Na abordagem da Terapia dos Esquemas, proposta pelo psicólogo Jeffrey Young (2008), o termo esquemas é conceituado como um conjunto de padrões cognitivos, emocionais e comportamentais estruturados a partir dos primeiros vínculos que estabelecemos com nossos pais (primeiros cuidadores), aprendizagem de comportamentos e crenças dentro da família e no contexto social, a partir das nossas primeiras relações e experiências de vida, durante a infância e adolescência.
Tratam-se de maneiras habituais de perceber, enxergar e sentir a partir das interações e situações vivenciadas e que se repetem como padrões automatizados de percepção. Podemos entendê-los como filtros emocionais que inteferem na nossa percepção de nós mesmos, dos outros, do mundo e de futuro.
Para entender como eles são formados, precisamos levar em conta que:
- Ao longo do nosso desenvolvimento infantil e juvenil, temos algumas tarefas evolutivas a serem cumpridas, a partir do suprir de necessidades emocionais básicas (quadro 1);
- A qualidade do apego que estabelecemos com nossos pais e/ou cuidadores primários interfere em como nos sentiremos e nos perceberemos nas relações outras que vamos construindo ao longo da vida, tendo estes primeiros vínculos como referência emocional, sensorial, cognitivo e comportamental (quadro 2);
- Fatores genéticos (biológicos) e de contexto (familiar, social, cultural) contribuem para a estruturação dos esquemas.
ESQUEMAS ADAPTATIVOS
Os esquemas são considerados adaptativos quando, ao longo da nossa infância e adolescência, conseguimos estabelecer vínculos de apego seguro com nossos pais e/ou cuidadores, que nos fornecem progressivamente suprimento das 5 necessidades emocionais básicas, permitindo-nos desenvolver e cumprir tarefas evolutivas, conforme o quadro abaixo:
QUADRO 1: Tarefas Evolutivas. Fonte: REIS, B. Revisão Conceitos da Terapia do Esquema. Aula Especialização em Terapia do Esquema. CETCC. 2021
ESQUEMAS DESADAPTATIVOS
Por outro lado, estruturamos esquemas desadaptativos quando não conseguimos realizar uma ou mais destas tarefas evolutivas no nosso desenvolvimento infantil e juvenil, por ausência de 1 ou mais necessidades emocionais básicas, apego inseguro, evitativo ou ambivalente com os pais e/ou cuidadores, situações traumáticas (acidentes, adoecimentos, perdas, abandono, abusos, negligências, etc).
QUADRO 2: Tipos de Apego. Fonte: REIS, B. Revisão Conceitos da Terapia do Esquema. Aula Especialização em Terapia do Esquema. CETCC. 2021
Young e colaboradores, no livro “Terapia do esquema: guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras”(2008), afirmam ainda que “os esquemas desadaptativos remotos lutam para sobreviver. (…) isso resulta da necessidade instintiva que os seres humanos têm de coerência. O esquema é o que o indivíduo conhece. Embora cause sofrimento, é confortável e familiar, e ele se sente bem.”(Young, 2008, p.23).
Parece contraditório ler estas palavras do autor, mas se você parar por um instante e se conectar com padrões de comportamentos que você repete ao longo da sua vida, poderá entender na prática como os esquemas buscam se perpetuar. Observe sua zona de conforto e note que ela não necessariamente é gostosa ou agradável, mas por esta necessidade de coerência, você pode permanecer nela por muito tempo, anos, seja por desconhecer outras formas de pensar, sentir, agir ou lidar com a situação, seja por entender ser uma estratégia de enfrentamento para sua sobrevivência e/ou proteção (evitar/fugir, atacar/lutar ou resignar-se / paralisar).
QUADRO 3: NEB`s x Esquemas x Estratégias de Enfrentamento. Fonte: REIS, B. Revisão Conceitos da Terapia do Esquema. Aula Especialização em Terapia do Esquema. CETCC. 2021
Sendo assim, a terapia entra como importante estratégia para aprofundar este autoconhecimento e desenvolver estratégias novas de enfrentamento. A terapia do esquema auxilia você a:
- Identificar padrões disfuncionais de pensamentos, comportamentos e emoções associados aos esquemas iniciais desadaptativos estruturados na sua jornada de vida;
- Qual ou quais destes esquemas impactam na sua vida de hoje gerando sofrimento e comprometimento de diferentes dimensões da sua vida e relacionamentos;
- Reconhecer qual ou quais necessidades emocionais básicas faltaram para você nas suas experiências e memórias;
- Aprender a reconhecer a cada situação quais necessidades emocionais básicas hoje necessita e como nutrir elas de forma saudável e adaptativas nos diferentes relacionamentos;
- Aprender a confrontar, questionar os esquemas, avaliar suas vantagens e desvantagens em continuar com eles ativados e melhorar seu diálogo interno;
- Aprender novas estratégias de enfrentamento mais saudáveis e adaptativas que permitam você ser de forma autêntica, integral, viver de forma plena, saudável e realizar suas ideias, sonhos e projetos que deseja.
Para saber mais e aprofundar este tema, confira estas referências utilizadas na construção deste artigo:
YOUNG, J. E. Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: uma abordagem focada no esquema. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.
YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.
LEAHY, R. L. Técnicas de Terapia Cognitiva: Manual do Terapeuta. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2018
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