A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

A Terapia do Esquema é uma abordagem integrativa em psicoterapia, estruturada pelo psicólogo americano Jeffrey Young, a partir de casos mais complexos e de difícil manejo, especialmente os transtornos de personalidade. Ele percebeu em sua prática clínica e estudos que os protocolos da terapia cognitivo comportamental tradicional não davam conta de atender todas as necessidades e peculiaridades dos seus pacientes. A partir daí, propôs uma extensão na abordagem da TCC e integração de técnicas de diferentes referenciais teóricos: da psicodinâmica (psicanálise), da gestalterapia (técnicas vivenciais), da terapia cognitivo comportamental (TCC), teoria do apego (Bowlby) e da terapia focada nas emoções (TFE).

O ponto de partida de trabalho nesta abordagem é compreender como se deu a estruturação dos esquemas iniciais desadaptativos na infância e adolescência, a partir da relação do indivíduo com seus cuidados e com o seu contexto de desenvolvimento, quais necessidades emocionais não foram atendidas e qual impactos destes EID’s no contexto de vida atual do paciente;

Tem por objetivo mudar a forma de encarar, interpretar e reagir aos estímulos, a partir das situações vivenciadas e relacionamentos, processar emoções e relações com eventos traumáticos, bem como estruturar estratégias de enfrentamentos mais adaptativas.

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA

A relação terapêutica trata-se da relação terapeuta e paciente estabelecida no setting terapêutica. Mas na terapia do esquema, ela é encarada como uma técnica importantíssima e fundamental em todo o processo terapêutico. YOUNG (2008), afirma que “o terapeuta do esquema considera a relação terapêutica vital para avaliação e mudança de esquemas”, pois é nesta relação que o paciente trará e expressará com o terapeuta quem ele é no mundo, como se percebe, como percebe as outras pessoas, como pensa, sente, age e como se relaciona.

Num primeiro momento, e assim como acontece em outras abordagens em psicoterapia, o terapeuta está focado em estabelecer sintonia, conexão com o paciente, em promover um espaço seguro, receptivo, de acolhimento, sem julgamento, para que este se sinta à vontade para trazer suas questões, dificuldades e dilemas, progressivamente vincule-se com o terapeuta e entre de fato em terapia.

Na fase de avaliação, a relação terapêutica se mostra como poderosa ferramenta para reconhecimento de esquemas emocionais ativados do paciente, agregando informações vitais ao processo avaliativo, feito não somente por técnicas estruturadas (questionários dos esquemas, estilos parentais, estilos de enfrentamento, imagens mentais). Assim, ao longo desta etapa, o terapeuta está focado em identificar os esquemas ativados do paciente a partir do que ele trás nas sessões, quais estilos de enfrentamento ele vem colocando em prática até o momento, quais necessidades emocionais estão ausentes e não foram supridas e como tudo isto impacta na sua vida atual.

Neste sentido, a relação terapêutica servirá como espaço de reparação parental limitada, oferecendo as necessidades emocionais básicas de forma limitada ao paciente, bem como espaço experimental de aprendizado de novas estratégias de enfrentamento, mais saudáveis, mais adaptativas.

YOUNG (2008) também afirma que “os terapeutas do esquema são pessoais na maneira de se relacionar com os pacientes, em vez de distantes. Tentam não parecer perfeitos, nem conhecedores de algo que ocultam do paciente. Deixam que suas personalidades naturais transpareçam, compartilham respostas emocionais que acreditam ter um efeito positivo sobre o paciente, expõem-se quando isso auxilia o paciente e visam a uma postura de objetividade e compaixão.”

No processo terapêutico, o terapeuta utiliza suas emoções, esquemas e vivências a favor do processo do paciente, ou seja, mostra-se como de fato ele é, espontaneamente. Estimula o paciente a falar como se sente nesta relação, bem como fornecer feedbacks a respeito do terapeuta, como estratégia de auxiliar o cliente na sua autopercepção, comunicação e expressão das suas necessidades emocionais e vulnerabilidades. É também esta relação espaço para exercício da empatia, escuta ativa e compaixão por parte do terapeuta, de forma a reconhecer o que de fato o paciente necessita e entender a situação a partir do ponto de vista dele.

O terapeuta utiliza a técnica do confronto empático para provocar o cliente a acessar seus esquemas e entender seu funcionamento, provocando-o a encontrar formas alternativas e mais adaptativas frente às suas necessidades e desafios. Utiliza-se ainda da autorrevelação quando oportuna ao aprofundamento da reflexão do cliente, quebrando o mito do psicólogo como sujeito detentor de um saber diferenciado,  articulando no setting terapêutico seus esquemas, emoções e experiências como ferramentas na ampliação de repertório emocional e comportamental do paciente, e  contribuindo para que este encontre em si mesmo, fortaleça e promova seus aspectos saudáveis.

Para saber mais sobre o assunto, seguem algumas sugestões de conteúdo:

Entrevista com Jeffrey Young: https://www.youtube.com/watch?v=brIWqbjuMj8

Livro “Reinvente sua vida” (Jeffrey Young): https://www.sinopsyseditora.com.br/livros/reinvente-sua-vida-1648

http://www.tfebrasil.com.br/psicoterapia_esquema.asp

Referência Bibliográfica:

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.