Esquema de EMARANHAMENTO: características

Esquema de EMARANHAMENTO: características

O esquema emocional de emaranhamento é um dos 18 esquemas mapeados pelo psicólogo Jeffrey Young (2008) dentro da abordagem da terapia dos esquemas. Este esquema é parte do domínio Senso de Autonomia e Competência, ou seja, em que a necessidade emocional básica de autonomia e independência mostrou-se ausente ou prejudicado no desenvolvimento do indivíduo.

Isso pode ter se dado por diferentes motivos ao longo do desenvolvimento da criança na relação com seus pais e tendo eles como primeiros fornecedores de suas necessidades emocionais básicas.

Um exemplo disso são situações em que pais ou primeiros cuidadores, por excesso de zelo e superproteção, terminam por fazer e/ou decidir tudo pela criança. Este comportamento parental, de forma recorrente e continuada, acaba tirando da criança e do adolescente a oportunidade de explorar o ambiente, experimentar fazer as coisas por conta própria, desenvolver habilidades, descobrir interesses, inclinações próprias e talentos, aprender com eventuais falhas e desenvolver senso de identidade, autonomia e independência.

Há casos de pessoas que não desenvolveram este senso de self independente por conta de figuras parentais abusivas, opressoras, dominadores, controladoras em excesso, que podem ter isolado ou privado a criança e/ou adolescente de ampliar sua rede de relacionamento e desenvolvimento de habilidades, restringindo seu aprendizado ao contexto familiar por longos anos. Como consequência, estes indivíduos somente conhecem como certo, verdadeiro, como realidade, crenças, valores e comportamentos provenientes do seus pais, desenvolvendo uma autopercepção de incompetentes e/ou incapazes de tomarem decisões , fazerem escolhas e resolverem problemas sozinhos, dependendo excessivamente dos seus pais para se colocarem no mundo.

CARACTERÍSTICAS

Pessoas que apresentam este esquema emocional ativado costumam apresentar algumas características como:

  • Sensação de estar fundidos, emaranhados, com outras figuras próximas que podem ser parceiros, pais, amigos ou outros vínculos de importância;
  • Dificuldades de reconhecerem gostos, preferências, desejos e vontades próprias, assimilando como seus os interesses e opiniões dos outros de forma consciente ou inconsciente;
  • Self subdesenvolvido, ou seja, uma identidade não contruída ou não fortalecida, com dificuldade de reconhecer-se como indivíduo, a parte e/ou independente de pessoas que para elas são importantes;
  • Podem se sentir invadidas ou asfixiadas pela constante presença e interferência do outro em suas escolhas, decisões, rotina;
  • Podem se sentir frágeis, vulneráveis, incapazes de tomar decisões sozinhas com dificuldades de fazer escolhas, resolverem problemas e entrarem em ação;
  • Sensação de vazio constante por não conseguirem se reconhecer como identidade, não terem clareza de seus interesses, gostos, preferências, habilidades, talentos e inclinações naturais;
  • Podem evitar situações de tomada de decisão, de mudança, ou fazer escolhas baseadas no que outros acreditam ser importantes ou certo para elas, evitar conflitos, estabelecer ou fortalecer a dependência emocional em relação aos outros;
  • Inibição de opiniões, emoções, sentimentos, posicionamentos, falta de espontaneidade, por falta de clareza do que de fato é próprio ou por não saberem como agir;
  • Podem copiar comportamentos daqueles aos quais se encontram emaranhadas;
  • Podem sentir culpa ou senso de incapacidade de viver de forma autônoma e independente. (YOUNG, 2008, pág. 204-206)

A terapia do esquema é uma estratégia chave no tratamento deste esquema emocional, auxiliando a pessoa na tomada de consciência de seu esquema em funcionamento e suas estratégias de enfrentamento (evitativas, hipercompensatórias e de resignação). Permite trabalhar tanto no nível cognitivo, emocional e comportamental para fortalecer seu senso de identidade, trabalhar o autoconhecimento de interesses, gostos, preferências de forma independente, desenvolvimento de habilidades sociais, entrar em contato com seus talentos, e aprender a viver de forma plena, autêntica, espontânea, com autonomia e independência em relação aos outros.

Para ampliar a reflexão, segue sugestão de conteúdo e título que serviu de referência para este artigo:

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

Esquema de ISOLAMENTO SOCIAL: características

Esquema de ISOLAMENTO SOCIAL: características

O psicólogo e autor da abordagem da terapia do esquema, Jeffrey Young, mapeou até o momento 18 esquemas emocionais, a partir dos seus estudos, pesquisas com colaboradores e vivência clínica. Como se trata de uma abordagem em psicoterapia bastante recente (a partir de 1990), os estudos continuam sendo feitos, publicados e atualizados na comunidade científica. Hoje vamos falar a respeito do esquema de isolamento social.

ISOLAMENTO SOCIAL

Segundo Young (2008), pessoas que apresentam o esquema de isolamento social costumam experienciar uma intensa solidão e se percebem como diferentes de outras pessoas, excluídas, rejeitadas, isoladas, apresentando como principal comportamento a dificuldade em fazer parte de grupos, socializar-se ou mesmo relacionar-se.

Este autor afirma que “qualquer pessoa que cresce se sentindo diferente pode desenvolver este esquema.” (Young, 2008 p.198). Ele ainda acrescenta como exemplos de pessoas que costumam apresentar este esquema emocional “superdotados, membros de famílias famosas, indivíduos muito boni­tos ou muito feios, homossexuais, pessoas que pertencem a minorias étnicas, filhos de alcoolistas, sobreviventes de traumas, portadores de deficiências físicas, órfãos ou adotados e membros de uma classe social muito superior ou muito inferior a daque­les no entorno.” (Young, 2008 p.198)

Concluímos, a partir destes pontos sinalizados pelo autor, que pessoas que vivenciam experiências de exclusão, rejeição, preconceito, discriminação, seja por questões relacionadas a imagem, habilidades, gênero, cultura, aspectos sociais, políticos, econômicos, traumas, perdas, portadores de deficiências físicas, transtornos psiquiátricos, transtornos por uso de substâncias e/ou outras condições, costumam estruturar o esquema de isolamento social, por não terem a necessidade emocional básica de apego e pertencimento nutrida ao longo de sua jornada. Por vezes, nas suas interações iniciais, percebe-se alguns destes aspectos:

  • Ausência de conexão, vínculos estáveis e duradouros com outras pessoas;
  • Dificuldades para integrar-se em grupos, ou mesmo experiência de exclusão;
  • Ambientes desorganizados, instáveis, violentos, inseguros, perigosos (fuga de guerras, perseguições, catástrofes, etc);
  • Experiência de migração para contextos sócio-culturais diferentes;
  • Pouco ou ausência de afeto (carinho, amor) de forma incondicional;
  • Desconsideração, desrespeito, negligência.

Estas vivências terminam contribuindo para que o indivíduo se perceba diferente dos outros à sua volta, mas também experienciar ser percebido assim pelos outros, fortalecendo sentimentoa de diferenciação, não pertencimento, isolamento, solidão.

COMPORTAMENTOS

Os principais comportamentos que pessoas com esquema de isolamento social apresentam são:

  • Ficar à margem ou evitar totalmente os grupos;
  • Realizar atividades individuais, solitárias;
  • Evitar conhecer pessoas, estabelecer novos relacionamentos;
  • Evitar situações sociais e de exposição;

Estes comportamentos podem ser expressos de diferentes formas e intensidades, de acordo com a história de vida de cada sujeito. Mas o fato é que se percebe nitidamente este padrão evitativo presente, que podem estar a serviço do sujeito para protegê-los de novas situações traumáticas (violência, preconceito, discriminação, bullying), de novos constrangimentos, exposições, ou mesmo de sofrimentos, perdas e dores envolvidos a partir de tais experiências.

Quando o indivíduo assume sua percepção de si em relação aos outros como diferente e/ou inadequado, pode resignar-se ao esquema de isolamento social, ou seja, assumir como verdade para si mesmo tal percepção e seguir sua jornada de vida repetindo o padrão de isolamento, pouquíssimas interações e evitação de grupos.

Mas ainda há casos em que este esquema se mostra como uma estratégia de enfrentamento hipercompensatória, por exemplo, casos de pessoas que interagem superficialmente, sem aprofundar vínculos ou engrenar relacionamentos duradouros, chegando a mudar com frequência de parceiros ou mesmo estabelecer amizades sem initmidades, sem abertura para abrir suas vulnerabilidades e necessidades emocionais.

O fato é que, para entender caso a caso e os impactos gerados pelo esquema de isolamento social ativado na vida do paciente, é preciso avaliação e acompanhamento especializado por parte de um terapeuta do esquema, observando dados de histórico de vida, familiar, social, laboral, relacionamentos, acontecimentos traumáticos, bem como fatores biológicos e de temperamento que possam também contribuir para a estruturação e expressão deste esquema.

Para ampliar a reflexão, seguem algumas sugestões de conteúdo e títulos que serviram de referência para este artigo:

Entrevista com Jeffrey Young: https://www.youtube.com/watch?v=brIWqbjuMj8

Livro “Reinvente sua vida” (Jeffrey Young): https://www.sinopsyseditora.com.br/livros/reinvente-sua-vida-1648

http://www.tfebrasil.com.br/psicoterapia_esquema.asp

Referência Bibliográfica:

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

O que são ESQUEMAS?

O que são ESQUEMAS?

Na abordagem da Terapia dos Esquemas, proposta pelo psicólogo Jeffrey Young (2008), o termo esquemas é conceituado como um conjunto de padrões cognitivos, emocionais e comportamentais estruturados a partir dos primeiros vínculos que estabelecemos com nossos pais (primeiros cuidadores), aprendizagem de comportamentos e crenças dentro da família e no contexto social, a partir das nossas primeiras relações e experiências de vida, durante a infância e adolescência.

Tratam-se de maneiras habituais de perceber, enxergar e sentir a partir das interações e situações vivenciadas e que se repetem como padrões automatizados de percepção. Podemos entendê-los como filtros emocionais que inteferem na nossa percepção de nós mesmos, dos outros, do mundo e de futuro.

Para entender como eles são formados, precisamos levar em conta que:

  • Ao longo do nosso desenvolvimento infantil e juvenil, temos algumas tarefas evolutivas a serem cumpridas, a partir do suprir de necessidades emocionais básicas (quadro 1);
  • A qualidade do apego que estabelecemos com nossos pais e/ou cuidadores primários interfere em como nos sentiremos e nos perceberemos nas relações outras que vamos construindo ao longo da vida, tendo estes primeiros vínculos como referência emocional, sensorial, cognitivo e comportamental (quadro 2);
  • Fatores genéticos (biológicos) e de contexto (familiar, social, cultural) contribuem para a estruturação dos esquemas.

ESQUEMAS ADAPTATIVOS

Os esquemas são considerados adaptativos quando, ao longo da nossa infância e adolescência, conseguimos estabelecer vínculos de apego seguro com nossos pais e/ou cuidadores, que nos fornecem progressivamente suprimento das 5 necessidades emocionais básicas, permitindo-nos desenvolver e cumprir tarefas evolutivas, conforme o quadro abaixo:

QUADRO 1: Tarefas Evolutivas. Fonte: REIS, B. Revisão Conceitos da Terapia do Esquema. Aula Especialização em Terapia do Esquema. CETCC. 2021

ESQUEMAS DESADAPTATIVOS

Por outro lado, estruturamos esquemas desadaptativos quando não conseguimos realizar uma ou mais destas tarefas evolutivas no nosso desenvolvimento infantil e juvenil, por ausência de 1 ou mais necessidades emocionais básicas, apego inseguro, evitativo ou ambivalente com os pais e/ou cuidadores, situações traumáticas (acidentes, adoecimentos, perdas, abandono, abusos, negligências, etc).

QUADRO 2: Tipos de Apego. Fonte: REIS, B. Revisão Conceitos da Terapia do Esquema. Aula Especialização em Terapia do Esquema. CETCC. 2021

Young e colaboradores, no livro “Terapia do esquema: guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras”(2008), afirmam ainda que “os esquemas desadaptativos remotos lutam para sobreviver. (…) isso resulta da necessidade instintiva que os seres humanos têm de coerência. O esquema é o que o indivíduo conhece. Embora cause sofrimento, é con­fortável e familiar, e ele se sente bem.”(Young, 2008, p.23).

Parece contraditório ler estas palavras do autor, mas se você parar por um instante e se conectar com padrões de comportamentos que você repete ao longo da sua vida, poderá entender na prática como os esquemas buscam se perpetuar. Observe sua zona de conforto e note que ela não necessariamente é gostosa ou agradável, mas por esta necessidade de coerência, você pode permanecer nela por muito tempo, anos, seja por desconhecer outras formas de pensar, sentir, agir ou lidar com a situação, seja por entender ser uma estratégia de enfrentamento para sua sobrevivência e/ou proteção (evitar/fugir, atacar/lutar ou resignar-se / paralisar).

QUADRO 3: NEB`s x Esquemas x Estratégias de Enfrentamento. Fonte: REIS, B. Revisão Conceitos da Terapia do Esquema. Aula Especialização em Terapia do Esquema. CETCC. 2021

Sendo assim, a terapia entra como importante estratégia para aprofundar este autoconhecimento e desenvolver estratégias novas de enfrentamento. A terapia do esquema auxilia você a:

  • Identificar padrões disfuncionais de pensamentos, comportamentos e emoções associados aos esquemas iniciais desadaptativos estruturados na sua jornada de vida;
  • Qual ou quais destes esquemas impactam na sua vida de hoje gerando sofrimento e comprometimento de diferentes dimensões da sua vida e relacionamentos;
  • Reconhecer qual ou quais necessidades emocionais básicas faltaram para você nas suas experiências e memórias;
  • Aprender a reconhecer a cada situação quais necessidades emocionais básicas hoje necessita e como nutrir elas de forma saudável e adaptativas nos diferentes relacionamentos;
  • Aprender a confrontar, questionar os esquemas, avaliar suas vantagens e desvantagens em continuar com eles ativados e melhorar seu diálogo interno;
  • Aprender novas estratégias de enfrentamento mais saudáveis e adaptativas que permitam você ser de forma autêntica, integral, viver de forma plena, saudável e realizar suas ideias, sonhos e projetos que deseja.

Para saber mais e aprofundar este tema, confira estas referências utilizadas na construção deste artigo:

YOUNG, J. E. Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: uma abordagem focada no esquema. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

LEAHY, R. L. Técnicas de Terapia Cognitiva: Manual do Terapeuta. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2018

AVALIAÇÃO DOS ESQUEMAS: como acontece?

AVALIAÇÃO DOS ESQUEMAS: como acontece?

A terapia do esquema, estruturada pelo psicólogo Jeffrey Young (2003), propõe um processo terapêutico integrativo, respaldado por conceitos e técnicas das abordagens cognitivo-comportamental (TCC), Teoria do Apego (Bowlby, Ainsworth), Gestalt, Psicodinâmicas e Terapia Focada nas Emoções (TFE). Este processo envolve as seguintes etapas de forma geral:

  1. Psicoeducação: a respeito da terapia dos esquemas, o que são esquemas adaptativos e desadaptativos, estilos de enfrentamento, necessidades emocionais básicas, modos;
  2. Avaliação dos Esquemas: que tem por objetivo identificação e reconhecimento dos esquemas desadaptativos, estilos de enfrentamentos e modos, como eles são estruturados durante a infância e adolescência do paciente, e como eles se relacionam com os problemas atuais dele;
  3. Mudança: etapa que envolve técnicas cognitivas, vivenciais, comportamentais, relação terapêutica, com foco na mudança de padrões disfuncionais desadaptativos, auxiliando o paciente compreender suas necessidades emocionais básicas, aprender a solicitar, comunicar e buscar nutrir elas nas suas diversas relações, reduzir a potencia de ativação dos seus esquemas a partir de mudanças emocionais e da sua relação com memórias/eventos estressores, bem como estruturar novas estratégias de enfrentamento saudáveis e adaptativas.

Avaliação dos Esquemas

Como vimos acima, esta é a 2a etapa do processo terapêutico da terapia do esquema. Segundo Young (2008), “o terapeuta ajuda os pacientes a identificar seus esquemas, entender as origens destes na infância ou adolescência e a estabelecer relações com seus problemas atuais” (Young, 2008, p.69).

Nesta etapa, o terapeuta convida o paciente a participar de forma ativa e colaborativa, orientando-o a engajar-se às técnicas propostas de modo a gerar um mapeamento de quais esquemas, no momento atual, se encontram mais ativos, quais esquemas iniciais desadaptativos, esquemas condicionais, estratégias de enfrentamento (resignação, hipercompensação, evitação), assim como aprendizado com seus estilos parentais e modos.

Ao longo do processo de avaliação, são geradas hipóteses que permitem organizar as informações levantadas progressivamente e testá-las em busca de evidências e identificação de pontos de mudança que irão nortear o processo terapêutico.

Para que esta avaliação aconteça, algumas técnicas e ferramentas são utilizadas, a seguir:

  • Anamnese Psicológica (Multimodal Life History Inventory)
  • Questionários de Esquemas (YSQ)
  • Questionário de Estilos Parentais
  • Inventário de Estilos de Enfrentamento Evitação (YRAI)
  • Inventário de Estilos de Enfrentamento Evitação (YCI)
  • Questionário de Modos (YAMI)
  • Imagens mentais de avaliação
  • Baralho das Necessidades Emocionais Básicas
  • Baralho dos Esquemas e Domínios
  • Baralho de Modos
  • Relação Terapêutica

Uma vez realizado, ao longo de sessões, todo este levantamento de informações relevantes acerca da história de vida do paciente, seus padrões de funcionamentos disfuncionais, a partir das técnicas acima propostas, o terapeuta irá reunir e organizar estas informações numa conceitualização de caso.

Young afirma que nela o terapeuta “inclui os esquemas do paciente, as conexões com os problemas atuais, os gatilhos ativadores de esquemas, as hipóteses sobre fatores temperamentais, os modos, os efeitos dos esquemas sobre a relação terapêutica e as estratégias de mudança” (Young, 2008, p.71).

A conceitualização, sendo assim, encerra a etapa de avaliação dos esquemas e será importantíssima na tomada de consciência do paciente a respeito de seu funcionamento até o momento, identificação de pontos de mudança e proposição de um plano de tratamento personalizado.

Para saber mais a respeito da Terapia do Esquema, seguem livros de referência para este artigo:

YOUNG, J. E. Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: uma abordagem focada no esquema. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

Young, Jeffrey E. Reinvente sua vida [Reinventing Your Life]/Jeffrey E. Young e Janet S. Klosko; [tradução Rafaelly Bottega Pazzin] — 2. ed. — Novo Hamburgo : Sinopsys, 2020.

TERAPIA DO ESQUEMA: o que é?

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

 

TERAPIA DO ESQUEMA: o que é?

TERAPIA DO ESQUEMA: o que é?

A Terapia do Esquema é uma abordagem em psicoterapia que surgiu como expansão da terapia cognitivo comportamental. Isso se deu quando o psicólogo americano Jeffrey Young notou que a TCC tradicional se deparava com alguns limites frente a uma série de comportamentos, cognições e experiências emocionais que os pacientes apresentavam cristalizados ao longo de toda a vida. Na sua prática clínica e estudos com outros colegas (Young, 1990, 1999), ele observou que os diversos protocolos desta abordagem não davam conta de atender todas as necessidades e peculiaridades dos seus pacientes e que o processo terapêutico focado em curto prazo (16 a 20 sessões) necessitava de adaptações e inclusões de outras técnicas.

Os pontos que ele reconheceu como limitantes no trabalho com a TCC tradicional foram:

  • Transtornos de personalidade: padrões rígidos, inflexíveis e duradouros na forma de pensar, sentir, agir e se relacionar dos pacientes;
  • Distorções rígidas e persistentes na tríade cognitiva (percepção distorcida de si, dos outros, do mundo e de futuro ao longo da vida);
  • Prejuízos muito significativos nas relações interpessoais;
  • Estratégias de enfrentamento não assertivas e recorrentes dos pacientes com pouca ou nenhuma flexibilidade para a mudança;
  • Evitação de emoções, pensamentos, memórias de forma persistente;
  • Medo intenso (consciente ou inconsciente) de não suportar a dor de entrar em contato com conteúdos importantes ao processo;
  • Pacientes com relatos de problemas vagos, difusos, difíceis de definir, por muitas vezes só conseguiam perceber um mal estar geral, frequente, constante, mas sem conseguir identificar gatilhos desencadeantes específicos.

Young também observou que muitos destes pacientes apresentavam, em suas histórias de vida, experiências de negligência, abandono, abuso, privação emocional ou mesmo presenciaram situações violentas que poderiam inclui-los ou envolver outras pessoas. Estas situações poderiam acontecer de forma pontual e potente (traumas) ou recorrentes (estresse crônico), gerando impactos significativos em como estes pacientes percebiam e experienciam eventos similares posteriores, apresentando respostas emocionais, fisiológicas e comportamentais intensas ou mesmo incongruentes com estas situações.

A partir daí, este autor estruturou a terapia do esquema como uma abordagem integrativa, ou seja, promovendo expansão na abordagem da TCC e inclusão de técnicas de diferentes referenciais teóricos:

  • Psicodinâmica (psicanálise): olhar minuncioso para a história de vida do paciente, especialmente infância, adolescência, relações parentais e outros cuidadores, bem como contextos de desenvolvimento;
  • Gestalterapia: incluindo o trabalho com técnicas vivenciais;
  • Terapia cognitivo comportamental (TCC): inclusão de técnicas cognitivas e comportamentais para promover flexibilização e mudança e técnicas de regulação emocional;
  • Teoria do apego (Bowlby)e relações objetais (Klien, Winnicott): buscando compreender os vínculos iniciais estabelecidos (ou não) entre paciente e cuidadores, o impacto no comportamento, experiência emocional e suas outras relações
  • Terapia focada nas emoções (TFE): incluindo técnicas de ativação emocional, focalização, aprendizado e mudança a partir das emoções.

Esta abordagem de psicoterapia é especialmente recomendada para pessoas com transtornos crônicos psicológicos, transtornos de personalidade, transtornos de humor (depressão, bipolaridade), transtornos de ansiedade (TAG, TOC, Fobia Social, Pânico, Fobias Específicas), transtornos alimentares e transtorno por uso de substâncias (alcoolismo, tabagismo, drogadição). Ela foca no tratamento dos aspectos caracteriológicos dos transtornos e não somente na remissão de sintomas agudos psiquiátricos, sendo um processo terapêutico de médio ou longo prazo (mais do que 20 sessões).

O ponto de partida de trabalho nesta abordagem integrativa é compreender como se deu a estruturação dos esquemas iniciais desadaptativos na infância e adolescência do indivíduo, a partir da sua relação com seus cuidadores e com o seu contexto de desenvolvimento, quais necessidades emocionais não foram atendidas e quais impactos destes EID’s no contexto de vida atual do paciente.

É um processo terapêutico colaborativo entre paciente e terapeuta, que progressivamente vão identificando problemas crônicos organizando-os e localizando-os ao longo da história de vida do indivíduo, enfatizando especialmente como eles se apresentam nos seus relacionamentos interpessoais, escolhas, tomadas de decisões, quais estratégias foram estruturadas por ele para sobreviver, conviver, lidar e/ou evitar tais problemas e impactos gerados na sua vida.

Esta terapia focaliza na relação terapêutica, nas dimensões cognitivo, experiencial, emocional e comportamental. Tem por objetivo mudar a forma de encarar, interpretar e reagir aos estímulos, mudar como o paciente se relaciona consigo mesmo e com outras pessoas. Auxilia o indivíduo a modificar suas percepções acerca dos seus relacionamentos, do mundo e de futuro, a processar emoções e conexões com eventos traumáticos, bem como estruturar estratégias de enfrentamentos mais saudáveis e adaptativas.

Para saber mais e aprofundar este tema, confira estas referências utilizadas na construção deste artigo:

YOUNG, J. E. Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: uma abordagem focada no esquema. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.