DISTORÇÕES COGNITIVAS: o que são?

DISTORÇÕES COGNITIVAS: o que são?

As distorções cognitivas são tipos de pensamentos automáticos que apresentamos no dia a dia e que tem como característica principal uma falha avaliativa da realidade e que leva o indivíduo a uma percepção distorcida dela. São pensamentos que evidenciam falhas no processamento da informação e geram vieses de como o sujeito irá interpretar a si mesmo, os outros, suas experiências, o mundo e o futuro. Mas na prática, como isso acontece?

Vamos imaginar o caso de uma pessoa que esteja vivenciando uma crise depressiva. Em meio a seus sintomas de apatia, falta de vontade e de energia para fazer as coisas, perda de sentido de vida, problemas de sono, falta de prazer em atividades antes prazerosas e do seu interesse, entre outros sintomas, surgem pensamentos negativistas, pessimistas, e que a levam a perceber a si, sua vida, suas experiências de forma negativa, desqualificantes. Imaginemos que ela apresentou as seguintes falas:

“Sou um fracasso”

“Nunca conquistei nada, nunca fiz nada de relevante”

“Não adiante eu insistir, eu já tentei todas as possibilidades.”

“Devo ser uma pessoa muito ruim mesmo para estar vivendo tudo isso.”

“Eu deveria ter me esforçado mais, mas agora é tarde demais.”

Perceba quão negativos e pessimistas são estes pensamentos, e o quanto eles impactam potencializando negativamente a experiência emocional desta pessoa para se sentir ainda mais imersa em sentimentos de tristeza e fracasso. Mas observem também algumas caraterísticas que estão presentes nestes pensamentos e que estão interferindo na percepção que ela tem a seu respeito e da sua vida:

ROTULAÇÃO: “Sou um fracasso”, “devo ser uma pessoa muito ruim mesmo para estar vivendo tudo isso.” ou seja, ela entende ser o fracasso e não que teve algumas experiências frustrantes ou que não alcançaram alguns resultados desejados. Atribui como sendo ela integralmente este traço negativo.

PENSAMENTO ABSOLUTISTA: “Nunca conquistei nada, nunca fiz nada de relevante.” , desconsiderando todas as outras experienciadas vivenciadas em outras dimensões de vida e hiperdimensionando a experiência de fracasso. É o famoso “tudo ou nada”, “8 ou 80”.

PREVISÃO NEGATIVA DE FUTURO: “Não adiante eu insistir, eu já tentei todas as possibilidades.” Aqui a pessoa unicamente considera como perspectiva de futuro o fracassar mais uma vez caso tente fazer algo. E isto a leva a paralisar, resignar, por influência desta visão negativa de futuro.

AFIRMAÇÕES “EU DEVERIA…”: “Eu deveria ter me esforçado mais, mas agora é tarde demais.”, isto é, interpretando os acontecimentos em termos de como ela imagina que deveriam ter sido, em vez de focar no que de fato aconteceu e no que pode fazer a partir disso. Um pensamento que potencializa a fixação no passado, nos que não é possível ser mudado, impactando na perda do seu poder de ação para seguir em frente.

Estes tipos de pensamentos são o que chamamos de erros cognitivos ou de distorções cognitivas. Percebem como estes pensamentos automáticos interferem em como a pessoa irá enxergar a realidade e como será sua experiência emocional? Aqui trouxe para você melhor compreender o conceito alguns exemplos práticos, mas existem outros tipos de distorções cognitivas, conforme abaixo:

LEITURA MENTAL: você assume que sabe o que as pessoas pensam, assumindo como verdade, sem fundamentos em fatos e evidências.

CATASTROFIZAÇÃO: acredita que o que aconteceu ou acontecerá será algo de grande magnitude negativa e insuportável de tolerar.

DESQUALIFICAÇÃO DOS ASPECTOS POSITIVOS: assume como triviais ou de pouco valor os aspectos positivos, as realizações e qualidades próprias ou dos outros.

FILTRO NEGATIVO: foca somente nos que há de ruim, negativo, raramente observando ou entrando em contato com os aspectos positivos e agradáveis das experiências.

HIPERGENERALIZAÇÃO: percebe um padrão global de aspectos negativos a partir de uma única situação, entendendo que todas as outras terão o mesmo desfecho.

COMPARAÇÕES INJUSTAS: interpreta acontecimentos a partir de padrões não realistas, focando no como as outras pessoas se saem melhor e entendendo ser pior, inferior a elas a partir de tais comparações.z

*são apenas alguns tipos aqui sinalizados, mas existem outros muitos.

A terapia cognitivo comportamental, bem como a terapia do esquema, auxilia o indivíduo a tomar consciência de suas distorções cognitivas, como elas acontecem no seu dia a dia e de forma automática, quais situações servem-lhe de gatilho para ativá-los rapidamente, aprende a questionar a veracidade destes pensamentos com base em evidênvias e dados de realidade, bem como auxilia a estruturar novos e melhores pensamentos mais adaptativos, realistas e que contribuirá para melhora na sua experiência emocional, bem como estruturar novas estratégias e comportamentos mais saudáveis e adaptados ao seu contexto atual.

Você não precisa estar em depressão ou qualquer outro quadro de sofrimento psicoemocional ou psiquiátrico para apresentar distorções cognitivas. Todos nós temos de alguma forma elas no nosso dia a dia. A diferença está em como lidamos, questionamos, confrontamos e mudamos nosso olhar a partir de sua identificação.

Fazer terapia é uma das estratégias que nos ajuda a melhor nos conhecermos e, consequentemente, melhorar nossa relação com nossos pensamentos, nossas emoções, nossas atitudes com nós mesmos, com os outros e no mundo. Ou seja, fazer terapia é uma grande oportunidade de autoconhecimento e melhoria contínua para todos. E não é preciso esperar vivenciar um sofrimento insuportável para colocar em prática esta estratégia de autocuidado. Permita-se, cuide-se, desenvolva-se, aprimore-se.

Para saber mais, confira:

WRIGHT, J. H., BASCO, M. R. & THASE, M. E. APRENDENDO ATERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL UM GUIA ILUSTRADO. 2008. ARTEMED.

DEPRESSÃO: o que é e quais sintomas

DEPRESSÃO: o que é e quais sintomas

Muita gente ainda tem receio de falar sobre depressão, mas ele é mais presente do que se possa imaginar no dia a dia dos brasileiros. E a pandemia só contribuiu para agravar casos de depressão e ansiedade no mundo. Segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), no Relatório Mundial de Saúde Mental de 2022, a depressão cresceu em 28% na população mundial e os casos de ansiedade elevam em 26% no último ano. No Brasil, os dados oficiais mostram um crescimento de 7,7%% para 14,8% dos brasileiros (entre jovens de 18 a 24 anos), sendo o Brasil o país com maior índice de pessoas ansiosas do mundo, 9,8%.

Estes números não só trazem um alerta da importância em falar e psicoeducar nossa sociedade sobre o que é esta doença, como melhor lidar com pessoas com este tipo de sofrimento, assim como buscar e promover ações socioeducativas e  na esfera de saúde pública para promover qualidade de vida, vida com sentido, autocuidado, saúde integral e bem estar.

A depressão é um distúrbio emocional, afetivo e que interfere na forma como a pessoa percebe a sua vida, a si mesmo, os outros e o mundo. Isto porque pessoas que sofrem de depressão, seja um evento episódico ou que acompanha ela por toda uma vida, apresentam comprometimento significativo no seu humor, nas suas relações, na sua energia, disposição física/mental e interesse, manifestando a diminuição significativa ou perda destes indicadores tanto no nível do pensar, do sentir como do agir.

Traduzindo em uma lista de sintomas mais comuns em adultos, a depressão costuma se apresentar a partir da expressão de pelo menos 5 ou mais sintomas dos listados a baixo por um tempo de duas ou mais semanas de forma persistente, incluindo os sintomas humor deprimido ou falta de interesse e prazer necessariamente:

  • Apatia e falta de motivação: para engajar-se em atividades e fazer as coisas no dia a dia. A procrastinação é uma expressão muito comum disto;
  • Medos: que antes não existiam e passam a existir e/ou serem potencializados;
  • Dificuldade de concentração e foco;
  • Perda ou aumento de apetite;
  • Alto grau de pessimismo: refletido na forma de pensar os eventos/situações do dia a dia, como enxerga a si e aos outros, sem perspectiva de futuro e com capacidade de sonhar rebaixada ou comprometida;
  • Indecisão: dificuldade para tomar decisões em diferentes campos de vida, muitas vezes sentido-se paralisada, sem saber o que fazer, como resolver suas dificuldades e problemas
  • Insegurança: muitas vezes se sentido incapaz ou sem forças para fazer as coisas do seu dia a dia, para sair de casa, trabalhar, socializar-se;
  • Sentimento de Culpa frequente;
  • Insônia ou Hipersonia: um dos sintomas de ansiedade muito comum que aparece em comorbidade com quadros depressivos. Dificuldade para relaxar, ter um sono de qualidade, dorme poucas horas ou tem sono interrompido. Ou pode também apresentar hipersonia (dormir demais) como forma de não suportar acessar os problemas e sofrimento emocional;
  • Falta de vontade em fazer atividades antes prazerosas: perda sensação de prazer e desfrute;
  • Sensação de vazio: perda de sentido da vida
  • Irritabilidade
  • Raciocínio mais lento
  • Esquecimentos frequentes
  • Ansiedade: agitação mental (fluxo contínuo de pensamentos) e motora, fatores que drenam bastante energia e que potencializam no nível físico o desânimo e falta de disposição;
  • Angústia: refletida em sentimentos de tristeza diária, humor deprimido, por período prolongado de tempo;

Há casos em que a ideia de morte também se faz presente (ideação suicida) pelo nível de sofrimento causado à pessoa, comprometimento de seu funcionamento social, produtivo e especialmente por perda de sentido de vida associado ou não ao sentimento de culpa.

Um ponto muito importante a falar é que, ao contrário do que muitos de nós imaginamos, a pessoa que sofre com a depressão não necessariamente representa aquela imagem de pessoa que chora todos os dias, que não sai da cama, não faz sua higiene pessoal e está completamente prostrada.

Muitas delas continuam produtivas, fazendo as suas tarefas do dia a dia, e até mesmo sorrindo, porém seu sofrimento é intenso e perpassa pela sua cognição (seu pensar de si, dos outros, do mundo e do futuro), suas emoções (humor deprimido, irritabilidade) e anedonia (falta de interesse e prazer). Suas dimensões de corpo, mente e espírito sofrem impactos significativos, mas é importante sempre avaliar a mudança a partir da trajetória da própria pessoa, e não comparar ela com outros. Pois se ela sempre foi muito ativa no seu dia a dia, não necessariamente ela irá parar por completo, mas sim apresentar mudanças significativas no seu padrão comportamental, forma de pensar, sentir, agir, relacionar-se por um período a partir de 2 semanas de forma persistente.

TRANSTORNO DO PÂNICO: como lidar

TRANSTORNO DO PÂNICO: como lidar

O transtorno do pânico (TP) é um dos tipos de transtornos de ansiedade caracterizado por crises de ansiedade intensa e repentina que provoca alto grau de angústia, medo, mal estar, com sintomas físicos, cognitivos e comportamentais associados. São crises que podem acontecer em qualquer lugar, com duração média de 15 a 30 minutos de duração, acarretando a pessoa intenso sofrimento psíquico e emocional.

Estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam para a ocorrência de transtornos relacionados à ansiedade em 9,3% da população brasileira e que acomete 33% da população mundial. Números mais que expressivos e que, em agosto de 2021, evidenciou que os brasileiros pesquisaram sobre ansiedade no google 48 milhões de vezes, superando marcas de buscas de países como Alemanha, Reino Unido, Espanha, ficando apenas atrás dos Estados Unidos. Além destes números, pesquisa recente realizada pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP revelou que 4 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade, representando percentual de 12% do total da população nacional, estimando ainda que 23% dos brasileiros podem sofrer de algum distúrbio relacionado à ansiedade ao longo da vida.

Pessoas que sofrem de ansiedade têm suas vidas impactadas seriamente quanto à qualidade de vida, nas suas relações, escolhas e realizações. Quem sofre do transtorno de pânico pode ter maior agravamento deste impacto, especialmente quando a pessoa passa a viver em função das crises, tentando evitá-las ou evitar situações de medos irreais, imaginários ou desproporcionais à realidade, deixando de viver plenamente e impactando fortemente na sua saúde integral.

os principais sintomas do transtorno do pânico são:

  • Taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos);
  • Falta de ar;
  • Pressão e/ou dor intensa no peito;
  • Sudorese;
  • Sensação de desmaio;
  • Alteração da pressão sanguínea;
  • Tontura;
  • Náusea;
  • Formigamento;
  • Tremores;
  • Calafrios ou ondas de calor;
  • Medo de intenso de morrer, de enlouquecer, de perder o controle, de perder alguém importante, medo de que algo de pior aconteça (ex: ser atropelado, levar um tiro de bala perdida, adoecimento grave, etc.);
  • Desmaios, vômitos no pico da crise.

*os sintomas podem variar de pessoa para pessoa em quantidade, intensidade e cognições

É possível vivenciar uma crise de pânico fruto de uma experiência estressante (perdas de pessoa querida, separação, conflitos, momentos de mudança de estágio de vida, violência urbana, etc). Mas quando as crises se tornam recorrentes e sem causas aparentes relacionadas, podem estar sinalizando a presença do transtorno do pânico. Outro aspecto importante a ser considerado é o histórico familiar, ou seja, pessoas com parentes que apresentem transtornos de ansiedade, ou outras doenças psiquiátricas relacionadas à depressão e ansiedade, mostram-se mais suscetíves a desenvolver este quadro. Mas é fundamental observar o histórico de desenvolvimento do próprio indivíduo e como se encontra seu contexto atual, se há presença de fatores que sirvam de gatilhos para suas crises contribuindo para a expressão do quadro.

Com o extender do tempo de isolamento social, trabalho em home-office, aumento de sobrecarga de tarefas, medo frequente de contágio do coronavírus, números assustadores de mortes por COVID-19, que no Brasil já ultrapassaram 584mil, que assolaram milhares de famílias, o nível de estresse elevou-se significativamente neste período de pandemia, impactando diretamente no aumento de casos de ansiedade, depressão e outros transtornos psiquiátricos, bem como o debate sobre a importância do cuidado com a saúde mental.

A boa notícia é que existe tratamento para o transtorno do pânico, sendo considerado como tratamento de primeira linha a associação de psicoterapia cognitivo comportamental com medicação sob orientação do psiquiatra. Mas é importante ressaltar que, tanto para que sofre de transtorno do pânico, como de outros quadros de ansiedade, depressão, a mudança de hábitos e de estilo de vida são chave para remissão de sintomas, recuperação das crises, assim como na prevenção de recaídas. Seguem algumas dicas importantíssimas de como lidar com este transtorno:

  • Pratique atividade física: ela faz você sentir liberar neurotransmissores de prazer que auxiliam na regulação cerebral, acelera frequência cardio-respiratória promovendo bem estar, sensação de prazer e relaxamento.
  • Evite uso de álcool e outras substâncias lícitas ou ilícitas para alívio da ansiedade, eles podem potencializar os sintomas e crises.
  • Yoga, Meditação, Mindfullness, Pilates: são atividades que fazem você exercitar a atenção plena, desacelerar a respiração, focar em cada movimento feito, relaxar corpo e mente, agindo diretamente na redução da ansiedade e promovendo bem estar.
  • Exercícios respiratórios: de modo a desacelerar progressivamente sua respiração, ampliar sua capacidade respiratório com o aprendizado da respiração diafragmática, promovendo bem estar e contribuindo para sair da crise.
  • Aromaterapia, acupuntura, massagem e outras práticas intergrativas de autocuidado.
  • Atividades manuais, artesanato, atividades artísticas, teatro, canto, arteterapia, musicoterapia, etc.
  • Alimentação saudável, com presença e alimentos relaxantes, redução ou exclusão dos excitantes, com equilíbrio de nutrientes.

Se você se identificou com alguns dos sintomas presentes neste artigo, procure suporte profissional agora mesmo de um(a) psicólogo(a), psiquiatra e coloque em prática as dicas acima.

Para saber mais sobre o transtorno do pânico, confira os links abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=ptesl_1Ly0g

https://www.youtube.com/watch?v=bQ6YoWtjgAg

https://www.youtube.com/watch?v=EphcMchveNA

Transtorno do pânico

https://oglobo.globo.com/saude/pesquisas-no-google-relacionadas-ansiedade-panico-nunca-foram-tao-altas-25187071

https://www.senado.gov.br/noticias/jornal/cidadania/Transtornodopanico/not01.htm

https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/o-que-e-transtorno-do-panico-e-como-tratar/

https://www.purebreak.com.br/noticias/sindrome-do-panico-o-que-e-como-identificar-e-tratamentos/100473

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2018/03/19/qual-e-a-diferenca-entre-sindrome-do-panico-e-crise-de-ansiedade.htm

https://www.tuasaude.com/tratamento-natural-para-sindrome-do-panico/

TERAPIA DA ACEITAÇÃO E COMPROMISSO

TERAPIA DA ACEITAÇÃO E COMPROMISSO

A terapia da aceitação e compromisso é uma abordagem bastante recente criada por Steven C. Hayes. A partir de seus estudos, bem como da sua experiência pessoal com o transtorno do pânico, o autor notou que a intensidade do sofrimento psicológico estava diretamente relacionada ao como o indivíduo se relaciona e responde a seus eventos internos (cognições, emoções, reações fisiológicas), e não diz respeito aos fatos e situações em si que lhes acontece. Ou seja, ele identificou que, apesar da pessoa sentir grande desconforto emocional e experienciar distorções cognitivas, ainda assim era possível viver com sentido, aprendendo a aceitar e lidar com o que acontece com ela e com o que está fora do seu alcance, o controle e ou mudança. (HAYES & LILIS, 2012, APUD PERGHER & MELO, 2014).

O principal pilar desta proposta terapêutica é o conceito de ACEITAÇÃO. Melo (2014) define que “aceitar não é concordar ou achar bom. Da mesma forma, não é assumir uma postura conformista e resignada. Aceitar implica receber as coisas como são apresentadas, sem tentar controlar as emoções.” (PERGHER & MELO, 2014, p.344). Neste sentido, aceitar envolve acolher as situações como elas de fato acontecem, sejam os pensamentos, as emoções, as reações fisiológicas, seja o que acontece no contexto, no ambiente, e está fora do seu poder de ação controlar ou modificar.

O outor pilar é o COMPROMISSO, que nos convida a “praticar ações que possibilitem uma vida mais significativa, independente da presença de eventos internos ou externos indesejáveis” (HARRIS, 2009, APUD PERGHER & MELO, 2014, p.345). E isto significa ativar o nosso poder de ação no processo, no colocar em prática estratégias de promoção de bem-estar, qualidade de vida, vida com sentido, saúde mental, saúde física, saúde integral, autocuidado, autorrespeito, no presente, e não no futuro, muito menos no atingir de metas específicas.

A ideia proposta pela ACT é trabalhar o indivíduo para que ele aceite a existência de eventos pessoais negativos, sejam eles pensamentos, emoções, memórias, vivências, mas sem ativar a esquiva ou evitação frente a eles. Por exemplo, diante de um paciente deprimido, que se encontra apático, descrente e com baixa energia, o terapeuta irá convidá-lo a aceitar como ele se apresenta neste momento, respeitar seus limites e vulneravilidades, e assumir o compromisso de dar pequenos passos para promover bem-estar e mudanças progressivas na sua rotina.

Se não está com energia para organizar toda a casa, que tal organizar apenas uma gaveta, ou lavar um copo, e ir incluindo novas ações progressivamente? Se não consegue escrever um artigo acadêmico inteiro, que tal propor ler 1 página, escrever 1 frase ou um parágrafo, dividindo em tarefas mínimas que respeitem seu estado de ânimo e vulnerabilidade do momento?

À medida que realiza estes pequenos passos, ele se sentirá melhor, mais energizado, a partir da sensação agradável de ter realizado estas pequenas ações e que vão impactando de forma positiva na melhora do seu humor, bem-estar, senso de autoeficácia e realização.

Sendo assim, a proposta de intervenção da ACT parte do comportamental, ou seja, não lutar contra seus pensamentos e emoções desagradáveis, mas sim reconhecer a presença deles, aceitar, e assumir um autocompromisso de fazer o que é para ele possível neste momento, estimulando-o a lidar e enfrentar o desconforto progressivamente, despontencializando-o e seguindo rumo a uma vida com sentido, maior bem-estar e qualidade de vida.

Uma técnica importante para a ACT é o mindfullness que propõe exercícios simples para praticar o estado de presença, que estimula o paciente a aumentar seu foco, sua atenção no que está fazendo “aqui-agora”, minimizar ou mesmo excluir qualquer expectativa ou idealização referente a si mesmo, suas capacidades e seu processo de melhora, que possa estar afetando e intensificando seu sofrimento. Com a prática progressiva, ele vai sentindo e refletindo sobre as sensações novas, emoções agradáveis, aprendizados experienciados, passando a fazer novas escolhas com foco na aceitação e compromisso de viver bem, apesar dos desafios internos e externos com os quais se deparar.

Para saber mais e aprofundar seus conhecimentos sobre a ACT, confira a referência bibliográfica utilizada neste artigo:

MELO, Wilson V. …[et al]; Estratégias psicoterápicas e a terceira onda em terapia cognitiva / organizado por Wilson Vieira Melo …[et al] – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2014.

MITOS EMOCIONAIS

MITOS EMOCIONAIS

Os mitos emocionais são crenças a respeito das emoções e que aprendemos ao longo do nosso desenvolvimento. São pensamentos a respeito do sentir que aprendemos a partir de contextos (família, cultura) e que assumimos como verdade, mas que geram impactos negativos na nossa experiência emocional.

Normalmente, os mitos emocionais envolvem pensamentos distorcidos (distorções cognitivas) a respeito das emoções. E costumamos entrar em contato com eles quando crescemos e nos encontramos em ambientes invalidantes, ou seja, contextos que entendem ser errado e/ou proibido o entrar em contato com as emoções, gerando em nós comportamentos de evitar e/ou ignorar o sentir delas assim como expressá-las, entendendo ser elas não importantes. Ademais, se as pessoas parte deste ambiente invalidante ainda tem uma postura punitiva frente a elas, podemos aprender e entendê-las como inaceitáveis, contribuindo para a inibição emocional e impactando negativamente na nossa regulação emocional.

Um ponto importante é que aprendemos a nos regular emocionalmente a partir dos nossos modelos, referências, sendo as nossas primeiras referências os nossos pais e o contexto familiar. A forma como nossos pais reagem às próprias emoções e às nossas quando criança, aceitando, validando, ou, o contrário, chamando atenção de forma desqualificante ou mesmo punindo, influenciará na formação das nossas crenças a respeito delas e como devemos lidar com nossas emoções.

Por exemplo: se você foi tratado com reprovação por seus pais ao expressar raiva, tristeza, você pode ter aprendido que estas emoções são erradas ou inaceitáveis. Se você foi ignorado ao senti-las, você pode ter aprendido que elas não tem importância e devem ser ignoradas ou descartadas.

O fato é que aprendemos quando criança e levamos isto ao longo da nossa vida para outros contextos e relações, que também exercerão novas influências a respeito de como sentimos e expressamos (ou não) as emoções.

EXEMPLOS DE MITOS EMOCIONAIS

Para melhor ilustar tudo isso que hoje estamos falando, seguem alguns exemplos que você pode reconhecer também como seus:

  1. “Existe um jeito certo de sentir a cada situação” : Somos seres diferentes e podemos sentir e nos comportar de formas diferentes a partir de uma mesma situação. O importante é que a cada momento buscaremos administrar nossas emoções para encontrar formas mais assertivas de expressá-las e buscar ter nossas necessidades emocionais atendidas.
  2. “Se eu expresso e deixo os outros saberem como me sinto, serei visto como fraco(a).”: Estamos aqui diante de um julgamento a respeito de uma vulnerabilidade. Se nos sentimos frágeis, vulneráveis, com medo, com raiva ou outra emoção é como nos sentimos simplesmente, não uma questão de certo ou errado. E isto nos ajuda a identificar o que necessitamos a partir de cada situação. Mostrar como nossas vulnerabilidades nos permite receber a ajuda, apoio necessários, não é uma fraqueza, apenas se trata de nossa humanidade e que está tudo bem sermos assim.
  3. “Sentimentos negativos são ruins e destrutivos.”: mais uma vez, não existe emoção certa ou errada, simplesmente são como nos sentimos e cada uma das emoções exercem um papel, uma função e comunicam algo a nosso respeito. As emoções desagradáveis nos fazem parar, refletir sobre razões possíveis que contribuíram para assim nos sentirmos e, como consequeência, buscar acionar recursos para promover mudanças necessárias.
  4. “Ser emotivo é estar fora de controle, vão me chamar de louco(a).” : ser emotivo frente às situações não tem nada de errado, a questão é como isto acontece e como você dá vazão às suas emoções. Se você manifesta suas emoções sempre de forma explosiva ou se você simplesmente embota suas emoções, de um jeito ou de outro haverá custos emocionais e consequências. A ideia é que você identifique o que está sentido e possa aprender a expressar-se e regular-se de forma saudável.
  5. “Toda emoção dolorosa é resultado de uma má atitude.”: mais uma vez aqui está acontecendo um julgamento a respeito do sentir. Muitas emoções dolorosas não dependem de nós, por exemplo, quando nos sentimos tristes ao perder uma pessoa querida. Podemos sentir emoções desagradáveis a partir de como os outros agem conosco ou a partir de situações que fogem ao nosso controle.
  6. “Se os outros não aprovam como me sinto, então eu não deveria estar me sentido assim.”: mais uma vez, não é uma questão de certo ou errado, simplesmente como você se sente. E às vezes outras pessoas poderão não compreender suas razões, seja por falta de empatia, seja porque viveram outras referências contextuais e emocionais. Não é o outro que deve dizer a você como se sente nem o que deve fazer com as suas emoções, esta é uma experiência emocional sua e cabe a você isso. É sua a responsabilidade sobre suas emoções, como expressa e o que faz com elas.

Exercícios de focalização e meditação axiliam a entrar em contato com as emoções, observá-las, identificar o que está sentindo no momento, fortalecer sua regulação emocional e aprender a reconhecer o que necessita e a melhor forma de expressar e buscar atender suas necessidades a cada situação e interação.

As emoções tem processamento diferente das nossas cognições (racional) e isto nos leva a aprendizados ricos a nosso respeito e colocar em prática mudanças, transformações.

Para saber mais sobre o assunto, confira esta leitura, referência para este artigo:

LEAHY, Rober. L. Terapia do Esquema Emocional: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental.Tradução: Sandra Maria Mallmann da Rosa; revisão técnica: Ricardo Weiner. – Porto Alegre: Artemed, 2016.

Esquema de ISOLAMENTO SOCIAL: características

Esquema de ISOLAMENTO SOCIAL: características

O psicólogo e autor da abordagem da terapia do esquema, Jeffrey Young, mapeou até o momento 18 esquemas emocionais, a partir dos seus estudos, pesquisas com colaboradores e vivência clínica. Como se trata de uma abordagem em psicoterapia bastante recente (a partir de 1990), os estudos continuam sendo feitos, publicados e atualizados na comunidade científica. Hoje vamos falar a respeito do esquema de isolamento social.

ISOLAMENTO SOCIAL

Segundo Young (2008), pessoas que apresentam o esquema de isolamento social costumam experienciar uma intensa solidão e se percebem como diferentes de outras pessoas, excluídas, rejeitadas, isoladas, apresentando como principal comportamento a dificuldade em fazer parte de grupos, socializar-se ou mesmo relacionar-se.

Este autor afirma que “qualquer pessoa que cresce se sentindo diferente pode desenvolver este esquema.” (Young, 2008 p.198). Ele ainda acrescenta como exemplos de pessoas que costumam apresentar este esquema emocional “superdotados, membros de famílias famosas, indivíduos muito boni­tos ou muito feios, homossexuais, pessoas que pertencem a minorias étnicas, filhos de alcoolistas, sobreviventes de traumas, portadores de deficiências físicas, órfãos ou adotados e membros de uma classe social muito superior ou muito inferior a daque­les no entorno.” (Young, 2008 p.198)

Concluímos, a partir destes pontos sinalizados pelo autor, que pessoas que vivenciam experiências de exclusão, rejeição, preconceito, discriminação, seja por questões relacionadas a imagem, habilidades, gênero, cultura, aspectos sociais, políticos, econômicos, traumas, perdas, portadores de deficiências físicas, transtornos psiquiátricos, transtornos por uso de substâncias e/ou outras condições, costumam estruturar o esquema de isolamento social, por não terem a necessidade emocional básica de apego e pertencimento nutrida ao longo de sua jornada. Por vezes, nas suas interações iniciais, percebe-se alguns destes aspectos:

  • Ausência de conexão, vínculos estáveis e duradouros com outras pessoas;
  • Dificuldades para integrar-se em grupos, ou mesmo experiência de exclusão;
  • Ambientes desorganizados, instáveis, violentos, inseguros, perigosos (fuga de guerras, perseguições, catástrofes, etc);
  • Experiência de migração para contextos sócio-culturais diferentes;
  • Pouco ou ausência de afeto (carinho, amor) de forma incondicional;
  • Desconsideração, desrespeito, negligência.

Estas vivências terminam contribuindo para que o indivíduo se perceba diferente dos outros à sua volta, mas também experienciar ser percebido assim pelos outros, fortalecendo sentimentoa de diferenciação, não pertencimento, isolamento, solidão.

COMPORTAMENTOS

Os principais comportamentos que pessoas com esquema de isolamento social apresentam são:

  • Ficar à margem ou evitar totalmente os grupos;
  • Realizar atividades individuais, solitárias;
  • Evitar conhecer pessoas, estabelecer novos relacionamentos;
  • Evitar situações sociais e de exposição;

Estes comportamentos podem ser expressos de diferentes formas e intensidades, de acordo com a história de vida de cada sujeito. Mas o fato é que se percebe nitidamente este padrão evitativo presente, que podem estar a serviço do sujeito para protegê-los de novas situações traumáticas (violência, preconceito, discriminação, bullying), de novos constrangimentos, exposições, ou mesmo de sofrimentos, perdas e dores envolvidos a partir de tais experiências.

Quando o indivíduo assume sua percepção de si em relação aos outros como diferente e/ou inadequado, pode resignar-se ao esquema de isolamento social, ou seja, assumir como verdade para si mesmo tal percepção e seguir sua jornada de vida repetindo o padrão de isolamento, pouquíssimas interações e evitação de grupos.

Mas ainda há casos em que este esquema se mostra como uma estratégia de enfrentamento hipercompensatória, por exemplo, casos de pessoas que interagem superficialmente, sem aprofundar vínculos ou engrenar relacionamentos duradouros, chegando a mudar com frequência de parceiros ou mesmo estabelecer amizades sem initmidades, sem abertura para abrir suas vulnerabilidades e necessidades emocionais.

O fato é que, para entender caso a caso e os impactos gerados pelo esquema de isolamento social ativado na vida do paciente, é preciso avaliação e acompanhamento especializado por parte de um terapeuta do esquema, observando dados de histórico de vida, familiar, social, laboral, relacionamentos, acontecimentos traumáticos, bem como fatores biológicos e de temperamento que possam também contribuir para a estruturação e expressão deste esquema.

Para ampliar a reflexão, seguem algumas sugestões de conteúdo e títulos que serviram de referência para este artigo:

Entrevista com Jeffrey Young: https://www.youtube.com/watch?v=brIWqbjuMj8

Livro “Reinvente sua vida” (Jeffrey Young): https://www.sinopsyseditora.com.br/livros/reinvente-sua-vida-1648

http://www.tfebrasil.com.br/psicoterapia_esquema.asp

Referência Bibliográfica:

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

A Terapia do Esquema é uma abordagem integrativa em psicoterapia, estruturada pelo psicólogo americano Jeffrey Young, a partir de casos mais complexos e de difícil manejo, especialmente os transtornos de personalidade. Ele percebeu em sua prática clínica e estudos que os protocolos da terapia cognitivo comportamental tradicional não davam conta de atender todas as necessidades e peculiaridades dos seus pacientes. A partir daí, propôs uma extensão na abordagem da TCC e integração de técnicas de diferentes referenciais teóricos: da psicodinâmica (psicanálise), da gestalterapia (técnicas vivenciais), da terapia cognitivo comportamental (TCC), teoria do apego (Bowlby) e da terapia focada nas emoções (TFE).

O ponto de partida de trabalho nesta abordagem é compreender como se deu a estruturação dos esquemas iniciais desadaptativos na infância e adolescência, a partir da relação do indivíduo com seus cuidados e com o seu contexto de desenvolvimento, quais necessidades emocionais não foram atendidas e qual impactos destes EID’s no contexto de vida atual do paciente;

Tem por objetivo mudar a forma de encarar, interpretar e reagir aos estímulos, a partir das situações vivenciadas e relacionamentos, processar emoções e relações com eventos traumáticos, bem como estruturar estratégias de enfrentamentos mais adaptativas.

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA

A relação terapêutica trata-se da relação terapeuta e paciente estabelecida no setting terapêutica. Mas na terapia do esquema, ela é encarada como uma técnica importantíssima e fundamental em todo o processo terapêutico. YOUNG (2008), afirma que “o terapeuta do esquema considera a relação terapêutica vital para avaliação e mudança de esquemas”, pois é nesta relação que o paciente trará e expressará com o terapeuta quem ele é no mundo, como se percebe, como percebe as outras pessoas, como pensa, sente, age e como se relaciona.

Num primeiro momento, e assim como acontece em outras abordagens em psicoterapia, o terapeuta está focado em estabelecer sintonia, conexão com o paciente, em promover um espaço seguro, receptivo, de acolhimento, sem julgamento, para que este se sinta à vontade para trazer suas questões, dificuldades e dilemas, progressivamente vincule-se com o terapeuta e entre de fato em terapia.

Na fase de avaliação, a relação terapêutica se mostra como poderosa ferramenta para reconhecimento de esquemas emocionais ativados do paciente, agregando informações vitais ao processo avaliativo, feito não somente por técnicas estruturadas (questionários dos esquemas, estilos parentais, estilos de enfrentamento, imagens mentais). Assim, ao longo desta etapa, o terapeuta está focado em identificar os esquemas ativados do paciente a partir do que ele trás nas sessões, quais estilos de enfrentamento ele vem colocando em prática até o momento, quais necessidades emocionais estão ausentes e não foram supridas e como tudo isto impacta na sua vida atual.

Neste sentido, a relação terapêutica servirá como espaço de reparação parental limitada, oferecendo as necessidades emocionais básicas de forma limitada ao paciente, bem como espaço experimental de aprendizado de novas estratégias de enfrentamento, mais saudáveis, mais adaptativas.

YOUNG (2008) também afirma que “os terapeutas do esquema são pessoais na maneira de se relacionar com os pacientes, em vez de distantes. Tentam não parecer perfeitos, nem conhecedores de algo que ocultam do paciente. Deixam que suas personalidades naturais transpareçam, compartilham respostas emocionais que acreditam ter um efeito positivo sobre o paciente, expõem-se quando isso auxilia o paciente e visam a uma postura de objetividade e compaixão.”

No processo terapêutico, o terapeuta utiliza suas emoções, esquemas e vivências a favor do processo do paciente, ou seja, mostra-se como de fato ele é, espontaneamente. Estimula o paciente a falar como se sente nesta relação, bem como fornecer feedbacks a respeito do terapeuta, como estratégia de auxiliar o cliente na sua autopercepção, comunicação e expressão das suas necessidades emocionais e vulnerabilidades. É também esta relação espaço para exercício da empatia, escuta ativa e compaixão por parte do terapeuta, de forma a reconhecer o que de fato o paciente necessita e entender a situação a partir do ponto de vista dele.

O terapeuta utiliza a técnica do confronto empático para provocar o cliente a acessar seus esquemas e entender seu funcionamento, provocando-o a encontrar formas alternativas e mais adaptativas frente às suas necessidades e desafios. Utiliza-se ainda da autorrevelação quando oportuna ao aprofundamento da reflexão do cliente, quebrando o mito do psicólogo como sujeito detentor de um saber diferenciado,  articulando no setting terapêutico seus esquemas, emoções e experiências como ferramentas na ampliação de repertório emocional e comportamental do paciente, e  contribuindo para que este encontre em si mesmo, fortaleça e promova seus aspectos saudáveis.

Para saber mais sobre o assunto, seguem algumas sugestões de conteúdo:

Entrevista com Jeffrey Young: https://www.youtube.com/watch?v=brIWqbjuMj8

Livro “Reinvente sua vida” (Jeffrey Young): https://www.sinopsyseditora.com.br/livros/reinvente-sua-vida-1648

http://www.tfebrasil.com.br/psicoterapia_esquema.asp

Referência Bibliográfica:

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

O que podemos aprender com a DEPRESSÃO, a DOR, PERDAS, DIFICULDADES

O que podemos aprender com a DEPRESSÃO, a DOR, PERDAS, DIFICULDADES

Se tem uma afirmação realista é que ninguém sai o mesmo de uma depressão, de perdas e ou dificuldades. Este é um tema que tem permeado muitas sessões de psicoterapia nos últimos 6 meses.

Muitos pacientes chegam trazendo seus diversos sofrimentos: perdas de parentes e amigos queridos fruto do COVID-19 ou outras enfermidades, acidentes, suicídios, dores por conta de adoecimentos na família, violência doméstica, relações abusivas em casa, no trabalho (home-office ou presencial), sobrecarga de demandas, exaustão, dificuldades financeiras, fechamentos de negócios, perdas de clientes, dívidas, fome, privações, etc. Sofrimentos estes que levaram muitas pessoas a quadros depressivos, transtornos de ansiedade, gatilhos para crises, luto, agravamento de transtornos de personalidade, abuso de substâncias, compulsões, entre outros.

Em algum momento, elas perceberam como suas realidades internas e externas se tornaram mais pesadas, exaustivas, adoecedoras, limitantes, paralisantes, dolorosas. Tiveram a coragem de dar um primeiro passo importante: buscar ajuda profissional de psicólogos, médicos, psiquiatras, nutricionistas, educadores físicos, entre outros profissionais de saúde, dentro das especificidades de cada caso, dentro do que elas entendiam necessitar de auxílio, orientação, cuidado, escuta, estratégias e ferramentas para atravessarem suas jornadas.

Estamos sendo testemunhas de muitas destas realidades de sofrimento, direta ou indiretamente, como parente, amigo, profissional que acompanha, orienta, dá suporte e ajuda a estas pessoas. Mas um ponto muito importante a trazer à luz na reflexão de hoje é: como é possível aprender a partir de momentos críticos. 

Situações como estas acima citadas levam cada pessoa a acessar suas vulnerabilidades, seus limites, suas necessidades emocionais, físicas, materiais não atendidas ou faltantes neste contexto, a sentir a intensidade de suas dores, que, num primeiro momento, parecem-lhes não ter fim, serem insuportáveis, limitantes, dilacerantes, cada um ao seu modo, expressando através de emoções, pensamentos, comportamentos, linguagem verbal, não verbal, num grande esforço de buscar sobreviver, tolerar, lidar, aceitar, superar, seguir em frente em suas jornadas.

Pode parecer o fim, pode até mesmo parecer contraditório, por estarmos acostumados a viver numa sociedade que estimula a supressão de dores, sintomas e sofrimentos; mas é exatamente neste encontro com as nossas vulnerabilidades que temos a oportunidade de acessar nossas centelhas de aprendizados. 

Quando vivenciamos momentos de vulnerabilidade e nos colocamos abertos a acolher nosso sofrimento, reconhecer e nomear nossas dores, perdas, temos condições de acessar no nosso sistema o que necessitamos para sobreviver, superar e seguir em frente. Temos condições de acessar nossa capacidade adaptativa, de perceber que as dores e sofrimentos são passageiros e nos trazem inúmeros ensinamentos dentro do que necessitamos aprender, tanto individual, quanto como casal, família, coletivo.

A depressão, o luto, perdas e dificuldades convida-nos a parar, desacelerar, nos colocando de frente com o não saber como seguir, com a necessidade de respeito ao tempo do corpo, da mente. Trás a oportunidade de reflexão das insatisfações, frustrações, perdas, reavaliação da vida, do que se trilhou até aqui, o que realizamos, perdas e ganhos. Chama-nos a olhar e reconhecer as mudanças de contextos, de necessidades atuais, de buscar e encontrar novos sentidos.

Por mais difícil e demorado que toda esta jornada pareça ser, certamente cada pessoa sairá diferente de como iniciou seus processos. Sairá mais resiliente, com muito mais recursos internos, com novas estratégias de enfrentamento e de regulação emocional, mais conscientes sobre suas necessidades e direitos, das escolhas a serem feitas, das responsabilidades a assumir, dos “sim” e dos “não” que deverá dizer daqui para frente,  para si mesma e para outras pessoas à sua volta. Enfim, cada indivíduo sairá com novos sentidos, novas respostas, novas possibilidades para construir um novo começo, um novo capítulo da sua jornada.

Sugestões para você continuar lendo e refletindo:

5 Estágios da Mudança

5 estágios da Mudança – parte 2

5 Estágios da Mudança – parte 3

Confinamento e seus efeitos no corpo, mente e alma

O poder do PERDÃO