TRANSGÊNERO: o que significa?

TRANSGÊNERO: o que significa?

O debate sobre o preconceito tem sido cada vez mais ampliado, especialmente no que diz respeito às questões de gênero, violência e direitos humanos. Pensando em contribuir positivamente para esta reflexão, hoje falaremos sobre o que significa transgênero.

O CONCEITO

O termo transgênero diz respeito a uma identidade de gênero auto-atribuída pelo indivíduo que se percebe diferente seu sexo biológico. Por exemplo, um homem transgênero reconhece-se como homem, porém nasceu com sexo biológico feminino, assim como uma mulher transgênero se reconhece como mulher, porém nasceu com genitália e aparelho reprodutor masculino.

É importante ressaltar que o termo transgênero não se restringe apenas à oposição entre percepção identitária oposta à configuração biológica (sexo biológico, masculino x feminino). Este conceito inclui variações identitárias, ou seja, pessoas que não se reconhecem exclusivamente masculinas ou femininas, ou identidades de gêneros não-binárias, como é o caso dos bigênero, pangênero, poligênero, demigênero, gênero neutro, terceiro gênero, agênero, e gênero fluido.

HISTÓRIA DO CONCEITO

O termo transgênero foi definido pela 1ª vez em 1965 pelo médico psiquiatra da Universidade de Columbia John F. Oliven. Foi ele quem defendeu a ideia de diferença e dissociação do conceito de transgênero em relação aos conceitos de sexo biológico e orientação sexual. Ele trouxe esta visão de identidade, ou seja, daquilo que é visto, percebido, atribuído pelo indivíduo e pela comunidade. Nos anos de 1970, os termos “pessoa transgênero” e “pessoa trans” passaram a ser utilizados em termos gerais pela comunidade, sendo abreviado para a sigla TG em 1976, em materiais educativos.

Do termo transgênero evoluiu-se para criação do conceito de “comunidade transgênero”, em 1944, contribuindo para geração de apoio, pertencimento, defesa da causa e a estruturação de políticas e direitos da pessoa transgênero a partir do Conferência Internacional sobre Direito Transgênero e Política de Emprego em 1992.

TRANSEXUAL X TRANSGÊNERO

O termo transexual, ou transexualidade, diz respeito a aspectos mais materiais do sexo, ou seja, aspectos anatômicos, características físicas, biológicas, extrínsecas ao indivíduo. Já o termo transgênero diz respeito às características intrínsecas, ou seja, sua autopercepção identitária, sua autoimagem, desejo e relação com sua sexualidade.

Assim, é possível perceber pessoas transgênero que, na busca de congruência transgênero, ou seja, autenticidade, congruência genuína entre como se percebem, sua identidade, sexualidade com o corpo e características físicas, para se sentirem confortáveis com sua aparência física externa, terminam buscando por tratamentos hormonais, cirurgias de mudança de sexo e redesignação sexual e psicoterapia como estratégia de alinhamento entre aspectos intrínsecos e extrínsecos de sua autoimagem e identidade de gênero. Mas nem todos os transgêneros necessariamente passam por estes tratamentos, seja porque não sentem necessidade destas estratégias para se reconhecerem como tal e serem autênticos na sua expressão e vida, seja pelos custos envolvidos, especialmente nos tratamentos hormonais e cirurgia. 

Outro ponto importante a ser ressaltado quanto à esta questão é que o conceito de transgênero não se relaciona ao de orientação sexual, mas como falamos, a uma identidade, a uma autopercepção, a uma autoimagem. Isto significa dizer que existem pessoas transgênero que possuem e praticam diferentes orientações sexuais, a exemplo:

  • Heterossexual: pessoa relaciona-se com outras do sexo oposto;
  • Homossexual: pessoa relaciona-se com outras do mesmo sexo;
  • Bissexual: pessoa relaciona-se com outras de ambos os sexos;
  • Pansexual: pessoa que se sente atraída sexualmente por outras pessoas apenas por atributos psicoemocionais, não sexuais;
  • Assexual: pessoa que não sente qualquer interesse por atividades sexuais.

Obs: Esta classificação de orientação sexual vale tanto para pessoas transgênero como para as cisgênero (identidade de gênero correspondente ao sexo biológico).

PRECONCEITO

Infelizmente a maior parte das pessoas transgênero têm enfrentado muitos tipos de preconceito e discriminação, em questões de direitos, necessidades, respeito, pertencimento (família, escola, instituições, grupos sociais, etc) bem como no mercado de trabalho.

Isto reflete o quanto é importante falar cada vez mais sobre as questões de gênero no sentido de esclarecer dúvidas, quebrar mitos limitantes e preconceituosos, assim como contribuir para a sociedade caminhar e estruturar leis e regras de respeito efetivo à pessoa.

A transfobia é o preconceito à pessoa transgênero de forma geral. Se levarmos em conta que todos somos seres humanos, simplesmente não faz o menor sentido qualquer tipo de preconceito, já que todos fazemos parte de uma mesma espécie, homo sapiens. Sendo assim, toda forma de preconceito trás consigo aspectos de medo (fobia, aversão) ao diferente associado a ideologias e práticas de desrespeito, violência e exclusão.

Historicamente, ao nascermos, uma informação levada em conta para termos nosso primeiro registro (ex. certidão de nascimento) é a identificação do nosso gênero biológico. Por conta disso, o gênero costumou ser identificado, a partir da nossa genitália, do nosso sexo biológico, ou seja, de como viemos ao mundo e com quais recursos físicos (características físicas biológicas), enquanto corpo e ser da espécie humana.

Mas com o passar dos anos, a partir das contribuições dos diversos estudos nas áreas da psicologia, psiquiatria, comportamento, sociologia, antropologia, relacionados à questões de gênero, uma separação conceitual progressiva passou a ser estruturada e precisa seguir sendo fortalecida, passando o gênero (cisgênero ou transgênero) a ser relacionado à construção da identidade (individual, social, cultural), a sexualidade como uma esfera de expressão de aspectos identitários e físicos, a orientação sexual como a forma como o indivíduo se relaciona (consigo e com os outros) no exercício da sua sexualidade, e o sexo biológico relacionado a aspectos puramente físicos e anatômicos do sujeito.

Portanto, é preciso falar para refletir, compreender, esclarecer cada vez mais. O entendimento e a consciência levam a mudanças comportamentais efetivas. Pensar que falar sobre todas estas questões é estimular, promover é um erro grotesco, preconceituoso e enviesado, assim como falar de suicídio não estimula mais pessoas se matarem, mas, pelo contrário, incentiva-as serem acolhidas, ouvidas, respeitadas e estimuladas a pensarem em novos sentidos para continuar existindo.

A educação é e sempre será uma poderosa ferramenta para quebrar e vencer todo e qualquer tipo de preconceito, violência e exclusão. Pratique ela com as pessoas à sua volta e faça a sua contribuição direta para promovermos juntos o mundo como um lugar melhor para se viver.

Empoderamento: como conquistar

Empoderamento: como conquistar

Empoderamento é uma palavra bastante usada nos últimos tempos, especialmente em debates sócio-políticos e comportamentais. A palavra significar “dar poder” e isto pode ser feito de diversas formas.

Quando trazemos este debate para a esfera do coaching e também da psicoterapia, ela nos provoca refletir sobre dois conceitos: auto-estima e poder de ação.

Auto-estima

Falar de auto-estima é considerar a relação que a pessoa estabelece consigo mesma, ou seja, como funciona a estima que ela tem por si mesma. Isto se estrutura a partir do seu desenvolvimento psíquico e relacional, a partir de sua criação, dos estímulos recebidos a partir das suas interações com familiares, amigos, escola e outras esferas de relacionamento, bem como o quanto ela é incentivada a conectar-se consigo mesma, suas potencialidades e habilidades.

Quando falamos que alguém tem uma “auto-estima em dia”, sugerimos que ela está bem consigo mesma, com “auto-estima elevada” ou positiva. E dizemos que ela está empoderada de sua identidade, de seus recursos, para fazer e realizar o que se propõe. Do mesmo modo, quando alguém se autodeprecia, não confia na sua competência, nas suas habilidades e potencialidades, significa que esta pessoa está com uma “auto-estima baixa”, necessitando empoderar-se. Isto é, precisando resgatar sua identidade, apropriação de suas fortalezas e do que faz ela ser única no mundo.

Em suma, falar de auto-estima significa entender qual a avaliação que o sujeito faz de si mesmo, se positiva ou negativa, se fortalecedora ou depreciativa, e, consequentemente, perceber quais emoções associadas ele tem a partir desta autoavaliação, como ele se relaciona e se posiciona no mundo.

Poder de ação

Poder de ação é um conceito relacionado à capacidade que o indivíduo tem de entrar em ação, de mobilizar suas forças para agir, rumo a um posicionamento, mudança, transformação, resultado a ser alcançado.

Quando falamos de empoderamento, trazemos a reflexão de que uma pessoa empoderada é uma pessoa que tem poder de agir, de entrar em ação, de expressar suas necessidades, de lutar pelos seus direitos, e de seguir rumo aos resultados que deseja alcançar, fazendo o que for necessário para alcançá-los. De modo contrário, uma pessoa não empoderada, encontra-se com seu poder de ação limitado ou mesmo comprometido, tendo dificuldades de agir, de mobilizar esforços, de providenciar recursos e mesmo de buscar a ajuda necessária para conseguir o que deseja alcançar.

Como conquistar o Empoderamento?

Para conquistar o Empoderamento, a grande sacada é você desenvolver de modo integrado estes 2 conceitos na relação consigo mesmo: auto-estima e poder de ação.

Estabelecer uma relação de gostar de si mesmo, de suas potencialidades, de suas habilidades, incluindo aceitar suas imperfeições e limitações é o caminho de estruturar uma auto-estima positiva, saudável, e construir uma identidade integrada e fortalecida, criando condições psíquicas para que você possa entrar em ação.

À medida que você acredita no seu potencial, na sua competência, habilidades, diretamente contribuir para tomar consciência do quanto pode agir para gerar resultados, transformações e mudanças, seja para si mesmo, para ajudar outras pessoas e contribuir para o mundo.

O poder de ação acontece a partir desta relação saudável consigo mesmo, de reconhecer o que precisa ser feito para alcançar o que deseja, e de se propor a entrar em ação, fazendo o que precisa ser feito, apesar do medo e apesar das próprias limitações. É assim que se conquista o empoderamento, desenvolvendo sua resiliência, sua capacidade de superar as adversidades / desafios de jornada, numa relação positiva consigo mesmo e com sua capacidade de mobilizar esforços para entrar em ação.