ALCOOLISMO: qual a relação da família no tratamento

ALCOOLISMO: qual a relação da família no tratamento

Alcoolismo, ou Síndrome de Dependência do Álcool (SDAS),  como atualmente é nomeada, é um dos tipos de dependência química, ou seja relacionada ao uso de substância psicoativa que, no caso o álcool, age no sistema nervoso central e gera alterações de comportamento, humor e cognições.

É uma substância depressora, capaz de lentificar nossa atividade cerebral, diminuir a velocidade de processamento, provocando a redução de limites, e causando efeitos como desinibição, sonolência, desatenção, desconcentração, letargia.

É uma doença hoje considerada em níveis graves em termos de saúde pública, mas  que apresenta dificuldades ainda em seu reconhecimento e tratamento por questões culturais presentes na cultura brasileira que validam o uso social e recreativo do álcool. Muitas pessoas ainda não associam o uso abusivo e frequente do álcool a uma doença, a uma dependência química.

O alcoolismo, assim como outras doenças e dependências químicas, é um complexo fenômeno, já que envolve fatores de natureza biológica (componentes genéticos, hereditários), psicológica (temperamento, personalidade, recursos psicoemocionais), e social (interações sociais, relacionamentos, experiências pessoais, profissionais, cultura, etc). Existem alguns fatores que estimulam e/ou levam muitas pessoas ao uso do álcool de forma abusiva e/ou estabelecer a dependência química, são eles:

  • Curiosidade
  • Influência de amigos e familiares (incentivo sócio-cultural)
  • Busca de autoafirmação (baixa autoestima)
  • Desejo de fuga dos problemas (evitação)
  • Coragem para agir
  • Busca de prazer
  • Dificuldades para lidar com situações difíceis, dolorosas
  • Hábito (dependência)
  • Redução de ansiedade, raiva e/ou irritação (hiper-compensação)
  • Facilidade de acesso

E no âmbito das interações sociais, família e amigos, é importante reconhecer qual o papel deles , qual a relação que eles têm no sentido de incentivar o uso ou ajudar o paciente no seu tratamento.

AMIZADES

Como falamos mais acima, os amigos podem ser um dos fatores que estimulam o uso do álcool. Isto acontece quando grupos costumam se reunir com frequência e necessariamente sempre envolvendo o uso do álcool, o que para um dependente ou uma pessoa sujeita desenvolver a dependência química do álcool, este fator termina se configurando como gatilho para o uso abusivo que, com o passar do tempo, estimulam o desenvolvimento da dependência.

Isto não quer dizer que as amizades são sempre um fator de risco. Falar isso seria uma distorção de hiper-generalização. Mas o fato é que, é preciso que a pessoa que tenha a dependência ou esteja sujeita a desenvolver, amplie seu leque de relações de modo que ele possa encontrar pessoas que não façam uso do álcool e sirvam de apoiadoras no seu processo. E que aquelas que façam uso eventual, meramente recreativo, também possam ajudá-la a resistir e restringir o uso de álcool contribuindo positivamente no seu processo de recuperação e prevenção de recaídas, mostrando que é possível socializar-se e divertir-se sem necessariamente envolver o consumo de álcool.

FAMÍLIA

A família é um dos componentes mais complexos e multideterminante nos casos de alcoolismo. Seja pela presença do componente hereditário (base biológica), seja pela transmissão do comportamento (modelação e transmissão transgeracional), seja por gerar outros fatores de estímulo/incentivo ao uso abusivo e dependência (validação do uso do álcool no ambiente familiar , aspectos culturais, facilidade de acesso, frequência de uso x hábitos familiares, relações conflituosas, etc).

Muitos pacientes iniciam seu uso de álcool muito cedo e mesmo dentro do ambiente familiar, seja porque o alcoolismo já está presente e instalado naquela família, seja por fatores de incentivo a partir das interações sociais e familiares.

É muito comum também a presença do uso de álcool associado a outros processos de sofrimento ou adoecimento psicoemocionais (depressão, ansiedade, compulsões, etc). Se é um fator preexistente num contexto familiar, o risco é ainda maior para as crianças neste ambiente entenderem como algo normal, corriqueiro, habitual e mesmo benéfico o uso do álcool, facilitando assim o início cada vez mais jovem e a estruturação da dependência química a partir de influências familiares.

Outro componente importante a ser ressaltado é a resistência de muitos usuários  a encarar este hábito como doença, como dependência química,  e não entender a necessidade de busca de ajuda e tratamento profissional. Isto prejudica tanto a ele como às relações familiares à sua volta, já que seus familiares muitas vezes são expostos a seus sintomas, prejuízos, internações, acidentes de trânsito, situações difíceis, conflitantes, ou mesmo constrangedoras para eles e para o próprio usuário.

Uma informação de grande relevância sobre o impacto do alcoolismo na família está neste trecho extraído de artigo científico (mais abaixo):

“sobre os efeitos do alcoolismo na família, estudos demonstram que viver em um ‘ambiente alcoolista’ afeta negativamente os descendentes de alcoolistas e que, para cada alcoolista, cinco ou seis pessoas da família são afetadas. Problemas familiares como desavenças, falta de credibilidade e desconfianças são sentimentos despertados nas pessoas que já passaram pela experiência de ter um dependente e, quando há um dependente na família, todos adoecem.” (Filizola, Perón, Nascimento, Pavarini & Filho 2006)

Neste trecho, os autores nos elucidam o quanto o alcoolismo têm este potencial de acometer não só o usuário, mas toda a sua família, assim como a dependência relacionada a outras substâncias psicoativas e mesmo outros quadros de enfermidade. Isto trás a tona a importância de olhar o problema do alcoolismo como sistêmico, não só com foco no usuário, mas também incluir, acolher, ouvir, orientar e convidar os familiares a participarem ativamente do tratamento do paciente em questão, contribuindo para sua melhoria e a de todos envolvidos.

Assim como falamos das relações de amizades, a família exerce um papel chave no tratamento e prevenção.  Se o paciente tem uma família apoiadora, com relações mais saudáveis e que entende que de fato aquele familiar tem um problema de saúde a ser tratado, a família pode servir de “escudo” frente à situações de risco, ajudando o paciente a mapeá-las assim como evitá-las, contribuindo positivamente para o tratamento.

Porém, quando se tratam de famílias tóxicas, ou seja, com muitas relações conflituosas, turbulentas, adoecidas ou mesmo que contribuam para o sofrimento psicoemocional do paciente, potencializando quadros de ansiedade, depressão, angústia e inseguranças frequentes dos mesmos, esta família pode se tornar mais um fator de risco para o paciente, e incentivando a buscar alívio do seu sofrimento no uso contínuo do álcool como estratégia “relaxante” e/ou “anestésica” frente ao seu sofrimento.

Para saber mais sobre alcoolismo e compreendê-lo na família e seus impactos, acesse: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452006000400007

https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/4579.pdf

 

EDUCAÇÃO EMOCIONAL: o que é e por que praticar

EDUCAÇÃO EMOCIONAL: o que é e por que praticar

Em tempos em que temos acompanhado tantas notícias difíceis, comportamentos e discursos bélicos, intolerância, preconceitos os mais diversos, além do aumento e casos de suicídio em todas as idades, bem como as estatísticas de adoecimento psico-emocional, em especial depressão, quadros de ansiedade, pânico, adicções, compulsões, falar sobre educação emocional torna-se fundamental. Hoje neste artigo vamos falar o que é e por que é importantíssimo praticar a educação emocional.

EDUCAÇÃO EMOCIONAL: O QUE É?

Educação emocional, como o nome em si já nos sinaliza, é um processo educativo direcionado a conhecer, nomear as emoções, reconhecer a presença delas, seus gatilhos, prestar atenção no que elas falam sobre nós, o que elas querem transmitir de informação. Como pode perceber, são várias ações envolvidas no processo, e isso não nascemos sabendo, é um processo que aprendemos ao longo do nosso desenvolvimento.

Nossas primeiras referências de como reconhecer e acessar emoções são os nossos cuidadores, isto é, pais, familiares, professores, sendo lá na infância nossas primeiras “aulas” de educação emocional feitas por eles de forma consciente e intencional ou não.

Antigamente não se falava muito sobre este assunto. Porém hoje, cada vez mais, se torna de suma importância falar sobre as emoções, educação, regulação e processamento emocional, como etapas e estratégias de saúde mental, treino e desenvolvimento de comunicação e expressão assertiva.

Todas estas ferramentas impactam nas relações que estabelecemos, e é melhor que aprendamos para fazer o impacto ser positivo, estabelecermos relações saudáveis e possamos conhecer mais sobre nós mesmos, os outros e o mundo que vivemos

REGULAÇÃO EMOCIONAL

A regulação emocional é uma estratégia que também aprendemos como parte da educação emocional. Consta de ferramentas práticas como exercícios respiratórios, de atenção plena, focalização, técnicas cognitivas e vivenciais, que nos ajudam a perceber nosso estado emocional e, mais do que isso, nos ajuda a despotencializar e regular emoções muito intensas.

Na regulação emocional, a proposta é perceber a presença da emoção, assessá-las e regulá-las, sem sucumbir a elas, entendendo que as emoções fazem parte de nossa experiência psico-emocional, de que não somos as emoções em si, mas que muito temos de aprender com elas. E para isso é preciso aceitar a presença delas, abrir-se e permitir-se senti-las.

Vivenciar processos emocionais são também estratégias de autoconhecimento e aprendizagem, mas que não passam pelas articulações racionais, lógicas, cognitivas. Aqui o aprendizado se dá através do sentir, do perceber.

POR QUE PRATICAR A EDUCAÇÃO EMOCIONAL?

Praticar a educação emocional é uma importantíssima estratégia de prevenção e promoção de saúde mental. Aprender a reconhecer e nomear as emoções abre portas para um aprendizado através do sentir, que muito contribui também para processos cognitivos e executivos, como a tomada de decisão, resolução de problemas, mediação de conflitos.

Incluir o aprendizado através das emoções como parceiro de processos executivos é de grande riqueza, pois as emoções ajudam a reconhecer sensorialmente o que nos faz bem e o que não nos faz bem.

É muito recorrente ouvir no consultório pessoas que sinalizam não conseguirem entrar em ação ou tomar uma decisão, por conta de um medo muito grande, uma vergonha, uma insegurança, um desamparo e falta de apoio. Quando elas começam a reconhecer as próprias emoções, isso abre portas para elas conhecerem as necessidades emocionais que desejam e precisam buscar suprir.

A partir daí poderão direcionar sua atenção para estratégias assertivas de comunicação interpessoal, ou seja, de modo a pedir o que precisa, quebrar possíveis distorções cognitivas (pensamentos disfuncionais automáticos, crenças limitantes) que a impedem de ser em sua plenitude.

Sendo assim, praticar a educação emocional proporciona alguns destes benefícios:

  • AUTOCONHECIMENTO
  • ATENÇÃO PLENA
  • AUTOPERCEPÇÃO
  • APRENDIZADOS através do SENTIR
  • AUTORRESPEITO
  • AUTOCUIDADO
  • REGULAÇÃO EMOCIONAL
  • EQUILÍBRIO
  • ASSERTIVIDADE na COMUNICAÇÃO e RELAÇÕES

COMO PRATICAR A EDUCAÇÃO EMOCIONAL

O processo de educação emocional envolver várias etapas e muita, muita prática. Mas para ficar mais claro e resumido o que aprendemos ao desenvolver estratégia, segue o abaixo etapas do processo:

  1. Conhecer e nomear as emoções;
  2. Aprender a reconhecê-las;
  3. Aprender que todas as emoções são importantes para nosso autoconhecimento, tanto as agradáveis como as desagradáveis, e que todas elas nos ensinal algo importante sobre nós;
  4. Identificar gatilhos que sirvam de precipitantes das emoções. Podem ser situações estressoras, conversas difíceis, relações, pessoas, perdas, avaliações, julgamentos, emoções, fatos, acontecimentos que nos sintamos impactados, afetados, emocionados a partir deles;
  5. Aprender a prestar atenção às emoções, estar presente, em estado de atenção plena, e aceitar a presença delas, assim como prestar ação ao que elas sinalizam sobre nós mesmos;
  6. Identificar quais automatismos reproduzimos com frequência, tanto de pensamento quanto de comportamento, e a quais emoções eles se conectam;
  7. Regular a intensidade, quebrar distorções de pensamentos associados;
  8. Propor novas e diferentes ações das que seu sistema já está habituado a fazer de forma automatizada, mas nem sempre deixa você bem, pleno, saudável e com plenas condições de lidar com os desafios cotidianos;
  9. Treinar e aprender com os resultados gerados;
  10. Persistir e voltar para sua rota a cada recaída.
  11. Desenvolver a continuidade;
  12. Fortalecer e firmar estes novos hábitos de prevenção e promoção de saúde.

Este aprendizado pode acontecer por diferentes estratégias, seguem algumas delas que deixo aqui para você como sugestão de práticas:

  • Terapia individual
  • Terapia em Grupo
  • Técnicas de meditação e mindfullness (atenção plena)
  • Life Coaching
  • Palestras psicoeducativas sobre educação emocional ou inteligência emocional;
  • Palestras sobre prevenção e promoção em saúde mental;
  • Palestras e workshops sobre regulação emocional;
  • Técnicas cognitivas (TCC);
  • Técnicas vivenciais (Terapia do esquema, TCC, TFE);
  • Técnicas de autocompaixão, perdão e compromisso (ACT);
  • Atividades físicas, especialmente que exigem atenção plena(ex. yoga);
  • Atividades artísticas que ajudam a trabalhar expressão através do corpo e voz (ex. teatro, dança, canto, etc);

Estas são algumas sugestões, mas é enorme o número de técnicas e possibilidade de praticar a educação emocional por conta própria, promover na sua empresa, na sua escola, faculdade, universidade. O fato é que quando aprendemos e praticamos a educação emocional, todos saem ganhando, pois amplia o autoconhecimento, melhora a comunicação e expressão de desejos, necessidades, direitos, consequentemente melhorando a qualidade das relações,  posicionamento, ações, tomadas de decisões, escolhas, contribuições no mundo.

Experimente, faça, aprenda muito com esta estratégia de autoconhecimento, convide e incentive as pessoas que ama e que estão à sua volta, promova na sua empresa, organização. Você mesmo verá na prática melhorias significativas na prevenção e promoção de saúde mental, processos decisórios, participação e engajamento, melhoria em comunicação, assertividade, qualidade, resultados, proporcionando mais equilíbrio, inteligência ao lidar com as emoções e desafios do dia a dia.

E para quem quer saber mais, ficam abaixo estas dicas de leitura e filme:

TRANSGÊNERO: o que significa?

TRANSGÊNERO: o que significa?

O debate sobre o preconceito tem sido cada vez mais ampliado, especialmente no que diz respeito às questões de gênero, violência e direitos humanos. Pensando em contribuir positivamente para esta reflexão, hoje falaremos sobre o que significa transgênero.

O CONCEITO

O termo transgênero diz respeito a uma identidade de gênero auto-atribuída pelo indivíduo que se percebe diferente seu sexo biológico. Por exemplo, um homem transgênero reconhece-se como homem, porém nasceu com sexo biológico feminino, assim como uma mulher transgênero se reconhece como mulher, porém nasceu com genitália e aparelho reprodutor masculino.

É importante ressaltar que o termo transgênero não se restringe apenas à oposição entre percepção identitária oposta à configuração biológica (sexo biológico, masculino x feminino). Este conceito inclui variações identitárias, ou seja, pessoas que não se reconhecem exclusivamente masculinas ou femininas, ou identidades de gêneros não-binárias, como é o caso dos bigênero, pangênero, poligênero, demigênero, gênero neutro, terceiro gênero, agênero, e gênero fluido.

HISTÓRIA DO CONCEITO

O termo transgênero foi definido pela 1ª vez em 1965 pelo médico psiquiatra da Universidade de Columbia John F. Oliven. Foi ele quem defendeu a ideia de diferença e dissociação do conceito de transgênero em relação aos conceitos de sexo biológico e orientação sexual. Ele trouxe esta visão de identidade, ou seja, daquilo que é visto, percebido, atribuído pelo indivíduo e pela comunidade. Nos anos de 1970, os termos “pessoa transgênero” e “pessoa trans” passaram a ser utilizados em termos gerais pela comunidade, sendo abreviado para a sigla TG em 1976, em materiais educativos.

Do termo transgênero evoluiu-se para criação do conceito de “comunidade transgênero”, em 1944, contribuindo para geração de apoio, pertencimento, defesa da causa e a estruturação de políticas e direitos da pessoa transgênero a partir do Conferência Internacional sobre Direito Transgênero e Política de Emprego em 1992.

TRANSEXUAL X TRANSGÊNERO

O termo transexual, ou transexualidade, diz respeito a aspectos mais materiais do sexo, ou seja, aspectos anatômicos, características físicas, biológicas, extrínsecas ao indivíduo. Já o termo transgênero diz respeito às características intrínsecas, ou seja, sua autopercepção identitária, sua autoimagem, desejo e relação com sua sexualidade.

Assim, é possível perceber pessoas transgênero que, na busca de congruência transgênero, ou seja, autenticidade, congruência genuína entre como se percebem, sua identidade, sexualidade com o corpo e características físicas, para se sentirem confortáveis com sua aparência física externa, terminam buscando por tratamentos hormonais, cirurgias de mudança de sexo e redesignação sexual e psicoterapia como estratégia de alinhamento entre aspectos intrínsecos e extrínsecos de sua autoimagem e identidade de gênero. Mas nem todos os transgêneros necessariamente passam por estes tratamentos, seja porque não sentem necessidade destas estratégias para se reconhecerem como tal e serem autênticos na sua expressão e vida, seja pelos custos envolvidos, especialmente nos tratamentos hormonais e cirurgia. 

Outro ponto importante a ser ressaltado quanto à esta questão é que o conceito de transgênero não se relaciona ao de orientação sexual, mas como falamos, a uma identidade, a uma autopercepção, a uma autoimagem. Isto significa dizer que existem pessoas transgênero que possuem e praticam diferentes orientações sexuais, a exemplo:

  • Heterossexual: pessoa relaciona-se com outras do sexo oposto;
  • Homossexual: pessoa relaciona-se com outras do mesmo sexo;
  • Bissexual: pessoa relaciona-se com outras de ambos os sexos;
  • Pansexual: pessoa que se sente atraída sexualmente por outras pessoas apenas por atributos psicoemocionais, não sexuais;
  • Assexual: pessoa que não sente qualquer interesse por atividades sexuais.

Obs: Esta classificação de orientação sexual vale tanto para pessoas transgênero como para as cisgênero (identidade de gênero correspondente ao sexo biológico).

PRECONCEITO

Infelizmente a maior parte das pessoas transgênero têm enfrentado muitos tipos de preconceito e discriminação, em questões de direitos, necessidades, respeito, pertencimento (família, escola, instituições, grupos sociais, etc) bem como no mercado de trabalho.

Isto reflete o quanto é importante falar cada vez mais sobre as questões de gênero no sentido de esclarecer dúvidas, quebrar mitos limitantes e preconceituosos, assim como contribuir para a sociedade caminhar e estruturar leis e regras de respeito efetivo à pessoa.

A transfobia é o preconceito à pessoa transgênero de forma geral. Se levarmos em conta que todos somos seres humanos, simplesmente não faz o menor sentido qualquer tipo de preconceito, já que todos fazemos parte de uma mesma espécie, homo sapiens. Sendo assim, toda forma de preconceito trás consigo aspectos de medo (fobia, aversão) ao diferente associado a ideologias e práticas de desrespeito, violência e exclusão.

Historicamente, ao nascermos, uma informação levada em conta para termos nosso primeiro registro (ex. certidão de nascimento) é a identificação do nosso gênero biológico. Por conta disso, o gênero costumou ser identificado, a partir da nossa genitália, do nosso sexo biológico, ou seja, de como viemos ao mundo e com quais recursos físicos (características físicas biológicas), enquanto corpo e ser da espécie humana.

Mas com o passar dos anos, a partir das contribuições dos diversos estudos nas áreas da psicologia, psiquiatria, comportamento, sociologia, antropologia, relacionados à questões de gênero, uma separação conceitual progressiva passou a ser estruturada e precisa seguir sendo fortalecida, passando o gênero (cisgênero ou transgênero) a ser relacionado à construção da identidade (individual, social, cultural), a sexualidade como uma esfera de expressão de aspectos identitários e físicos, a orientação sexual como a forma como o indivíduo se relaciona (consigo e com os outros) no exercício da sua sexualidade, e o sexo biológico relacionado a aspectos puramente físicos e anatômicos do sujeito.

Portanto, é preciso falar para refletir, compreender, esclarecer cada vez mais. O entendimento e a consciência levam a mudanças comportamentais efetivas. Pensar que falar sobre todas estas questões é estimular, promover é um erro grotesco, preconceituoso e enviesado, assim como falar de suicídio não estimula mais pessoas se matarem, mas, pelo contrário, incentiva-as serem acolhidas, ouvidas, respeitadas e estimuladas a pensarem em novos sentidos para continuar existindo.

A educação é e sempre será uma poderosa ferramenta para quebrar e vencer todo e qualquer tipo de preconceito, violência e exclusão. Pratique ela com as pessoas à sua volta e faça a sua contribuição direta para promovermos juntos o mundo como um lugar melhor para se viver.

Coaching Clínico: existe? O que é?

Coaching Clínico: existe? O que é?

Algumas pessoas têm me procurado comentando “Lilah, tenho pesquisado na internet e encontrado páginas sobre coaching clínico. Existe isso? Você sempre comenta que coaching e psicoterapia são metodologias diferentes…como é isso?”. Fruto de perguntas como estas, resolvi escrever este artigo de hoje.

O que é o Coaching Clínico

O que encontramos na internet e redes sociais falando sobre o coaching clínico nada mais é do que um tipo de life coaching, ou seja, um processo de coaching voltado para questões de vida como um todo. Isso porque os aspectos que costumam ser abordados em processos com este enfoque envolvem:

  1. Desenvolvimento de Inteligência Emocional: de modo que o coachee identifique suas dificuldades psicoemocionais e o que ele precisa fazer/entrar em ação para trabalhar elas, tornar-se mais resiliente e viver uma vida com mas leveza, menos estresse e mais otimismo;
  2. Mudança de mindset: provocando o cliente a reconhecer qual configuração do seu mindset, se fixo, resistente à mudanças  e com olhar pessimista sobre si, os outros, os fatos e o mundo, quais crenças limitantes o impedem de agir rumo à vida que deseja viver e o que precisa ser feito para mudar sua forma de pensar e agir de modo a tornar-se mais assertivo;
  3. Sentido da vida: promovendo reflexões e trabalhando técnicas que faça o coachee reconhecer qual sentido da sua vida, o que faz e porque faz as coisas /atividades/ações/tarefas/trabalho, qual seus valores de vida, o que o move , qual seu propósito e como ele pode a partir de agora viver uma vida com mais sentido.

Trocando em miúdos…

O que você tem encontrado por aí nomeado como Coaching Clínico nada mais é que um processo de coaching ontológico, ou seja, integrado sistêmico, que amplia o olhar e reflexão do coachee de forma holística acerca da vida, provocando ele enxergar seu estado atual, estado desejado, construir um road map e colocar-se em ação para viver com maior senso de realização, plenitude e felicidade.

É importante lembrar que o coaching é uma metodologia de ação e resultado, especificamente de aceleração de resultados. E o que isso significa dizer? Que necessariamente pessoas que fazem estão dispostas a reconhecer o que precisam mudar/ajustar/fazer para alcançar objetivos específicos que estão se propondo, seja de vida, carreira, transformação, bem estar, etc. É exatamente ai onde mora a diferença do coaching em relação a psicoterapia. No coaching, com ação, com resultados, sem ação sem resultados. Mais do que isso, a metodologia do coaching entende que as pessoas procuram-na não porque não conseguem gerar resultados, mas porque querem  fazer de forma mais assertiva e mais rápida aquilo que sozinhas elas não estão conseguindo alcançar de resultado / transformação.

Já na psicoterapia, quando você entra em ação ou não tudo se torna importante material de trabalho. E muitas vezes, você pode entender que sim faz sentido entrar em ação ou não, assim como há momentos que você poderá tomar decisões ou não, resolver problemas ou não. O que isso quer dizer? Que em terapia, o terapeuta irá no seu tempo conduzindo técnicas dentro do que faz sentido para você naquele momento ser trabalhado/desenvolvido, entendendo que o entrar em ação é consequência de insghts/respostas provenientes de reflexões que levam você encontrar/construir novos sentidos e ressignificar situações críticas, relações, histórias, perdas, etc.

Importante ainda ressaltar que é possível sim utilizar técnicas/ferramentas de coaching em processo de psicoterapia e vice e versa, com exceção apenas dos testes psicológicos e algumas técnicas de uso exclusivos de psicólogos e que exigem tal formação/qualificação/preparo/experiência. Não é em si a ferramenta ou técnica exclusiva de uma metodologia ou de outra. Tudo depende do que o profissional entende ser mais assertivo para trabalhar com seu cliente rumo ao que ele está se propondo alcançar de resultado, mudança, transformação, autoconhecimento, saúde, equilíbrio, etc. Seja através do coaching, seja através da psicoterapia.

Outro ponto chave a ser lembrado é: nem todo coach é psicólogo e nem todo psicólogo é coach. O que isso significa para você? Pesquise, conheça, avalie e busque profissionais tecnicamente preparados, qualificados, mas também experientes com a questão / objetivo / resultado / transformação que você quer trabalhar / alcançar.

Ou seja, não tenha receio de experimentar conhecer e pesquisar o currículo / histórico do profissional que você venha escolher como seu coach ou como seu psicólogo. É um direito seu. Você está investindo em você e isso requer identificar um profissional que você se sinta seguro, à vontade, que ele tenha atitude empática, escuta ativa e esteja preparado tecnicamente e experiencialmente para trabalhar com você na sua jornada de autoconhecimento e desenvolvimento.

A influência das Redes Sociais nos Hábitos Alimentares dos Jovens

A influência das Redes Sociais nos Hábitos Alimentares dos Jovens

Não é de hoje que vemos o quanto as notícias nos diversos formatos e mídias interferem no comportamento humano. Mas quando o assunto é redes sociais, hábitos alimentares e saúde, parece que este impacto é ainda maior, mais imediato e com as mais diversas consequências.

Com o advento das redes sociais, a voz e poder de influência, antes restrita aos especialistas das diversas áreas de conhecimento, foram democratizados. Aparentemente este é um ponto positivo, o fato de qualquer pessoa poder expressar suas ideias, opiniões, seus conhecimentos técnicos, suas habilidades no meio virtual, extrapolando suas ações no offline, na vida real.

Observamos o surgimento dos influenciadores digitais, de inúmeros(as) blogueiros(as) que passaram a compartilhar suas vidas e estratégias para superação de desafios para manter o corpo “ideal” e “ser feliz” com o “shape” que “você precisa alcançar”, além de outros supostos benefícios como “atrair o parceiro ideal”, “perder os quilos que tanto incomodam você”, entre outros “objetivos”.

O primeiro ponto de observação é o da ditadura do modelo ideal de corpo ser transmitido em mensagens e perfis com promessas de alcance destes objetivos acima citados. Não podemos esquecer que nós humanos modelamos nossos comportamentos desde a infância nos modelos que nos são apresentados como “certo”, como referência de comportamento “adequado” ao longo do nosso desenvolvimento. E isso se potencializa exponencialmente no mundo virtual, extrapolando as referências de família, escola, grupos sociais diversos do mundo offline. É preciso todo cuidado ao identificar e escolher tais referências.

Um segundo ponto importante a lembrar é que a relação corpo x saúde x bem estar extrapola um modelo X de visual e vai muito além de um corpo magro. Se este modelo ideal de fato fosse verdade, não teríamos tantos casos de pessoas magras e obesas com taxas hormonais e vitamínicas desreguladas, hábitos alimentares tóxicos nem tantos casos de distúrbios alimentares, compulsão, depressão e ansiedade associados à busca de um “copo ideal” como meio de sucesso e felicidade.

A relação corpo x saúde x bem estar é um todo, um contínuo, e uma construção identitária e comportamental. Envolve escolhas, formas de pensar e agir diárias e que precisam de fato de orientação profissional multidisciplinar como referencial de suporte para que a educação sobre saúde integral seja feita de forma assertiva e provoque os jovens a tomarem decisões efetivamente saudáveis, pensando na sua saúde integral. A saúde física é 1 das 5 dimensões do ser e precisa ser olhada e cuidada em sintonia com as outras.

As 5 Dimensões do Ser

As redes sociais em si não são o problema. Torna-se um problema a depender do como esta ferramenta é utilizada na transmissão de estilos de vida, hábitos, estratégias tanto relacionadas a alimentação, atividade física, relação com o corpo, autoestima, autoconfiança, escolhas, decisões sobre saúde e bem estar.

Outro importante ponto de reflexão é o fato de as pessoas cada vez mais buscarem informações para escolhas de suas vidas de forma cada vez mais rápida e sintética, sem aprofundamento e verificação de fontes. Entender que toda e qualquer informação de perfis, posts, blogs, vídeos postados são “a verdade” é um sério perigo quando falamos de promoção de saúde e bem estar. E é fundamental alertar a todos a importância de pesquisar antes de praticar as milhares de estratégias disponíveis no mundo virtual propostas como solução para uma vida saudável.

E aqui fica o meu convite. Você usuário, seguidor de perfis, pessoa que busca informação para contribuir no seu processo de transformação; convido você a pesquisar as fontes das informações que seleciona, identificar e descartar as fake news, desconfiar de promessas imediatas e mirabolantes. Procure consultar-se com profissionais especializados na mudança que você quer para sua vida e saúde integral. Nenhum perfil, post, blog exclui o acompanhamento da sua jornada de cuidados e promoção de saúde e bem estar por estes profissionais especializados e devidamente qualificados para ajudar você em seu processo.

E você influenciador digital, blogger, comprometa-se a compartilhar informações verídicas, profissionais, e não somente focadas em atrair seguidores com promessas mágicas de transformação. Comprometa-se com contribuições efetivamente relevantes para a promoção de saúde e bem estar da sociedade, e não somente com seus objetivos pessoas e de negócio.

Transtornos Alimentares: 8 sintomas mais comuns e influências

Transtornos Alimentares: 8 sintomas mais comuns e influências

Falar dos transtornos alimentares é cada vez mais importante. Cada vez mais cedo ouvimos pessoas trazendo histórias de relação entre corpo, autoestima e alimentação com distorções significativas e provocando alto grau de sofrimento emocional, alto impacto para saúde geral, convívio social e relacionamentos.

Com o objetivo de esclarecer, prevenir e ampliar o olhar sobre os transtornos alimentares, resolvi escrever este artigo para falar de alguns sintomas mais comuns no nosso dia a dia, mas que por influências multifatoriais (cultural, social, psicológica, e fatores biológicos transgeracionais) terminam sendo “normalizados” como comportamentos desejados a serem praticados em busca de autoestima, afeto, aprovação, aceitação e reconhecimento social.

Os transtornos alimentares usualmente se expressam por uma insatisfação com a imagem corporal (magreza ou obesidade), mas também podem estar associados a outros comportamentos, por exemplo, como estratégias protetivas, de defesa, frente a medos conscientes ou inconscientes.

Os transtornos mais conhecidos ao público em geral são a Anorexia e a Bulimia Nervosa. Ambos envolvem uma distorção da imagem corporal que leva a comportamentos compulsivos compensatórios de uma insatisfação com esta imagem ou medos revelados ou não.

A anorexia se configura como um quadro de preocupação excessiva com o peso (a perda dele o medo de ganhá-lo) a partir de uma imagem corporal distorcida (superestimada), ou seja, supervaloriza e dá importância fixadamente à aparência e imagem corporal. Ao olhar-se no espelho, ainda que magra, a pessoa se reconhece como obesa e passa praticar comportamentos compulsivos (ex. dietas extremamente severas, excesso de atividades físicas, uso excessivo de laxantes, vômitos induzidos).

Já a bulimia se configura por quadro com episódios recorrentes de ingestão em 2h de grandes quantidades de alimentos que normalmente a maioria das pessoas não comeria ou não suportariam comer em condições saudáveis ( grandes quantidades de alimentos gordurosos, carboidratos, doces e outras “junky food”). Nestes casos, a preocupação com a imagem corporal, com a aparência é subestimada e a pessoa passa a não apresentar maiores preocupação (ou nenhuma) com a qualidade da sua alimentação, saúde em geral, cuidados físicos, estéticos, entre outros fatores de autocuidado e autoestima.

O fato é que estes quadros de transtornos alimentares, ainda que diferentes, apresentam pontos de conexão. Saber o que influencia na expressão destes quadros e sintomas mais recorrentes ajudará você ficar mais atento e buscar ajuda profissional (médico, nutricionista, psicólogo, psiquiátricas, entre outros), assim como a prestar atenção a pessoas que você ama à sua volta e que de repente estejam precisando desta ajuda.

Sintomas mais comuns no nível cognitivo, comportamental e emocional são:

  1. Perfeccionismo excessivo
  2. Baixa autoestima
  3. Ansiedade elevada,
  4. Pensamento dicotômico (tudo x nada, certo x errado, feio x bonito, “serve” x “não serve”, sucesso x fracasso, etc)
  5. Incapacidade de encontrar satisfação
  6. Medo mórbido de engordar e ideias fixas sobre emagrecimento e saúde
  7. Impulsividade e baixa tolerância à frustração
  8. Comportamento compensatório através da comida (restringir ou comer em excesso, evitar ou aliviar sofrimento).

Existem fatores que extrapolam o indivíduo e sinalizam como o contexto sociocultural influencia no estimular de um ou mais comportamentos relacionados aos transtornos alimentares. Aspectos reforçados pela sociedade como:

  • Família: agente de socialização, transmissão de mensagens sobre aparência da criança (comparações, críticas, foco no peso)
  • Pares: comentários na escola sobre o corpo da criança, brincadeiras de mal gosto
  • Cultura: imagens veiculadas na mídia, incentivo do culto ao corpo, a prática de atividade física em excesso, uso de hormônios, diuréticos, suplementos, medicamentos e dietas restritivas

Existem muitos outros fatores relacionados aos transtornos alimentares, sintomatologias específicas, comorbidades com outros quadros clínicos e outros aspectos. Este texto não pretende esgotar o assunto, mas sim chamar atenção ao que mais comumente observamos na prática clínica e nas interações sociais, comportamentos muitas vezes bem aceitos, estimulados ou “normalizadas” como exemplo seja de sucesso, bem estar, e prazer no viver. Procure informar-se com critério e não tenha receio de buscar ajuda profissional. Você pode sim construir uma nova jornada de vida e relação entre você x você, você x os outros e você x o mundo.