esquemas, as hipóteses sobre fatores temperamentais, os modos, os efeitos dos esquemas sobre a relação terapêutica e as estratégias de mudança” (Young, 2008, p.71).

A conceitualização, sendo assim, encerra a etapa de avaliação dos esquemas e será importantíssima na tomada de consciência do paciente a respeito de seu funcionamento até o momento, identificação de pontos de mudança e proposição de um plano de tratamento personalizado.

Para saber mais a respeito da Terapia do Esquema, seguem livros de referência para este artigo:

YOUNG, J. E. Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: uma abordagem focada no esquema. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

Young, Jeffrey E. Reinvente sua vida [Reinventing Your Life]/Jeffrey E. Young e Janet S. Klosko; [tradução Rafaelly Bottega Pazzin] — 2. ed. — Novo Hamburgo : Sinopsys, 2020.

TERAPIA DO ESQUEMA: o que é?

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

 

TERAPIA DO ESQUEMA: o que é?

TERAPIA DO ESQUEMA: o que é?

A Terapia do Esquema é uma abordagem em psicoterapia que surgiu como expansão da terapia cognitivo comportamental. Isso se deu quando o psicólogo americano Jeffrey Young notou que a TCC tradicional se deparava com alguns limites frente a uma série de comportamentos, cognições e experiências emocionais que os pacientes apresentavam cristalizados ao longo de toda a vida. Na sua prática clínica e estudos com outros colegas (Young, 1990, 1999), ele observou que os diversos protocolos desta abordagem não davam conta de atender todas as necessidades e peculiaridades dos seus pacientes e que o processo terapêutico focado em curto prazo (16 a 20 sessões) necessitava de adaptações e inclusões de outras técnicas.

Os pontos que ele reconheceu como limitantes no trabalho com a TCC tradicional foram:

  • Transtornos de personalidade: padrões rígidos, inflexíveis e duradouros na forma de pensar, sentir, agir e se relacionar dos pacientes;
  • Distorções rígidas e persistentes na tríade cognitiva (percepção distorcida de si, dos outros, do mundo e de futuro ao longo da vida);
  • Prejuízos muito significativos nas relações interpessoais;
  • Estratégias de enfrentamento não assertivas e recorrentes dos pacientes com pouca ou nenhuma flexibilidade para a mudança;
  • Evitação de emoções, pensamentos, memórias de forma persistente;
  • Medo intenso (consciente ou inconsciente) de não suportar a dor de entrar em contato com conteúdos importantes ao processo;
  • Pacientes com relatos de problemas vagos, difusos, difíceis de definir, por muitas vezes só conseguiam perceber um mal estar geral, frequente, constante, mas sem conseguir identificar gatilhos desencadeantes específicos.

Young também observou que muitos destes pacientes apresentavam, em suas histórias de vida, experiências de negligência, abandono, abuso, privação emocional ou mesmo presenciaram situações violentas que poderiam inclui-los ou envolver outras pessoas. Estas situações poderiam acontecer de forma pontual e potente (traumas) ou recorrentes (estresse crônico), gerando impactos significativos em como estes pacientes percebiam e experienciam eventos similares posteriores, apresentando respostas emocionais, fisiológicas e comportamentais intensas ou mesmo incongruentes com estas situações.

A partir daí, este autor estruturou a terapia do esquema como uma abordagem integrativa, ou seja, promovendo expansão na abordagem da TCC e inclusão de técnicas de diferentes referenciais teóricos:

  • Psicodinâmica (psicanálise): olhar minuncioso para a história de vida do paciente, especialmente infância, adolescência, relações parentais e outros cuidadores, bem como contextos de desenvolvimento;
  • Gestalterapia: incluindo o trabalho com técnicas vivenciais;
  • Terapia cognitivo comportamental (TCC): inclusão de técnicas cognitivas e comportamentais para promover flexibilização e mudança e técnicas de regulação emocional;
  • Teoria do apego (Bowlby)e relações objetais (Klien, Winnicott): buscando compreender os vínculos iniciais estabelecidos (ou não) entre paciente e cuidadores, o impacto no comportamento, experiência emocional e suas outras relações
  • Terapia focada nas emoções (TFE): incluindo técnicas de ativação emocional, focalização, aprendizado e mudança a partir das emoções.

Esta abordagem de psicoterapia é especialmente recomendada para pessoas com transtornos crônicos psicológicos, transtornos de personalidade, transtornos de humor (depressão, bipolaridade), transtornos de ansiedade (TAG, TOC, Fobia Social, Pânico, Fobias Específicas), transtornos alimentares e transtorno por uso de substâncias (alcoolismo, tabagismo, drogadição). Ela foca no tratamento dos aspectos caracteriológicos dos transtornos e não somente na remissão de sintomas agudos psiquiátricos, sendo um processo terapêutico de médio ou longo prazo (mais do que 20 sessões).

O ponto de partida de trabalho nesta abordagem integrativa é compreender como se deu a estruturação dos esquemas iniciais desadaptativos na infância e adolescência do indivíduo, a partir da sua relação com seus cuidadores e com o seu contexto de desenvolvimento, quais necessidades emocionais não foram atendidas e quais impactos destes EID’s no contexto de vida atual do paciente.

É um processo terapêutico colaborativo entre paciente e terapeuta, que progressivamente vão identificando problemas crônicos organizando-os e localizando-os ao longo da história de vida do indivíduo, enfatizando especialmente como eles se apresentam nos seus relacionamentos interpessoais, escolhas, tomadas de decisões, quais estratégias foram estruturadas por ele para sobreviver, conviver, lidar e/ou evitar tais problemas e impactos gerados na sua vida.

Esta terapia focaliza na relação terapêutica, nas dimensões cognitivo, experiencial, emocional e comportamental. Tem por objetivo mudar a forma de encarar, interpretar e reagir aos estímulos, mudar como o paciente se relaciona consigo mesmo e com outras pessoas. Auxilia o indivíduo a modificar suas percepções acerca dos seus relacionamentos, do mundo e de futuro, a processar emoções e conexões com eventos traumáticos, bem como estruturar estratégias de enfrentamentos mais saudáveis e adaptativas.

Para saber mais e aprofundar este tema, confira estas referências utilizadas na construção deste artigo:

YOUNG, J. E. Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: uma abordagem focada no esquema. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

A Terapia do Esquema é uma abordagem integrativa em psicoterapia, estruturada pelo psicólogo americano Jeffrey Young, a partir de casos mais complexos e de difícil manejo, especialmente os transtornos de personalidade. Ele percebeu em sua prática clínica e estudos que os protocolos da terapia cognitivo comportamental tradicional não davam conta de atender todas as necessidades e peculiaridades dos seus pacientes. A partir daí, propôs uma extensão na abordagem da TCC e integração de técnicas de diferentes referenciais teóricos: da psicodinâmica (psicanálise), da gestalterapia (técnicas vivenciais), da terapia cognitivo comportamental (TCC), teoria do apego (Bowlby) e da terapia focada nas emoções (TFE).

O ponto de partida de trabalho nesta abordagem é compreender como se deu a estruturação dos esquemas iniciais desadaptativos na infância e adolescência, a partir da relação do indivíduo com seus cuidados e com o seu contexto de desenvolvimento, quais necessidades emocionais não foram atendidas e qual impactos destes EID’s no contexto de vida atual do paciente;

Tem por objetivo mudar a forma de encarar, interpretar e reagir aos estímulos, a partir das situações vivenciadas e relacionamentos, processar emoções e relações com eventos traumáticos, bem como estruturar estratégias de enfrentamentos mais adaptativas.

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA

A relação terapêutica trata-se da relação terapeuta e paciente estabelecida no setting terapêutica. Mas na terapia do esquema, ela é encarada como uma técnica importantíssima e fundamental em todo o processo terapêutico. YOUNG (2008), afirma que “o terapeuta do esquema considera a relação terapêutica vital para avaliação e mudança de esquemas”, pois é nesta relação que o paciente trará e expressará com o terapeuta quem ele é no mundo, como se percebe, como percebe as outras pessoas, como pensa, sente, age e como se relaciona.

Num primeiro momento, e assim como acontece em outras abordagens em psicoterapia, o terapeuta está focado em estabelecer sintonia, conexão com o paciente, em promover um espaço seguro, receptivo, de acolhimento, sem julgamento, para que este se sinta à vontade para trazer suas questões, dificuldades e dilemas, progressivamente vincule-se com o terapeuta e entre de fato em terapia.

Na fase de avaliação, a relação terapêutica se mostra como poderosa ferramenta para reconhecimento de esquemas emocionais ativados do paciente, agregando informações vitais ao processo avaliativo, feito não somente por técnicas estruturadas (questionários dos esquemas, estilos parentais, estilos de enfrentamento, imagens mentais). Assim, ao longo desta etapa, o terapeuta está focado em identificar os esquemas ativados do paciente a partir do que ele trás nas sessões, quais estilos de enfrentamento ele vem colocando em prática até o momento, quais necessidades emocionais estão ausentes e não foram supridas e como tudo isto impacta na sua vida atual.

Neste sentido, a relação terapêutica servirá como espaço de reparação parental limitada, oferecendo as necessidades emocionais básicas de forma limitada ao paciente, bem como espaço experimental de aprendizado de novas estratégias de enfrentamento, mais saudáveis, mais adaptativas.

YOUNG (2008) também afirma que “os terapeutas do esquema são pessoais na maneira de se relacionar com os pacientes, em vez de distantes. Tentam não parecer perfeitos, nem conhecedores de algo que ocultam do paciente. Deixam que suas personalidades naturais transpareçam, compartilham respostas emocionais que acreditam ter um efeito positivo sobre o paciente, expõem-se quando isso auxilia o paciente e visam a uma postura de objetividade e compaixão.”

No processo terapêutico, o terapeuta utiliza suas emoções, esquemas e vivências a favor do processo do paciente, ou seja, mostra-se como de fato ele é, espontaneamente. Estimula o paciente a falar como se sente nesta relação, bem como fornecer feedbacks a respeito do terapeuta, como estratégia de auxiliar o cliente na sua autopercepção, comunicação e expressão das suas necessidades emocionais e vulnerabilidades. É também esta relação espaço para exercício da empatia, escuta ativa e compaixão por parte do terapeuta, de forma a reconhecer o que de fato o paciente necessita e entender a situação a partir do ponto de vista dele.

O terapeuta utiliza a técnica do confronto empático para provocar o cliente a acessar seus esquemas e entender seu funcionamento, provocando-o a encontrar formas alternativas e mais adaptativas frente às suas necessidades e desafios. Utiliza-se ainda da autorrevelação quando oportuna ao aprofundamento da reflexão do cliente, quebrando o mito do psicólogo como sujeito detentor de um saber diferenciado,  articulando no setting terapêutico seus esquemas, emoções e experiências como ferramentas na ampliação de repertório emocional e comportamental do paciente, e  contribuindo para que este encontre em si mesmo, fortaleça e promova seus aspectos saudáveis.

Para saber mais sobre o assunto, seguem algumas sugestões de conteúdo:

Entrevista com Jeffrey Young: https://www.youtube.com/watch?v=brIWqbjuMj8

Livro “Reinvente sua vida” (Jeffrey Young): https://www.sinopsyseditora.com.br/livros/reinvente-sua-vida-1648

http://www.tfebrasil.com.br/psicoterapia_esquema.asp

Referência Bibliográfica:

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

ATENDIMENTO ONLINE: principais pontos de adaptação dos profissionais

ATENDIMENTO ONLINE: principais pontos de adaptação dos profissionais

Em meio ao contexto de pandemia do coronavírus, o atendimento psicológico online se tornou realidade para terapeutas e clientes, como uma estratégia de assegurar o distanciamento social preventivo contra o contágio do COVID-19 e dar seguimento nos processos de psicoterapia.

Além disso, muitas pessoas que antes não faziam terapia, por conta do contexto pandêmico, entraram em contato com diversas emoções, questões existenciais, assim como o desafio de viver temporariamente, mas sem prazo, em confinamento, seja sozinho, seja com seus familiares,  deparando-se com conflitos até então não existentes ou que foram potencializados neste momento. Isto tem levado cada vez mais pessoas buscar psicólogos para fazer terapia online como estratégia de saúde mental, promoção de bem estar, qualidade de vida e gestão de conflitos.

DESAFIOS

O fato é que a maior parte dos psicólogos não atendiam online até então, e neste momento foram inclusive orientados pelo CPF (Conselho Regional de Psicologia), em virtude da portaria n°639/2020 do Ministério da Saúde de 31/03/2020, a fazerem os atendimentos online, seguindo os critérios da resolução CFP N°11/2018,  que estabelece regras para o atendimento psicológico mediado por tecnologia.

Daí que uma série de desafios para adaptação dos terapeutas e pacientes se deram a partir desta realidade e aqui vamos listar alguns principais pontos de adaptação para os profissionais:

  1. Cadastro E-PSI: ainda que neste período de pandemia o CFP tenha flexibilizado a obrigatoriedade do cadastro do profissional na plataforma e-psi para monitoramento e fiscalização, é fundamental psicólogos deixarem seu cadastro em dia, já que não temos previsão de quando nem como será o contexto de atendimentos pós quarentena;
  2. Assegurar o sigilo: estamos trabalhando nos atendimentos online, mas continuamos seguindo o código de ética da nossa profissão. É fundamental garantir o sigilo, confidencialidade e proteção das informações do paciente, assim como fazíamos nos atendimentos presenciais. Muito importante que o psicólogo não compartilhe seu computador e outros dispositivos com terceiros, continue gerando pronturários e seguindo protocolos das suas respectivas abordagens, assim como esclarecer clientes sobre seus recursos tecnológicos a serem utilizados para garantir tal segurança de sigilo dos dados;
  3. Setting Terapêutico: isto diz respeito ao ambiente físico e subjetivo da escuta terapêutica. Antes o setting era presencial, com recursos e ferramentas de intervenção presenciais, e que agora precisam ser adaptados pelo terapeuta para assegurar eficácia do seu atendimento. Muito importante ter um espaço privativo reservado aos atendimentos, assim como orientar os clientes também neste sentido: buscar espaço sem interrupções, sem distrações, que se sinta plenamente à vontade para falar sobre suas questões. Se você psicólogo tiver possibilidade de manter alguns elementos do setting presencial no seu setting online de atendimento, ajudará no sentimento de conforto e segurança para o seu paciente;
  4. Campo de Visão: Outro ponto que se perde no atendimento online é a visão em 3D, a presença efetiva do outro, perceber as reações fisiológicas (olhar, temperatura, cheiro, sudorese, velocidade da respiração, agitação motora, e outras informações não verbais e corporais). Sendo assim, vale investir num ambiente privativo sem outros estímulos, que permita escuta ativa, diretiva, e atenta ao que é sinalizado pelo cliente na tela do dispositivo utilizado. Como o campo visual fica ainda mais restrito, preste bastante atenção tanto na sua expressão verbal e não verbal como na do seu cliente;
  5. Agenda: apesar de estar em casa, é preciso manter a mesma rotina de dias/horários marcados, tempo de sessão. Isto contribui para o senso de rotina, mantendo as mesmas regras de funcionamento do presencial no formato remoto. Isto ajuda a diminuir o senso de incerteza e instabilidade;
  6. Qualidade dos dispositivos e conexão: este é um desafio tanto para psicólogos quanto para os clientes. Quanto melhor o sinal e a velocidade de transmissão de dados da internet disponível, mais estável e sem interrupções de conectividade será o atendimento, contribuindo para manter o fluxo do atendimento sem interrupções de ordem técnica. Importante também combinar e orientar o paciente qual ferramenta ele melhor se adapta, como utilizar, como assegurar seu sigilo e privacidade;
  7. Atendimento a crianças: são ainda mais desafiante para o terapeuta, além de exigir o consentimento expresso dos responsáveis legais delas. Além disso, a depender da idade da criança, a participação de pelo menos 1 dos cuidadores pode ser essencial para que a sessão aconteça.
  8. Cuidar de si para cuidar dos outros: é bem importante estar a tento que nós terapeutas estamos vivenciando o mesmo contexto pandêmico que nossos clientes. Somos humanos e também temos nossas vulnerabilidades. Então é fundamental que você procure colocar em prática estratégias de autocuidado e saúde integral, não superlotar sua agenda de atendimentos online, colocar intervalos entre os clientes para fazer pausas e ter tempo de recuperação de um cliente para outro. Procure manter uma rede de apoio e troca ativa com seus colegas, compartilhar ferramentas e técnicas que sejam úteis para todos, pedir ajuda a colegas de sua confiança, fazer terapia, fazer supervisão.

São muitos desafios para nós psicólogos em assegurar para o cliente uma sessão de qualidade e eficácia terapêutica. Porém, diante do contexto, é muito melhor assegurar os atendimentos ainda que de forma remota e adaptada, do que suspendê-los. Estamos num contexto de muitas incertezas, riscos reais, e que provocam inúmeras emoções e sentimentos como o desamparo.

Para o paciente, saber que pode contar com seu terapeuta ao longo deste processo e ter a possibilidade de fazer suas sessões online, fará toda a diferença no sentir-se amparado, apoiado, acolhido, com escuta ativa e poderá pensar e praticar as estratégias de promoção de bem estar e qualidade de vida que estiver ao seu alcance.

Para saber mais:

http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-639-de-31-de-marco-de-2020-250847738

Resolução CFP Nº 11/2018

https://br.noticias.yahoo.com/terapia-%C3%A0-dist%C3%A2ncia-psic%C3%B3logos-e-073012246.html

https://blogdodunker.blogosfera.uol.com.br/2020/03/27/sofrimento-como-ter-atendimento-psicologico-online-em-epoca-de-coronavirus/