As 4 Forças da Psicologia

As 4 Forças da Psicologia

A ideia deste artigo surgiu fruto de dúvida muito recorrente que clientes que aparecem pela 1ª vez em sessão apresenta: “Lilah, por que existem várias linhas de terapia? Tem alguma diferença?”. E com o objetivo de clarificar um pouco mais esta dúvida sobre a psicologia, psicoterapia, resolvi escrever este texto sobre as 4 forças da psicologia, a visão metodológica por cada uma delas e seus principais autores.

A PSICOLOGIA

A Psicologia é uma ciência que estuda processos psíquicos, emocionais e comportamentais, e que conversa com diversas outras áreas relacionadas ao comportamento individual e de grupo, por exemplo a medicina, biologia, sociologia, antropologia, neurociências entre outras. Dentro da psicologia, existem diversas teorias que manifestam diferentes pensamentos, metodologias, técnicas, que revelam a multiplicidade de correntes, escolas, autores, e, mais do que isso, formas de observar, entender, explicar o fenômeno da existência humana, compreendendo o pensar, o sentir, o agir, o manifestar e o transformar.

1ª FORÇA: PSICANÁLISE

Esta linha teórica tem como seu principal autor Sigmund Freud (1856-1939), que era médico neurologista e primeiramente estudou fenômenos psíquicos, estruturando a teoria psicanalítica. Esta teoria trás uma proposta metodológica de escuta ativa (psicanalista) ao livre discurso e associação de ideias(paciente), sendo este discurso porta de acesso aos desejos, fantasias, impulsos e aos níveis da psiquê (ID, Ego, Superego, 3 níveis do Inconsciente) do indivíduo.

É uma linha entendida como psicodinâmica, isto é, que compreende o comportamento como resultado das manifestações psíquicas (desejos, impulsos, fantasias), estruturada com objetivo de tratar as psicopatologias através desta escuta ativa do livre discurso dos pacientes. Para Freud, o desejo sexual e as pulsões de vida (eros) e morte (tânatus) são as forças motriz e norteadora de toda a manifestação psíquica e comportamental. Além disso, esta linha foi a 1ª a se preocupar com as manifestações psicossomáticas de sintomas, ou seja, expressões no corpo de conteúdos psico-emocionais não nomeados e expressos pelo discurso.

2ª FORÇA: BEHAVIORISMO OU PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL

Esta 2ª força da psicologia trás o olhar científico para a psicologia, a partir dos estudos de John B. Watson (1878-1958), psicólogo americano, que estruturou a teoria comportamental, a partir de seus estudos de laboratório sobre condicionamento operante em ratos de laboratórios. Ele trás este olhar da psicologia com foco no comportamento, ou seja, no que é de fato manifesto pelo indivíduo, sem incluir os fenômenos internos que, segundo ele, não seriam mensuráveis à observação, daí o enfoque no comportamento expresso.

Nesta abordagem, o objeto de estudo e trabalho da psicologia é o comportamento e entende a psicologia como ramo das ciências da natureza, biológicas. Repudia os autores com viés mentalista, a introspecção e os fenômenos psico-emocionais.

Porém vale ressaltar que este é o primeiro autor e os primeiros estudos desta 2ª força da psicologia. Mas, como todas as áreas, houve contribuições de outros autores que levaram a evolução, melhoria contínua, e expansão de conceito.

E aqui vale chamar a atenção para o autor Aaron Beck (1921- ), psiquiatra que estruturou a metodologia da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), entendida dentro desta 2ª força da psicologia como parte da 3ª onda da TCC, sendo a 1ª onda, a linha comportamental behaviorista (acima comentada), a 2ª onda a terapia cognitiva, e a 3ª onda a proposta do Beck, da terapia cognitivo comportamental, que inclui o estudo e manejo das cognições (pensamentos), das emoções e do comportamento, como parte estruturante do fenômeno humano .

 3ª FORÇA: HUMANISTA

A 3ª força da psicologia – humanista – surgiu como uma reação direta à proposta comportamental da 2ª força, visto mais acima. Segundo a visão humanista, o behaviorismo via o ser humano como uma máquina, ignorando seus fenômenos internos, processos afetivos e emocionais, e isto era insuficiente para compreensão e manejo das questões humanas e existenciais.

Nesta abordagem, que se destacou a partir da década de 1950, o ser humano é entendido como ser criativo, dotado de habilidades e capacidades de autorreflexão, tomada de decisão, de fazer escolhas e com valores norteadores da sua existência, isto é, uma capacidade de promover autorrealização. Seu autor considerado fundador desta 3ª força é o Abraham Maslow, que já defendia a bandeira de que, muitas vezes, adoecemos não só por aspectos patológicos, mas também por bloquear ou inibir aspectos saudáveis.

O objetivo da psicoterapia nesta vertente é de desenvolver e promover indivíduos criativos e saudáveis. E Carl Rogers foi um dos autores de maior destaque com o seu enfoque de psicoterapia centrada na pessoa, chamando a atenção para a capacidade do ser humano de modificar e ressignificar conceitos sobre si mesmo, suas posturas, comportamentos, e suas realizações, especialmente em ambientes e contextos que favoreçam a expressão do seu potencial e desenvolvimento psíquico.

4ª FORÇA: TRANSPESSOAL

A abordagem transpessoal,que surgiu a partir da década de 1970, é entendida como a 4ª força da psicologia por promover uma visão mais integrativa, um sincretismo teórico que inclui as contribuições de Carl G. Jung (Psicologia Analítica), Abraham Maslow, Viktor Frankl (Logoterapia), Ken Wilber , Stanislav Grof, Fritz Pearls e Max Wertheimer (Psicologia da Gestalt). Neste sentido, a visão de homem era de que o indivíduo precisa transcender à sua psiquê para busca de integração e conexão com o todo e realidades maiores, mais abrangentes (transpessoais).

Nesta abordagem, o homem é visto como um ser parte de um sistema maior e que ambos exercem influência recíproca no desenvolvimento. A psicologia transpessoal promove o estudo e técnicas que promovam expansão da consciência, como a hipnose, meditação, técnicas de relaxamento, além de promover diálogo com a física quântica. Há aqueles que a nomeiam como linha espiritualista por promover este olhar de busca da transcendência e conexão com o todo, seja ele Deus, natureza, universo, as artes, ou contextos mais socioantropológicos, macro ou microssociais.

Considerações Finais

Esta contribuição de hoje serve para ampliar um pouco o conhecimento sobre a psicologia, especialmente para o público leigo e/ou curioso, que gosta de saber mais sobre autoconhecimento e desenvolvimento humano.

Mais importante ainda é chamar a atenção de que nenhuma das linhas de psicoterapia é melhor ou pior que outra. Elas estão ao nosso dispor para que possamos nos conectar com aquela que melhor faz sentido para o nosso “cavar” e “lapidar” contínuo que o autoconhecimento em processo de psicoterapia nos convida fazer diariamente. O texto ajuda a compreender um pouco mais sobre as diferentes abordagens e seus autores de referência, assim como visões e contextos sócio-histórico de estruturação.