TERAPIA DA ACEITAÇÃO E COMPROMISSO

TERAPIA DA ACEITAÇÃO E COMPROMISSO

A terapia da aceitação e compromisso é uma abordagem bastante recente criada por Steven C. Hayes. A partir de seus estudos, bem como da sua experiência pessoal com o transtorno do pânico, o autor notou que a intensidade do sofrimento psicológico estava diretamente relacionada ao como o indivíduo se relaciona e responde a seus eventos internos (cognições, emoções, reações fisiológicas), e não diz respeito aos fatos e situações em si que lhes acontece. Ou seja, ele identificou que, apesar da pessoa sentir grande desconforto emocional e experienciar distorções cognitivas, ainda assim era possível viver com sentido, aprendendo a aceitar e lidar com o que acontece com ela e com o que está fora do seu alcance, o controle e ou mudança. (HAYES & LILIS, 2012, APUD PERGHER & MELO, 2014).

O principal pilar desta proposta terapêutica é o conceito de ACEITAÇÃO. Melo (2014) define que “aceitar não é concordar ou achar bom. Da mesma forma, não é assumir uma postura conformista e resignada. Aceitar implica receber as coisas como são apresentadas, sem tentar controlar as emoções.” (PERGHER & MELO, 2014, p.344). Neste sentido, aceitar envolve acolher as situações como elas de fato acontecem, sejam os pensamentos, as emoções, as reações fisiológicas, seja o que acontece no contexto, no ambiente, e está fora do seu poder de ação controlar ou modificar.

O outor pilar é o COMPROMISSO, que nos convida a “praticar ações que possibilitem uma vida mais significativa, independente da presença de eventos internos ou externos indesejáveis” (HARRIS, 2009, APUD PERGHER & MELO, 2014, p.345). E isto significa ativar o nosso poder de ação no processo, no colocar em prática estratégias de promoção de bem-estar, qualidade de vida, vida com sentido, saúde mental, saúde física, saúde integral, autocuidado, autorrespeito, no presente, e não no futuro, muito menos no atingir de metas específicas.

A ideia proposta pela ACT é trabalhar o indivíduo para que ele aceite a existência de eventos pessoais negativos, sejam eles pensamentos, emoções, memórias, vivências, mas sem ativar a esquiva ou evitação frente a eles. Por exemplo, diante de um paciente deprimido, que se encontra apático, descrente e com baixa energia, o terapeuta irá convidá-lo a aceitar como ele se apresenta neste momento, respeitar seus limites e vulneravilidades, e assumir o compromisso de dar pequenos passos para promover bem-estar e mudanças progressivas na sua rotina.

Se não está com energia para organizar toda a casa, que tal organizar apenas uma gaveta, ou lavar um copo, e ir incluindo novas ações progressivamente? Se não consegue escrever um artigo acadêmico inteiro, que tal propor ler 1 página, escrever 1 frase ou um parágrafo, dividindo em tarefas mínimas que respeitem seu estado de ânimo e vulnerabilidade do momento?

À medida que realiza estes pequenos passos, ele se sentirá melhor, mais energizado, a partir da sensação agradável de ter realizado estas pequenas ações e que vão impactando de forma positiva na melhora do seu humor, bem-estar, senso de autoeficácia e realização.

Sendo assim, a proposta de intervenção da ACT parte do comportamental, ou seja, não lutar contra seus pensamentos e emoções desagradáveis, mas sim reconhecer a presença deles, aceitar, e assumir um autocompromisso de fazer o que é para ele possível neste momento, estimulando-o a lidar e enfrentar o desconforto progressivamente, despontencializando-o e seguindo rumo a uma vida com sentido, maior bem-estar e qualidade de vida.

Uma técnica importante para a ACT é o mindfullness que propõe exercícios simples para praticar o estado de presença, que estimula o paciente a aumentar seu foco, sua atenção no que está fazendo “aqui-agora”, minimizar ou mesmo excluir qualquer expectativa ou idealização referente a si mesmo, suas capacidades e seu processo de melhora, que possa estar afetando e intensificando seu sofrimento. Com a prática progressiva, ele vai sentindo e refletindo sobre as sensações novas, emoções agradáveis, aprendizados experienciados, passando a fazer novas escolhas com foco na aceitação e compromisso de viver bem, apesar dos desafios internos e externos com os quais se deparar.

Para saber mais e aprofundar seus conhecimentos sobre a ACT, confira a referência bibliográfica utilizada neste artigo:

MELO, Wilson V. …[et al]; Estratégias psicoterápicas e a terceira onda em terapia cognitiva / organizado por Wilson Vieira Melo …[et al] – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2014.

COEFICIENTE DE EMAGRECIMENTO: o que é?

COEFICIENTE DE EMAGRECIMENTO: o que é?

Para que seja realidade um emagrecimento sustentável é fundamental que você vá além de cumprir à risca a dieta da sua nutricionista e o treino do seu personal trainer / academia. Emagrecimento sustentável envolve mudança de mentalidade, mudança de hábitos e de estilo de vida de forma duradoura, com consistência e continuidade. Pensando neste sentido, hoje resolvi escrever para você sobre o coeficiente de emagrecimento.

O coeficiente de emagrecimento é um indicador que faz você entrar em contato com seu estado atual, gerando um “retrato” do seu mindset. Ou seja, mapear o seu modelo mental relacionado à autoimagem, emagrecimento e estilo de vida. Isto porque ele faz você entrar em contato com seu estado atual de autoimagem (peso, medidas, visual), de pensamentos (crenças sabotadoras), emoções e comportamentos sabotadores, deixando claro para você qual seu estilo atual de vida (saudável ou não), assim como funciona sua mentalidade referente emagrecimento.

É um indicador gerado a partir da ferramenta de coaching de mapeamento de estado atual e estado desejado, que faz você tomar consciência de como está no momento, sensibilizar você de que precisa entrar em ação para tornar real sua transformação, reconhecer o que precisa ser feito, estruturar sua meta de emagrecimento e rota de ação, autocompromisso, autorresponsabilidade pelo seu processo, mobilizando em você motivação e justificativas reais para você direcionar seu poder de ação, tempo, energia, dedicação e colocar em prática tudo o que precisa ser feito para alcançar sua meta de emagrecimento.

E como é possível medir ele? Fazendo um antes X depois das suas crenças, comportamentos e resultados alcançados no seu processo de emagrecimento. Você pode fazer o seu mapeamento utilizando os seguintes passos:

    1. Identifique seu Estado Atual: tire uma foto sua no seu atual estado, antes de iniciar o seu emagrecimento. Coloque ela numa folha e ao lado dela escreva seu peso atual, suas atuais medidas, seu estado emocional e de (in)satisfação com você mesma hoje;
    2. Reconheça sua Meta de Emagrecimento: no mesmo papel da sua foto, escreva qual sua meta de emagrecimento (quantos kg a emagrecer, em quanto tempo, até qual data), colocando também os motivos que justificam seu empenho de tempo, esforço, dedicação, autocompromisso com seu processo;
    3. Identifique suas Crenças Sabotadoras: escreva no verso do mesmo papel de mapeamento do seu estado atual, todas as suas crenças (falas, pensamentos, frases que você diz para você mesma com verdade) a respeito de você e do que impede você de tornar realidade seu emagrecimento até aqui. Anote também os seus comportamentos autorssabotadores nesta sessão;
    4. Declaração de Autocompromisso: Abaixo das suas crenças sabotadoras agora identificadas, faça a sua declaração de autocompromisso, seguendo o seguinte modelo: “Eu, (nome completo), assumo o compromisso comigo mesmo(a) a partir de hoje de dedicar tempo, esforço, energia, comprometimento com o meu processo de emagrecimento. Assumo 100% de autorresponsabilidade sobre cada etapa dele, entendendo que ele é um processo, e não um lugar no podium. Assumo que acolherei minhas vulnerabilidades nos momentos difíceis, mas sempre direcionando meu poder de ação com coragem para fazer melhores escolhas em cada momento, pensando no meu objetivo de processo a ser alcançado. Assumo que farei o que preciso for para tornar este resultado de forma saudável, com equilíbrio e mudança efetiva de mentalidade e estilo de vida.” Coloque a cidade, data/mês/ano e assine. Este é o seu contrato de emagrecimento e mudança de mentalidade.

A ideia é você repetir este mesmo mapeamento de coeficiente de emagrecimento ao final do seu processo, de modo a tornar clara sua transformação e resultado alcançado para seu cérebro reconhecer racionalmente e emocionalmente a sua mudança sustentável a ser dada continuidade.

A influência das Redes Sociais nos Hábitos Alimentares dos Jovens

A influência das Redes Sociais nos Hábitos Alimentares dos Jovens

Não é de hoje que vemos o quanto as notícias nos diversos formatos e mídias interferem no comportamento humano. Mas quando o assunto é redes sociais, hábitos alimentares e saúde, parece que este impacto é ainda maior, mais imediato e com as mais diversas consequências.

Com o advento das redes sociais, a voz e poder de influência, antes restrita aos especialistas das diversas áreas de conhecimento, foram democratizados. Aparentemente este é um ponto positivo, o fato de qualquer pessoa poder expressar suas ideias, opiniões, seus conhecimentos técnicos, suas habilidades no meio virtual, extrapolando suas ações no offline, na vida real.

Observamos o surgimento dos influenciadores digitais, de inúmeros(as) blogueiros(as) que passaram a compartilhar suas vidas e estratégias para superação de desafios para manter o corpo “ideal” e “ser feliz” com o “shape” que “você precisa alcançar”, além de outros supostos benefícios como “atrair o parceiro ideal”, “perder os quilos que tanto incomodam você”, entre outros “objetivos”.

O primeiro ponto de observação é o da ditadura do modelo ideal de corpo ser transmitido em mensagens e perfis com promessas de alcance destes objetivos acima citados. Não podemos esquecer que nós humanos modelamos nossos comportamentos desde a infância nos modelos que nos são apresentados como “certo”, como referência de comportamento “adequado” ao longo do nosso desenvolvimento. E isso se potencializa exponencialmente no mundo virtual, extrapolando as referências de família, escola, grupos sociais diversos do mundo offline. É preciso todo cuidado ao identificar e escolher tais referências.

Um segundo ponto importante a lembrar é que a relação corpo x saúde x bem estar extrapola um modelo X de visual e vai muito além de um corpo magro. Se este modelo ideal de fato fosse verdade, não teríamos tantos casos de pessoas magras e obesas com taxas hormonais e vitamínicas desreguladas, hábitos alimentares tóxicos nem tantos casos de distúrbios alimentares, compulsão, depressão e ansiedade associados à busca de um “copo ideal” como meio de sucesso e felicidade.

A relação corpo x saúde x bem estar é um todo, um contínuo, e uma construção identitária e comportamental. Envolve escolhas, formas de pensar e agir diárias e que precisam de fato de orientação profissional multidisciplinar como referencial de suporte para que a educação sobre saúde integral seja feita de forma assertiva e provoque os jovens a tomarem decisões efetivamente saudáveis, pensando na sua saúde integral. A saúde física é 1 das 5 dimensões do ser e precisa ser olhada e cuidada em sintonia com as outras.

As 5 Dimensões do Ser

As redes sociais em si não são o problema. Torna-se um problema a depender do como esta ferramenta é utilizada na transmissão de estilos de vida, hábitos, estratégias tanto relacionadas a alimentação, atividade física, relação com o corpo, autoestima, autoconfiança, escolhas, decisões sobre saúde e bem estar.

Outro importante ponto de reflexão é o fato de as pessoas cada vez mais buscarem informações para escolhas de suas vidas de forma cada vez mais rápida e sintética, sem aprofundamento e verificação de fontes. Entender que toda e qualquer informação de perfis, posts, blogs, vídeos postados são “a verdade” é um sério perigo quando falamos de promoção de saúde e bem estar. E é fundamental alertar a todos a importância de pesquisar antes de praticar as milhares de estratégias disponíveis no mundo virtual propostas como solução para uma vida saudável.

E aqui fica o meu convite. Você usuário, seguidor de perfis, pessoa que busca informação para contribuir no seu processo de transformação; convido você a pesquisar as fontes das informações que seleciona, identificar e descartar as fake news, desconfiar de promessas imediatas e mirabolantes. Procure consultar-se com profissionais especializados na mudança que você quer para sua vida e saúde integral. Nenhum perfil, post, blog exclui o acompanhamento da sua jornada de cuidados e promoção de saúde e bem estar por estes profissionais especializados e devidamente qualificados para ajudar você em seu processo.

E você influenciador digital, blogger, comprometa-se a compartilhar informações verídicas, profissionais, e não somente focadas em atrair seguidores com promessas mágicas de transformação. Comprometa-se com contribuições efetivamente relevantes para a promoção de saúde e bem estar da sociedade, e não somente com seus objetivos pessoas e de negócio.

Transtornos Alimentares: 8 sintomas mais comuns e influências

Transtornos Alimentares: 8 sintomas mais comuns e influências

Falar dos transtornos alimentares é cada vez mais importante. Cada vez mais cedo ouvimos pessoas trazendo histórias de relação entre corpo, autoestima e alimentação com distorções significativas e provocando alto grau de sofrimento emocional, alto impacto para saúde geral, convívio social e relacionamentos.

Com o objetivo de esclarecer, prevenir e ampliar o olhar sobre os transtornos alimentares, resolvi escrever este artigo para falar de alguns sintomas mais comuns no nosso dia a dia, mas que por influências multifatoriais (cultural, social, psicológica, e fatores biológicos transgeracionais) terminam sendo “normalizados” como comportamentos desejados a serem praticados em busca de autoestima, afeto, aprovação, aceitação e reconhecimento social.

Os transtornos alimentares usualmente se expressam por uma insatisfação com a imagem corporal (magreza ou obesidade), mas também podem estar associados a outros comportamentos, por exemplo, como estratégias protetivas, de defesa, frente a medos conscientes ou inconscientes.

Os transtornos mais conhecidos ao público em geral são a Anorexia e a Bulimia Nervosa. Ambos envolvem uma distorção da imagem corporal que leva a comportamentos compulsivos compensatórios de uma insatisfação com esta imagem ou medos revelados ou não.

A anorexia se configura como um quadro de preocupação excessiva com o peso (a perda dele o medo de ganhá-lo) a partir de uma imagem corporal distorcida (superestimada), ou seja, supervaloriza e dá importância fixadamente à aparência e imagem corporal. Ao olhar-se no espelho, ainda que magra, a pessoa se reconhece como obesa e passa praticar comportamentos compulsivos (ex. dietas extremamente severas, excesso de atividades físicas, uso excessivo de laxantes, vômitos induzidos).

Já a bulimia se configura por quadro com episódios recorrentes de ingestão em 2h de grandes quantidades de alimentos que normalmente a maioria das pessoas não comeria ou não suportariam comer em condições saudáveis ( grandes quantidades de alimentos gordurosos, carboidratos, doces e outras “junky food”). Nestes casos, a preocupação com a imagem corporal, com a aparência é subestimada e a pessoa passa a não apresentar maiores preocupação (ou nenhuma) com a qualidade da sua alimentação, saúde em geral, cuidados físicos, estéticos, entre outros fatores de autocuidado e autoestima.

O fato é que estes quadros de transtornos alimentares, ainda que diferentes, apresentam pontos de conexão. Saber o que influencia na expressão destes quadros e sintomas mais recorrentes ajudará você ficar mais atento e buscar ajuda profissional (médico, nutricionista, psicólogo, psiquiátricas, entre outros), assim como a prestar atenção a pessoas que você ama à sua volta e que de repente estejam precisando desta ajuda.

Sintomas mais comuns no nível cognitivo, comportamental e emocional são:

  1. Perfeccionismo excessivo
  2. Baixa autoestima
  3. Ansiedade elevada,
  4. Pensamento dicotômico (tudo x nada, certo x errado, feio x bonito, “serve” x “não serve”, sucesso x fracasso, etc)
  5. Incapacidade de encontrar satisfação
  6. Medo mórbido de engordar e ideias fixas sobre emagrecimento e saúde
  7. Impulsividade e baixa tolerância à frustração
  8. Comportamento compensatório através da comida (restringir ou comer em excesso, evitar ou aliviar sofrimento).

Existem fatores que extrapolam o indivíduo e sinalizam como o contexto sociocultural influencia no estimular de um ou mais comportamentos relacionados aos transtornos alimentares. Aspectos reforçados pela sociedade como:

  • Família: agente de socialização, transmissão de mensagens sobre aparência da criança (comparações, críticas, foco no peso)
  • Pares: comentários na escola sobre o corpo da criança, brincadeiras de mal gosto
  • Cultura: imagens veiculadas na mídia, incentivo do culto ao corpo, a prática de atividade física em excesso, uso de hormônios, diuréticos, suplementos, medicamentos e dietas restritivas

Existem muitos outros fatores relacionados aos transtornos alimentares, sintomatologias específicas, comorbidades com outros quadros clínicos e outros aspectos. Este texto não pretende esgotar o assunto, mas sim chamar atenção ao que mais comumente observamos na prática clínica e nas interações sociais, comportamentos muitas vezes bem aceitos, estimulados ou “normalizadas” como exemplo seja de sucesso, bem estar, e prazer no viver. Procure informar-se com critério e não tenha receio de buscar ajuda profissional. Você pode sim construir uma nova jornada de vida e relação entre você x você, você x os outros e você x o mundo.