TRABALHO E FAMÍLIA: como conciliar em tempos de pandemia

TRABALHO E FAMÍLIA: como conciliar em tempos de pandemia

Todos fomos levados a colocar em prática o distanciamento social como uma das estratégias de combate ao corona vírus, de conter a curva de propagação do vírus, proteger-nos e proteger nossos familiares, assim como não colapsar o sistema de saúde. Todos tivemos de ficar em casa sem previsão, e com isto vieram muitos desafios , dentre eles o conciliar do trabalho com os cuidados com a família. Para ajudar neste desafio, deixo aqui 4 dicas para você:

  • TAREFAS DOMÉSTICAS: procure envolver todos os familiares que estejam em plenas condições de saúde nos cuidados com a casa e tarefas domésticas. Quando fazemos juntos, dividindo as tarefas, dedicamos menor tempo e ninguém fica sobrecarregado sozinho. As crianças também podem ajudar em algumas tarefas apropriadas para sua faixa etária, é uma forma de educa-las sobre a importância da organização, responsabilidades, e elas se sentirem participantes ativas;
  • TRABALHO: exigir-se ter a mesma rotina que você tinha quando no escritório, empresa, ou outro trabalho que você fazia antes fora de casa é simplesmente irreal. O contexto mudou, a rotina é outra, os recursos não são os mesmos. Então procure dividir sem tempo entendendo que o trabalho é parte do seu dia e não a única e mais importante atividade a dedicar seu tempo. Cuidar de si e da sua família é muito importante e demanda tempo. Procure distribuir suas atividades profissionais ao longo da semana e combine com eles qual horário você focará nele e que não poderá ser interrompido com distrações;
  • ROTINA PARA TODOS: procure negociar com todos os envolvidos como será a rotina da família, bem como as individuais, incluindo as crianças. Quais tarefas precisam ser cumpridas, horário das refeições, quem sairá se necessário for, horários para dormir, refeições, atividade física e incluir tempo para lazer, descanso, diversão juntos. É preciso manter corpo, mente e espírito saudáveis para atravessar esta jornada da melhor forma possível;
  • APOIO, ESCUTA, ACOLHIMENTO, COMPAIXÃO: todos neste contexto estão expostos a alto grau de estresse com as mudanças de rotina, preocupação extrema com a saúde e preservação, o que nos faz vivenciar muitas experiências psicoemocionais, mudanças de humor súbitas, mudanças comportamentais. É preciso que todos se apoiem, compartilhem as vulnerabilidades, peçam e ofereçam ajuda e acolham os momentos de fragilidade uns dos outros. Apoio, escuta e pertencimento é fundamental para fortalecer a resiliência individual e do núcleo familiar.

Estas dicas foram pensadas para otimizar o dia a dia da família como um todo, entendendo que todos são corresponsáveis pelo lar, pelo bem estar e qualidade de vida do coletivo em domicílio. É fundamental aceitar o contexto que estamos vivendo e nos colocarmos abertos a buscar as melhores soluções ao alcance, ainda que temporárias frente ao contexto maior de incertezas.

Agora é hora mais do que nunca de pensarmos no todo, no que é melhor considerando todos os envolvidos e não focar nos interesses individuais para não sobrecarregar ninguém, muito menos gerar conflitos familiares desnecessários, quando já estamos diante de tantos outros problemas tão mais relevantes que nos exigem diariamente muita energia, discernimento, disciplina e aceitação para encarar o contexto macro. Vamos focar no que realmente importa neste momento. Desejo boa sorte e sabedoria a você e sua família para colocar em prática estas dicas e promoverem juntos um ambiente mais saudável e colaborativo para atravessar esta pandemia com os menores impactos.

COACHING FAMILIAR

COACHING FAMILIAR

Falamos em outro artigo aqui no blog sobre a existência do Coaching Integral Sistêmico, que é um processo de coaching holístico e que propõe ao coachee ampliar sua visão e promover mudanças, melhorias, transformações de forma integral na sua vida, entendendo que mexendo em uma esfera o impacto será no seu sistema como um todo.

Com este mesmo olhar, podemos entender o Coaching Familiar, ou seja, como uma proposta de coaching integral sistêmico, de modo a ajudar uma família a promover melhorias, mudanças e transformação de forma holística, envolvendo todos os membros como partes importantes, como agentes corresponsáveis pelo alcance das melhoras pretendidas para o grupo familiar.

O Coaching Familiar é um tipo de life coaching, ou seja, focado em melhorias com foco em bem estar, qualidade de vida, melhoria na qualidade dos relacionamentos, da comunicação entre membros da família, aprendizado de habilidades sociais em comunidade, entendendo que a família é um sistema que tem dinâmicas próprias, e que inclui as dinâmicas individuais dos participantes.

Por este motivo fica claro ser ele uma proposta de trabalho de desenvolvimento humano, através da metodologia do coaching, em grupo, com um coach ajudando este grupo familiar a alcançar algum objetivo ou resultado específico.

Para ficar mais claro, vamos trabalhar um exemplo específico: digamos que uma família esteja com dificuldades financeiras e isto impacta em menos lazer, menos diversão, maior privação de viagens e aquisição de bens, assim como não conseguem guardar uma reserva para emergência muito menos investir. Emocionalmente, todos se encontram mais estressados, desmotivados, irritadiços, sendo estas emoções servindo de gatilhos para discussões e desentendimentos, o que só pioram o quadro relacional e não resolve o ponto específico, melhor gestão das finanças para promover mais lazer, diversão, viagens, aquisição de bens e investimentos. Este é o estado atual do sistema familiar, com impacto negativo direto (incômodos) em todos os membros.

Este coach atua junto ao grupo familiar provocando os mesmos entenderem sua participação e corresponsabilidades na geração deste estado atual (dificuldade financeira, menos diversão, sem investimentos). Ele auxilia os membros a estruturarem uma meta específica em comum (ex: reduzir gastos e melhorar a gestão financeira para proporcionar mais lazer, diversão, viagens e investimentos até 31/12/20) e, a partir desta, definem papéis, uma missão para cada alinhada com o objetivo do grupo, distribuindo tarefas/ações para cada 1 em formato de rota de ação construída com eles.

A ideia é provocar todos os familiares se sentirem diretamente responsável por gerar resultados que acelerem/aproximem todos do alcance deste objetivo, cada um fazendo sua parte, sem pesar para ninguém.

Os benefícios deste tipo de coaching são:

  • Melhoria nas relações entre membros;
  • Melhoria na comunicação e expressão de necessidades, direitos, emoções, opiniões;
  • Maior cooperativismo;
  • Empatia, paciência, tolerância, compaixão;
  • Maior engajamento;
  • Aprendizado e melhoria nas habilidades de negociação e tomada de decisão;
  • Ampliação de visão e mudança de mindset dos membros: eles passam a enxergar a família como um sistema gerador de benefícios e bem estar para todos, sendo todos responsáveis por isto, e que não se trata de uma reunião de pessoas com interesses e objetivos individuais que compartilham o mesmo teto.
ALCOOLISMO: qual a relação da família no tratamento

ALCOOLISMO: qual a relação da família no tratamento

Alcoolismo, ou Síndrome de Dependência do Álcool (SDAS),  como atualmente é nomeada, é um dos tipos de dependência química, ou seja relacionada ao uso de substância psicoativa que, no caso o álcool, age no sistema nervoso central e gera alterações de comportamento, humor e cognições.

É uma substância depressora, capaz de lentificar nossa atividade cerebral, diminuir a velocidade de processamento, provocando a redução de limites, e causando efeitos como desinibição, sonolência, desatenção, desconcentração, letargia.

É uma doença hoje considerada em níveis graves em termos de saúde pública, mas  que apresenta dificuldades ainda em seu reconhecimento e tratamento por questões culturais presentes na cultura brasileira que validam o uso social e recreativo do álcool. Muitas pessoas ainda não associam o uso abusivo e frequente do álcool a uma doença, a uma dependência química.

O alcoolismo, assim como outras doenças e dependências químicas, é um complexo fenômeno, já que envolve fatores de natureza biológica (componentes genéticos, hereditários), psicológica (temperamento, personalidade, recursos psicoemocionais), e social (interações sociais, relacionamentos, experiências pessoais, profissionais, cultura, etc). Existem alguns fatores que estimulam e/ou levam muitas pessoas ao uso do álcool de forma abusiva e/ou estabelecer a dependência química, são eles:

  • Curiosidade
  • Influência de amigos e familiares (incentivo sócio-cultural)
  • Busca de autoafirmação (baixa autoestima)
  • Desejo de fuga dos problemas (evitação)
  • Coragem para agir
  • Busca de prazer
  • Dificuldades para lidar com situações difíceis, dolorosas
  • Hábito (dependência)
  • Redução de ansiedade, raiva e/ou irritação (hiper-compensação)
  • Facilidade de acesso

E no âmbito das interações sociais, família e amigos, é importante reconhecer qual o papel deles , qual a relação que eles têm no sentido de incentivar o uso ou ajudar o paciente no seu tratamento.

AMIZADES

Como falamos mais acima, os amigos podem ser um dos fatores que estimulam o uso do álcool. Isto acontece quando grupos costumam se reunir com frequência e necessariamente sempre envolvendo o uso do álcool, o que para um dependente ou uma pessoa sujeita desenvolver a dependência química do álcool, este fator termina se configurando como gatilho para o uso abusivo que, com o passar do tempo, estimulam o desenvolvimento da dependência.

Isto não quer dizer que as amizades são sempre um fator de risco. Falar isso seria uma distorção de hiper-generalização. Mas o fato é que, é preciso que a pessoa que tenha a dependência ou esteja sujeita a desenvolver, amplie seu leque de relações de modo que ele possa encontrar pessoas que não façam uso do álcool e sirvam de apoiadoras no seu processo. E que aquelas que façam uso eventual, meramente recreativo, também possam ajudá-la a resistir e restringir o uso de álcool contribuindo positivamente no seu processo de recuperação e prevenção de recaídas, mostrando que é possível socializar-se e divertir-se sem necessariamente envolver o consumo de álcool.

FAMÍLIA

A família é um dos componentes mais complexos e multideterminante nos casos de alcoolismo. Seja pela presença do componente hereditário (base biológica), seja pela transmissão do comportamento (modelação e transmissão transgeracional), seja por gerar outros fatores de estímulo/incentivo ao uso abusivo e dependência (validação do uso do álcool no ambiente familiar , aspectos culturais, facilidade de acesso, frequência de uso x hábitos familiares, relações conflituosas, etc).

Muitos pacientes iniciam seu uso de álcool muito cedo e mesmo dentro do ambiente familiar, seja porque o alcoolismo já está presente e instalado naquela família, seja por fatores de incentivo a partir das interações sociais e familiares.

É muito comum também a presença do uso de álcool associado a outros processos de sofrimento ou adoecimento psicoemocionais (depressão, ansiedade, compulsões, etc). Se é um fator preexistente num contexto familiar, o risco é ainda maior para as crianças neste ambiente entenderem como algo normal, corriqueiro, habitual e mesmo benéfico o uso do álcool, facilitando assim o início cada vez mais jovem e a estruturação da dependência química a partir de influências familiares.

Outro componente importante a ser ressaltado é a resistência de muitos usuários  a encarar este hábito como doença, como dependência química,  e não entender a necessidade de busca de ajuda e tratamento profissional. Isto prejudica tanto a ele como às relações familiares à sua volta, já que seus familiares muitas vezes são expostos a seus sintomas, prejuízos, internações, acidentes de trânsito, situações difíceis, conflitantes, ou mesmo constrangedoras para eles e para o próprio usuário.

Uma informação de grande relevância sobre o impacto do alcoolismo na família está neste trecho extraído de artigo científico (mais abaixo):

“sobre os efeitos do alcoolismo na família, estudos demonstram que viver em um ‘ambiente alcoolista’ afeta negativamente os descendentes de alcoolistas e que, para cada alcoolista, cinco ou seis pessoas da família são afetadas. Problemas familiares como desavenças, falta de credibilidade e desconfianças são sentimentos despertados nas pessoas que já passaram pela experiência de ter um dependente e, quando há um dependente na família, todos adoecem.” (Filizola, Perón, Nascimento, Pavarini & Filho 2006)

Neste trecho, os autores nos elucidam o quanto o alcoolismo têm este potencial de acometer não só o usuário, mas toda a sua família, assim como a dependência relacionada a outras substâncias psicoativas e mesmo outros quadros de enfermidade. Isto trás a tona a importância de olhar o problema do alcoolismo como sistêmico, não só com foco no usuário, mas também incluir, acolher, ouvir, orientar e convidar os familiares a participarem ativamente do tratamento do paciente em questão, contribuindo para sua melhoria e a de todos envolvidos.

Assim como falamos das relações de amizades, a família exerce um papel chave no tratamento e prevenção.  Se o paciente tem uma família apoiadora, com relações mais saudáveis e que entende que de fato aquele familiar tem um problema de saúde a ser tratado, a família pode servir de “escudo” frente à situações de risco, ajudando o paciente a mapeá-las assim como evitá-las, contribuindo positivamente para o tratamento.

Porém, quando se tratam de famílias tóxicas, ou seja, com muitas relações conflituosas, turbulentas, adoecidas ou mesmo que contribuam para o sofrimento psicoemocional do paciente, potencializando quadros de ansiedade, depressão, angústia e inseguranças frequentes dos mesmos, esta família pode se tornar mais um fator de risco para o paciente, e incentivando a buscar alívio do seu sofrimento no uso contínuo do álcool como estratégia “relaxante” e/ou “anestésica” frente ao seu sofrimento.

Para saber mais sobre alcoolismo e compreendê-lo na família e seus impactos, acesse: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452006000400007

https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/4579.pdf

 

O desafio da Comunicação Interpessoal

O desafio da Comunicação Interpessoal

A comunicação interpessoal envolve troca de informações entre pelos menos 2 pessoas, sendo uma a emissora (quem emite a informação) e a outra a receptora (quem recebe a informação). Parece simples o processo à primeira vista, porém se lembrarmos que cada um destes participantes pode ser de culturas, línguas e localidades completamente distintas, a comunicação em alguns casos pode se tornar extremamente limitada ou mesmo não acontecer.

Isso porque o maior desafio da comunicação interpessoal é gerar o entendimento, ou seja, fazer com que o receptor entenda a mensagem exatamente como ela foi emitida pelo emissor, com todos os sentidos preservados. Isto se torna de fato um desafio, uma vez que este entendimento passa tanto pelos filtros de quem emite a mensagem (o como fala, como informa) como do receptor (se ouve, como ouve).

Disponibilidade Emocional

Falo muito em sessões de terapia e coaching sobre disponibilidade emocional, sempre perguntando o quanto cada cliente está de fato disposto a encarar a realidade, a se deparar com as evidências do que foi feito e do que não foi feito. E isto é importante ser trazido para este diálogo sobre comunicação interpessoal, uma vez que esta (in)disponibilidade emocional interfere totalmente, seja no falar (ou não falar) como no ouvir (ou não ouvir) uma informação.

Isto é rapidamente confirmado se lembramos exemplos de conflitos familiares, de relacionamento, entre colegas de time e com chefia em que muitas destas situações de conflitos eram eclodidas seja por conta do como se falou (agressivo, desqualificador, desrespeitoso, indiferente, opressor, etc) seja por conta de como se ouviu (sem atenção, sem interesse, com interrupções, etc).

Filtros culturais e ideológicos

Muitas destas indisponibilidades (emocionais ou não) para a comunicação passam também por questões culturais, ideológicas, de valores, intolerâncias (religiosa, de opinião, crenças, sexo, grupos, etc).

Isso podemos totalmente vivenciar em grande intensidade nas últimas eleições para presidente, verificando a “olho nu” o quanto pessoas se digladiavam online ou offline para emitir suas opiniões, sem necessariamente estarem abertas a ouvir e acolher a do outro, muito menos as diferenças de posicionamento, chegando a muitos casos de agressividade física, separações e distanciamentos familiares, episódios de espancamento e mesmo assassinato. Uma triste realidade que exacerbou quem somos enquanto sociedade e evidenciou a nossa indisponibilidade para efetivar de forma assertiva uma comunicação interpessoal.

Muitos dos que opinavam se colocavam em verdadeiro “campo de guerra”, cada um com suas “armas” e defesas. E muitos que não opinavam calavam-se para evitar conflitos, evitar explodir com quem tanto gosta e respeita, evitar se expor e outros tantos comportamentos evitativos.

Este exemplo serve para ilustrar o quanto a comunicação interpessoal pode ser prejudicada por conta dos filtros ideológicos, culturais e emocionais. E nos chama a atenção para como é importante termos cuidado e sermos empáticos na hora de estabelecer uma comunicação com nosso interlocutor.

Como podemos melhorar

Se exercitamos a empatia, se pelo menos nos colocamos no lugar do outro mentalmente considerando quem é esta pessoa com a qual conversamos, como ela gostaria de ser tratada, como ela receberia com maior abertura nossa informação, isto nos permite não só ajustar o nosso como emitimos, mas especialmente o como ouvimos o outro a partir do que falamos. Não significa falar o que o outro quer ouvir, mas sim falar com respeito a si e ao outro. Consequentemente, a comunicação, ao invés de se tornar ponto de mais um conflito, ela se torna espaço de conexão, esclarecimento, entendimento, amor, paz.

Sendo assim, uma comunicação interpessoal de sucesso acontece quando emissor e receptor se colocam interessados e disponíveis emocionalmente, ideologicamente e culturalmente para falar e ouvir respeitando e incluindo o outro no processo, entendendo que ela só é real de fato quando este circuito emissão >> recepção >> retroalimentação acontece com abertura e respeito.