DISTORÇÕES COGNITIVAS: o que são?

DISTORÇÕES COGNITIVAS: o que são?

As distorções cognitivas são tipos de pensamentos automáticos que apresentamos no dia a dia e que tem como característica principal uma falha avaliativa da realidade e que leva o indivíduo a uma percepção distorcida dela. São pensamentos que evidenciam falhas no processamento da informação e geram vieses de como o sujeito irá interpretar a si mesmo, os outros, suas experiências, o mundo e o futuro. Mas na prática, como isso acontece?

Vamos imaginar o caso de uma pessoa que esteja vivenciando uma crise depressiva. Em meio a seus sintomas de apatia, falta de vontade e de energia para fazer as coisas, perda de sentido de vida, problemas de sono, falta de prazer em atividades antes prazerosas e do seu interesse, entre outros sintomas, surgem pensamentos negativistas, pessimistas, e que a levam a perceber a si, sua vida, suas experiências de forma negativa, desqualificantes. Imaginemos que ela apresentou as seguintes falas:

“Sou um fracasso”

“Nunca conquistei nada, nunca fiz nada de relevante”

“Não adiante eu insistir, eu já tentei todas as possibilidades.”

“Devo ser uma pessoa muito ruim mesmo para estar vivendo tudo isso.”

“Eu deveria ter me esforçado mais, mas agora é tarde demais.”

Perceba quão negativos e pessimistas são estes pensamentos, e o quanto eles impactam potencializando negativamente a experiência emocional desta pessoa para se sentir ainda mais imersa em sentimentos de tristeza e fracasso. Mas observem também algumas caraterísticas que estão presentes nestes pensamentos e que estão interferindo na percepção que ela tem a seu respeito e da sua vida:

ROTULAÇÃO: “Sou um fracasso”, “devo ser uma pessoa muito ruim mesmo para estar vivendo tudo isso.” ou seja, ela entende ser o fracasso e não que teve algumas experiências frustrantes ou que não alcançaram alguns resultados desejados. Atribui como sendo ela integralmente este traço negativo.

PENSAMENTO ABSOLUTISTA: “Nunca conquistei nada, nunca fiz nada de relevante.” , desconsiderando todas as outras experienciadas vivenciadas em outras dimensões de vida e hiperdimensionando a experiência de fracasso. É o famoso “tudo ou nada”, “8 ou 80”.

PREVISÃO NEGATIVA DE FUTURO: “Não adiante eu insistir, eu já tentei todas as possibilidades.” Aqui a pessoa unicamente considera como perspectiva de futuro o fracassar mais uma vez caso tente fazer algo. E isto a leva a paralisar, resignar, por influência desta visão negativa de futuro.

AFIRMAÇÕES “EU DEVERIA…”: “Eu deveria ter me esforçado mais, mas agora é tarde demais.”, isto é, interpretando os acontecimentos em termos de como ela imagina que deveriam ter sido, em vez de focar no que de fato aconteceu e no que pode fazer a partir disso. Um pensamento que potencializa a fixação no passado, nos que não é possível ser mudado, impactando na perda do seu poder de ação para seguir em frente.

Estes tipos de pensamentos são o que chamamos de erros cognitivos ou de distorções cognitivas. Percebem como estes pensamentos automáticos interferem em como a pessoa irá enxergar a realidade e como será sua experiência emocional? Aqui trouxe para você melhor compreender o conceito alguns exemplos práticos, mas existem outros tipos de distorções cognitivas, conforme abaixo:

LEITURA MENTAL: você assume que sabe o que as pessoas pensam, assumindo como verdade, sem fundamentos em fatos e evidências.

CATASTROFIZAÇÃO: acredita que o que aconteceu ou acontecerá será algo de grande magnitude negativa e insuportável de tolerar.

DESQUALIFICAÇÃO DOS ASPECTOS POSITIVOS: assume como triviais ou de pouco valor os aspectos positivos, as realizações e qualidades próprias ou dos outros.

FILTRO NEGATIVO: foca somente nos que há de ruim, negativo, raramente observando ou entrando em contato com os aspectos positivos e agradáveis das experiências.

HIPERGENERALIZAÇÃO: percebe um padrão global de aspectos negativos a partir de uma única situação, entendendo que todas as outras terão o mesmo desfecho.

COMPARAÇÕES INJUSTAS: interpreta acontecimentos a partir de padrões não realistas, focando no como as outras pessoas se saem melhor e entendendo ser pior, inferior a elas a partir de tais comparações.z

*são apenas alguns tipos aqui sinalizados, mas existem outros muitos.

A terapia cognitivo comportamental, bem como a terapia do esquema, auxilia o indivíduo a tomar consciência de suas distorções cognitivas, como elas acontecem no seu dia a dia e de forma automática, quais situações servem-lhe de gatilho para ativá-los rapidamente, aprende a questionar a veracidade destes pensamentos com base em evidênvias e dados de realidade, bem como auxilia a estruturar novos e melhores pensamentos mais adaptativos, realistas e que contribuirá para melhora na sua experiência emocional, bem como estruturar novas estratégias e comportamentos mais saudáveis e adaptados ao seu contexto atual.

Você não precisa estar em depressão ou qualquer outro quadro de sofrimento psicoemocional ou psiquiátrico para apresentar distorções cognitivas. Todos nós temos de alguma forma elas no nosso dia a dia. A diferença está em como lidamos, questionamos, confrontamos e mudamos nosso olhar a partir de sua identificação.

Fazer terapia é uma das estratégias que nos ajuda a melhor nos conhecermos e, consequentemente, melhorar nossa relação com nossos pensamentos, nossas emoções, nossas atitudes com nós mesmos, com os outros e no mundo. Ou seja, fazer terapia é uma grande oportunidade de autoconhecimento e melhoria contínua para todos. E não é preciso esperar vivenciar um sofrimento insuportável para colocar em prática esta estratégia de autocuidado. Permita-se, cuide-se, desenvolva-se, aprimore-se.

Para saber mais, confira:

WRIGHT, J. H., BASCO, M. R. & THASE, M. E. APRENDENDO ATERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL UM GUIA ILUSTRADO. 2008. ARTEMED.

TERAPIA DA ACEITAÇÃO E COMPROMISSO

TERAPIA DA ACEITAÇÃO E COMPROMISSO

A terapia da aceitação e compromisso é uma abordagem bastante recente criada por Steven C. Hayes. A partir de seus estudos, bem como da sua experiência pessoal com o transtorno do pânico, o autor notou que a intensidade do sofrimento psicológico estava diretamente relacionada ao como o indivíduo se relaciona e responde a seus eventos internos (cognições, emoções, reações fisiológicas), e não diz respeito aos fatos e situações em si que lhes acontece. Ou seja, ele identificou que, apesar da pessoa sentir grande desconforto emocional e experienciar distorções cognitivas, ainda assim era possível viver com sentido, aprendendo a aceitar e lidar com o que acontece com ela e com o que está fora do seu alcance, o controle e ou mudança. (HAYES & LILIS, 2012, APUD PERGHER & MELO, 2014).

O principal pilar desta proposta terapêutica é o conceito de ACEITAÇÃO. Melo (2014) define que “aceitar não é concordar ou achar bom. Da mesma forma, não é assumir uma postura conformista e resignada. Aceitar implica receber as coisas como são apresentadas, sem tentar controlar as emoções.” (PERGHER & MELO, 2014, p.344). Neste sentido, aceitar envolve acolher as situações como elas de fato acontecem, sejam os pensamentos, as emoções, as reações fisiológicas, seja o que acontece no contexto, no ambiente, e está fora do seu poder de ação controlar ou modificar.

O outor pilar é o COMPROMISSO, que nos convida a “praticar ações que possibilitem uma vida mais significativa, independente da presença de eventos internos ou externos indesejáveis” (HARRIS, 2009, APUD PERGHER & MELO, 2014, p.345). E isto significa ativar o nosso poder de ação no processo, no colocar em prática estratégias de promoção de bem-estar, qualidade de vida, vida com sentido, saúde mental, saúde física, saúde integral, autocuidado, autorrespeito, no presente, e não no futuro, muito menos no atingir de metas específicas.

A ideia proposta pela ACT é trabalhar o indivíduo para que ele aceite a existência de eventos pessoais negativos, sejam eles pensamentos, emoções, memórias, vivências, mas sem ativar a esquiva ou evitação frente a eles. Por exemplo, diante de um paciente deprimido, que se encontra apático, descrente e com baixa energia, o terapeuta irá convidá-lo a aceitar como ele se apresenta neste momento, respeitar seus limites e vulneravilidades, e assumir o compromisso de dar pequenos passos para promover bem-estar e mudanças progressivas na sua rotina.

Se não está com energia para organizar toda a casa, que tal organizar apenas uma gaveta, ou lavar um copo, e ir incluindo novas ações progressivamente? Se não consegue escrever um artigo acadêmico inteiro, que tal propor ler 1 página, escrever 1 frase ou um parágrafo, dividindo em tarefas mínimas que respeitem seu estado de ânimo e vulnerabilidade do momento?

À medida que realiza estes pequenos passos, ele se sentirá melhor, mais energizado, a partir da sensação agradável de ter realizado estas pequenas ações e que vão impactando de forma positiva na melhora do seu humor, bem-estar, senso de autoeficácia e realização.

Sendo assim, a proposta de intervenção da ACT parte do comportamental, ou seja, não lutar contra seus pensamentos e emoções desagradáveis, mas sim reconhecer a presença deles, aceitar, e assumir um autocompromisso de fazer o que é para ele possível neste momento, estimulando-o a lidar e enfrentar o desconforto progressivamente, despontencializando-o e seguindo rumo a uma vida com sentido, maior bem-estar e qualidade de vida.

Uma técnica importante para a ACT é o mindfullness que propõe exercícios simples para praticar o estado de presença, que estimula o paciente a aumentar seu foco, sua atenção no que está fazendo “aqui-agora”, minimizar ou mesmo excluir qualquer expectativa ou idealização referente a si mesmo, suas capacidades e seu processo de melhora, que possa estar afetando e intensificando seu sofrimento. Com a prática progressiva, ele vai sentindo e refletindo sobre as sensações novas, emoções agradáveis, aprendizados experienciados, passando a fazer novas escolhas com foco na aceitação e compromisso de viver bem, apesar dos desafios internos e externos com os quais se deparar.

Para saber mais e aprofundar seus conhecimentos sobre a ACT, confira a referência bibliográfica utilizada neste artigo:

MELO, Wilson V. …[et al]; Estratégias psicoterápicas e a terceira onda em terapia cognitiva / organizado por Wilson Vieira Melo …[et al] – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2014.

MITOS EMOCIONAIS

MITOS EMOCIONAIS

Os mitos emocionais são crenças a respeito das emoções e que aprendemos ao longo do nosso desenvolvimento. São pensamentos a respeito do sentir que aprendemos a partir de contextos (família, cultura) e que assumimos como verdade, mas que geram impactos negativos na nossa experiência emocional.

Normalmente, os mitos emocionais envolvem pensamentos distorcidos (distorções cognitivas) a respeito das emoções. E costumamos entrar em contato com eles quando crescemos e nos encontramos em ambientes invalidantes, ou seja, contextos que entendem ser errado e/ou proibido o entrar em contato com as emoções, gerando em nós comportamentos de evitar e/ou ignorar o sentir delas assim como expressá-las, entendendo ser elas não importantes. Ademais, se as pessoas parte deste ambiente invalidante ainda tem uma postura punitiva frente a elas, podemos aprender e entendê-las como inaceitáveis, contribuindo para a inibição emocional e impactando negativamente na nossa regulação emocional.

Um ponto importante é que aprendemos a nos regular emocionalmente a partir dos nossos modelos, referências, sendo as nossas primeiras referências os nossos pais e o contexto familiar. A forma como nossos pais reagem às próprias emoções e às nossas quando criança, aceitando, validando, ou, o contrário, chamando atenção de forma desqualificante ou mesmo punindo, influenciará na formação das nossas crenças a respeito delas e como devemos lidar com nossas emoções.

Por exemplo: se você foi tratado com reprovação por seus pais ao expressar raiva, tristeza, você pode ter aprendido que estas emoções são erradas ou inaceitáveis. Se você foi ignorado ao senti-las, você pode ter aprendido que elas não tem importância e devem ser ignoradas ou descartadas.

O fato é que aprendemos quando criança e levamos isto ao longo da nossa vida para outros contextos e relações, que também exercerão novas influências a respeito de como sentimos e expressamos (ou não) as emoções.

EXEMPLOS DE MITOS EMOCIONAIS

Para melhor ilustar tudo isso que hoje estamos falando, seguem alguns exemplos que você pode reconhecer também como seus:

  1. “Existe um jeito certo de sentir a cada situação” : Somos seres diferentes e podemos sentir e nos comportar de formas diferentes a partir de uma mesma situação. O importante é que a cada momento buscaremos administrar nossas emoções para encontrar formas mais assertivas de expressá-las e buscar ter nossas necessidades emocionais atendidas.
  2. “Se eu expresso e deixo os outros saberem como me sinto, serei visto como fraco(a).”: Estamos aqui diante de um julgamento a respeito de uma vulnerabilidade. Se nos sentimos frágeis, vulneráveis, com medo, com raiva ou outra emoção é como nos sentimos simplesmente, não uma questão de certo ou errado. E isto nos ajuda a identificar o que necessitamos a partir de cada situação. Mostrar como nossas vulnerabilidades nos permite receber a ajuda, apoio necessários, não é uma fraqueza, apenas se trata de nossa humanidade e que está tudo bem sermos assim.
  3. “Sentimentos negativos são ruins e destrutivos.”: mais uma vez, não existe emoção certa ou errada, simplesmente são como nos sentimos e cada uma das emoções exercem um papel, uma função e comunicam algo a nosso respeito. As emoções desagradáveis nos fazem parar, refletir sobre razões possíveis que contribuíram para assim nos sentirmos e, como consequeência, buscar acionar recursos para promover mudanças necessárias.
  4. “Ser emotivo é estar fora de controle, vão me chamar de louco(a).” : ser emotivo frente às situações não tem nada de errado, a questão é como isto acontece e como você dá vazão às suas emoções. Se você manifesta suas emoções sempre de forma explosiva ou se você simplesmente embota suas emoções, de um jeito ou de outro haverá custos emocionais e consequências. A ideia é que você identifique o que está sentido e possa aprender a expressar-se e regular-se de forma saudável.
  5. “Toda emoção dolorosa é resultado de uma má atitude.”: mais uma vez aqui está acontecendo um julgamento a respeito do sentir. Muitas emoções dolorosas não dependem de nós, por exemplo, quando nos sentimos tristes ao perder uma pessoa querida. Podemos sentir emoções desagradáveis a partir de como os outros agem conosco ou a partir de situações que fogem ao nosso controle.
  6. “Se os outros não aprovam como me sinto, então eu não deveria estar me sentido assim.”: mais uma vez, não é uma questão de certo ou errado, simplesmente como você se sente. E às vezes outras pessoas poderão não compreender suas razões, seja por falta de empatia, seja porque viveram outras referências contextuais e emocionais. Não é o outro que deve dizer a você como se sente nem o que deve fazer com as suas emoções, esta é uma experiência emocional sua e cabe a você isso. É sua a responsabilidade sobre suas emoções, como expressa e o que faz com elas.

Exercícios de focalização e meditação axiliam a entrar em contato com as emoções, observá-las, identificar o que está sentindo no momento, fortalecer sua regulação emocional e aprender a reconhecer o que necessita e a melhor forma de expressar e buscar atender suas necessidades a cada situação e interação.

As emoções tem processamento diferente das nossas cognições (racional) e isto nos leva a aprendizados ricos a nosso respeito e colocar em prática mudanças, transformações.

Para saber mais sobre o assunto, confira esta leitura, referência para este artigo:

LEAHY, Rober. L. Terapia do Esquema Emocional: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental.Tradução: Sandra Maria Mallmann da Rosa; revisão técnica: Ricardo Weiner. – Porto Alegre: Artemed, 2016.

Esquema de ISOLAMENTO SOCIAL: características

Esquema de ISOLAMENTO SOCIAL: características

O psicólogo e autor da abordagem da terapia do esquema, Jeffrey Young, mapeou até o momento 18 esquemas emocionais, a partir dos seus estudos, pesquisas com colaboradores e vivência clínica. Como se trata de uma abordagem em psicoterapia bastante recente (a partir de 1990), os estudos continuam sendo feitos, publicados e atualizados na comunidade científica. Hoje vamos falar a respeito do esquema de isolamento social.

ISOLAMENTO SOCIAL

Segundo Young (2008), pessoas que apresentam o esquema de isolamento social costumam experienciar uma intensa solidão e se percebem como diferentes de outras pessoas, excluídas, rejeitadas, isoladas, apresentando como principal comportamento a dificuldade em fazer parte de grupos, socializar-se ou mesmo relacionar-se.

Este autor afirma que “qualquer pessoa que cresce se sentindo diferente pode desenvolver este esquema.” (Young, 2008 p.198). Ele ainda acrescenta como exemplos de pessoas que costumam apresentar este esquema emocional “superdotados, membros de famílias famosas, indivíduos muito boni­tos ou muito feios, homossexuais, pessoas que pertencem a minorias étnicas, filhos de alcoolistas, sobreviventes de traumas, portadores de deficiências físicas, órfãos ou adotados e membros de uma classe social muito superior ou muito inferior a daque­les no entorno.” (Young, 2008 p.198)

Concluímos, a partir destes pontos sinalizados pelo autor, que pessoas que vivenciam experiências de exclusão, rejeição, preconceito, discriminação, seja por questões relacionadas a imagem, habilidades, gênero, cultura, aspectos sociais, políticos, econômicos, traumas, perdas, portadores de deficiências físicas, transtornos psiquiátricos, transtornos por uso de substâncias e/ou outras condições, costumam estruturar o esquema de isolamento social, por não terem a necessidade emocional básica de apego e pertencimento nutrida ao longo de sua jornada. Por vezes, nas suas interações iniciais, percebe-se alguns destes aspectos:

  • Ausência de conexão, vínculos estáveis e duradouros com outras pessoas;
  • Dificuldades para integrar-se em grupos, ou mesmo experiência de exclusão;
  • Ambientes desorganizados, instáveis, violentos, inseguros, perigosos (fuga de guerras, perseguições, catástrofes, etc);
  • Experiência de migração para contextos sócio-culturais diferentes;
  • Pouco ou ausência de afeto (carinho, amor) de forma incondicional;
  • Desconsideração, desrespeito, negligência.

Estas vivências terminam contribuindo para que o indivíduo se perceba diferente dos outros à sua volta, mas também experienciar ser percebido assim pelos outros, fortalecendo sentimentoa de diferenciação, não pertencimento, isolamento, solidão.

COMPORTAMENTOS

Os principais comportamentos que pessoas com esquema de isolamento social apresentam são:

  • Ficar à margem ou evitar totalmente os grupos;
  • Realizar atividades individuais, solitárias;
  • Evitar conhecer pessoas, estabelecer novos relacionamentos;
  • Evitar situações sociais e de exposição;

Estes comportamentos podem ser expressos de diferentes formas e intensidades, de acordo com a história de vida de cada sujeito. Mas o fato é que se percebe nitidamente este padrão evitativo presente, que podem estar a serviço do sujeito para protegê-los de novas situações traumáticas (violência, preconceito, discriminação, bullying), de novos constrangimentos, exposições, ou mesmo de sofrimentos, perdas e dores envolvidos a partir de tais experiências.

Quando o indivíduo assume sua percepção de si em relação aos outros como diferente e/ou inadequado, pode resignar-se ao esquema de isolamento social, ou seja, assumir como verdade para si mesmo tal percepção e seguir sua jornada de vida repetindo o padrão de isolamento, pouquíssimas interações e evitação de grupos.

Mas ainda há casos em que este esquema se mostra como uma estratégia de enfrentamento hipercompensatória, por exemplo, casos de pessoas que interagem superficialmente, sem aprofundar vínculos ou engrenar relacionamentos duradouros, chegando a mudar com frequência de parceiros ou mesmo estabelecer amizades sem initmidades, sem abertura para abrir suas vulnerabilidades e necessidades emocionais.

O fato é que, para entender caso a caso e os impactos gerados pelo esquema de isolamento social ativado na vida do paciente, é preciso avaliação e acompanhamento especializado por parte de um terapeuta do esquema, observando dados de histórico de vida, familiar, social, laboral, relacionamentos, acontecimentos traumáticos, bem como fatores biológicos e de temperamento que possam também contribuir para a estruturação e expressão deste esquema.

Para ampliar a reflexão, seguem algumas sugestões de conteúdo e títulos que serviram de referência para este artigo:

Entrevista com Jeffrey Young: https://www.youtube.com/watch?v=brIWqbjuMj8

Livro “Reinvente sua vida” (Jeffrey Young): https://www.sinopsyseditora.com.br/livros/reinvente-sua-vida-1648

http://www.tfebrasil.com.br/psicoterapia_esquema.asp

Referência Bibliográfica:

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

A Terapia do Esquema é uma abordagem integrativa em psicoterapia, estruturada pelo psicólogo americano Jeffrey Young, a partir de casos mais complexos e de difícil manejo, especialmente os transtornos de personalidade. Ele percebeu em sua prática clínica e estudos que os protocolos da terapia cognitivo comportamental tradicional não davam conta de atender todas as necessidades e peculiaridades dos seus pacientes. A partir daí, propôs uma extensão na abordagem da TCC e integração de técnicas de diferentes referenciais teóricos: da psicodinâmica (psicanálise), da gestalterapia (técnicas vivenciais), da terapia cognitivo comportamental (TCC), teoria do apego (Bowlby) e da terapia focada nas emoções (TFE).

O ponto de partida de trabalho nesta abordagem é compreender como se deu a estruturação dos esquemas iniciais desadaptativos na infância e adolescência, a partir da relação do indivíduo com seus cuidados e com o seu contexto de desenvolvimento, quais necessidades emocionais não foram atendidas e qual impactos destes EID’s no contexto de vida atual do paciente;

Tem por objetivo mudar a forma de encarar, interpretar e reagir aos estímulos, a partir das situações vivenciadas e relacionamentos, processar emoções e relações com eventos traumáticos, bem como estruturar estratégias de enfrentamentos mais adaptativas.

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA

A relação terapêutica trata-se da relação terapeuta e paciente estabelecida no setting terapêutica. Mas na terapia do esquema, ela é encarada como uma técnica importantíssima e fundamental em todo o processo terapêutico. YOUNG (2008), afirma que “o terapeuta do esquema considera a relação terapêutica vital para avaliação e mudança de esquemas”, pois é nesta relação que o paciente trará e expressará com o terapeuta quem ele é no mundo, como se percebe, como percebe as outras pessoas, como pensa, sente, age e como se relaciona.

Num primeiro momento, e assim como acontece em outras abordagens em psicoterapia, o terapeuta está focado em estabelecer sintonia, conexão com o paciente, em promover um espaço seguro, receptivo, de acolhimento, sem julgamento, para que este se sinta à vontade para trazer suas questões, dificuldades e dilemas, progressivamente vincule-se com o terapeuta e entre de fato em terapia.

Na fase de avaliação, a relação terapêutica se mostra como poderosa ferramenta para reconhecimento de esquemas emocionais ativados do paciente, agregando informações vitais ao processo avaliativo, feito não somente por técnicas estruturadas (questionários dos esquemas, estilos parentais, estilos de enfrentamento, imagens mentais). Assim, ao longo desta etapa, o terapeuta está focado em identificar os esquemas ativados do paciente a partir do que ele trás nas sessões, quais estilos de enfrentamento ele vem colocando em prática até o momento, quais necessidades emocionais estão ausentes e não foram supridas e como tudo isto impacta na sua vida atual.

Neste sentido, a relação terapêutica servirá como espaço de reparação parental limitada, oferecendo as necessidades emocionais básicas de forma limitada ao paciente, bem como espaço experimental de aprendizado de novas estratégias de enfrentamento, mais saudáveis, mais adaptativas.

YOUNG (2008) também afirma que “os terapeutas do esquema são pessoais na maneira de se relacionar com os pacientes, em vez de distantes. Tentam não parecer perfeitos, nem conhecedores de algo que ocultam do paciente. Deixam que suas personalidades naturais transpareçam, compartilham respostas emocionais que acreditam ter um efeito positivo sobre o paciente, expõem-se quando isso auxilia o paciente e visam a uma postura de objetividade e compaixão.”

No processo terapêutico, o terapeuta utiliza suas emoções, esquemas e vivências a favor do processo do paciente, ou seja, mostra-se como de fato ele é, espontaneamente. Estimula o paciente a falar como se sente nesta relação, bem como fornecer feedbacks a respeito do terapeuta, como estratégia de auxiliar o cliente na sua autopercepção, comunicação e expressão das suas necessidades emocionais e vulnerabilidades. É também esta relação espaço para exercício da empatia, escuta ativa e compaixão por parte do terapeuta, de forma a reconhecer o que de fato o paciente necessita e entender a situação a partir do ponto de vista dele.

O terapeuta utiliza a técnica do confronto empático para provocar o cliente a acessar seus esquemas e entender seu funcionamento, provocando-o a encontrar formas alternativas e mais adaptativas frente às suas necessidades e desafios. Utiliza-se ainda da autorrevelação quando oportuna ao aprofundamento da reflexão do cliente, quebrando o mito do psicólogo como sujeito detentor de um saber diferenciado,  articulando no setting terapêutico seus esquemas, emoções e experiências como ferramentas na ampliação de repertório emocional e comportamental do paciente, e  contribuindo para que este encontre em si mesmo, fortaleça e promova seus aspectos saudáveis.

Para saber mais sobre o assunto, seguem algumas sugestões de conteúdo:

Entrevista com Jeffrey Young: https://www.youtube.com/watch?v=brIWqbjuMj8

Livro “Reinvente sua vida” (Jeffrey Young): https://www.sinopsyseditora.com.br/livros/reinvente-sua-vida-1648

http://www.tfebrasil.com.br/psicoterapia_esquema.asp

Referência Bibliográfica:

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

O que podemos aprender com a DEPRESSÃO, a DOR, PERDAS, DIFICULDADES

O que podemos aprender com a DEPRESSÃO, a DOR, PERDAS, DIFICULDADES

Se tem uma afirmação realista é que ninguém sai o mesmo de uma depressão, de perdas e ou dificuldades. Este é um tema que tem permeado muitas sessões de psicoterapia nos últimos 6 meses.

Muitos pacientes chegam trazendo seus diversos sofrimentos: perdas de parentes e amigos queridos fruto do COVID-19 ou outras enfermidades, acidentes, suicídios, dores por conta de adoecimentos na família, violência doméstica, relações abusivas em casa, no trabalho (home-office ou presencial), sobrecarga de demandas, exaustão, dificuldades financeiras, fechamentos de negócios, perdas de clientes, dívidas, fome, privações, etc. Sofrimentos estes que levaram muitas pessoas a quadros depressivos, transtornos de ansiedade, gatilhos para crises, luto, agravamento de transtornos de personalidade, abuso de substâncias, compulsões, entre outros.

Em algum momento, elas perceberam como suas realidades internas e externas se tornaram mais pesadas, exaustivas, adoecedoras, limitantes, paralisantes, dolorosas. Tiveram a coragem de dar um primeiro passo importante: buscar ajuda profissional de psicólogos, médicos, psiquiatras, nutricionistas, educadores físicos, entre outros profissionais de saúde, dentro das especificidades de cada caso, dentro do que elas entendiam necessitar de auxílio, orientação, cuidado, escuta, estratégias e ferramentas para atravessarem suas jornadas.

Estamos sendo testemunhas de muitas destas realidades de sofrimento, direta ou indiretamente, como parente, amigo, profissional que acompanha, orienta, dá suporte e ajuda a estas pessoas. Mas um ponto muito importante a trazer à luz na reflexão de hoje é: como é possível aprender a partir de momentos críticos. 

Situações como estas acima citadas levam cada pessoa a acessar suas vulnerabilidades, seus limites, suas necessidades emocionais, físicas, materiais não atendidas ou faltantes neste contexto, a sentir a intensidade de suas dores, que, num primeiro momento, parecem-lhes não ter fim, serem insuportáveis, limitantes, dilacerantes, cada um ao seu modo, expressando através de emoções, pensamentos, comportamentos, linguagem verbal, não verbal, num grande esforço de buscar sobreviver, tolerar, lidar, aceitar, superar, seguir em frente em suas jornadas.

Pode parecer o fim, pode até mesmo parecer contraditório, por estarmos acostumados a viver numa sociedade que estimula a supressão de dores, sintomas e sofrimentos; mas é exatamente neste encontro com as nossas vulnerabilidades que temos a oportunidade de acessar nossas centelhas de aprendizados. 

Quando vivenciamos momentos de vulnerabilidade e nos colocamos abertos a acolher nosso sofrimento, reconhecer e nomear nossas dores, perdas, temos condições de acessar no nosso sistema o que necessitamos para sobreviver, superar e seguir em frente. Temos condições de acessar nossa capacidade adaptativa, de perceber que as dores e sofrimentos são passageiros e nos trazem inúmeros ensinamentos dentro do que necessitamos aprender, tanto individual, quanto como casal, família, coletivo.

A depressão, o luto, perdas e dificuldades convida-nos a parar, desacelerar, nos colocando de frente com o não saber como seguir, com a necessidade de respeito ao tempo do corpo, da mente. Trás a oportunidade de reflexão das insatisfações, frustrações, perdas, reavaliação da vida, do que se trilhou até aqui, o que realizamos, perdas e ganhos. Chama-nos a olhar e reconhecer as mudanças de contextos, de necessidades atuais, de buscar e encontrar novos sentidos.

Por mais difícil e demorado que toda esta jornada pareça ser, certamente cada pessoa sairá diferente de como iniciou seus processos. Sairá mais resiliente, com muito mais recursos internos, com novas estratégias de enfrentamento e de regulação emocional, mais conscientes sobre suas necessidades e direitos, das escolhas a serem feitas, das responsabilidades a assumir, dos “sim” e dos “não” que deverá dizer daqui para frente,  para si mesma e para outras pessoas à sua volta. Enfim, cada indivíduo sairá com novos sentidos, novas respostas, novas possibilidades para construir um novo começo, um novo capítulo da sua jornada.

Sugestões para você continuar lendo e refletindo:

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O poder do PERDÃO

O poder do PERDÃO

O poder do PERDÃO

Perdoar diz respeito à remissão de culpa, livrar-se de um arrependimento, erro, falha, ofensa que alguém tenha cometido, ou seja, você pode ter falhado com alguém, ou uma pessoa pode ter traído, desrespeitado você, ou mesmo você decepcionou a si mesmo. O perdão acontece quando dores e angústias relacionadas à situação experienciada são superadas pelos envolvidos.

Segundo o neurocientista Pedro Calabrez, o perdão não é sinônimo de simplesmente esquecer uma situação, acreditando que não terá mais registros daquela memória, que é possível deletá-la do seu cérebro. Não diz respeito ao outro, mas sim da nossa capacidade de seguir em frente. Envolve compreender, reconhecer que houve um sofrimento a partir do acontecimento e aceitação do que houve. Envolve escolhas do que você fará a com o que aconteceu para virar a página da vida e levar os aprendizados que a situação gerou

Trata-se, assim, de um processo de cura de uma ferida emocional que promoveu mal estar psicoemocional. Este processo leva tempo para ser superado, assim como uma cicatriz e recuperação de uma dor física, e por este motivo exige respeito a este tempo.

Por essa definição, podemos entender que perdoar tem um poder de libertar, liberar-se emocionalmente de mágoas, sentimentos negativos, angústias, raiva, ressentimentos, entre outras questões emocionais que envolvam frustração, o aspecto punitivo, crítico, ou julgamento (moral ou ético).

A intensidade destas experiências (emoções e sentimentos) e a duração de permanência delas vivas em nós varia a depender do quanto nos afetamos e do como experienciamos estes acontecimentos, emoções envolvidas e processos avaliativos.

Perdoar alguém

Muitas vezes, passamos por situações difíceis por alguém ter feito ou dito algo para nós que nos levou a sentir decepção, frustração, raiva, tristeza ou mágoa. Estas experiências emocionais revelam algo sobre nós: como nos sentimos. Se fomos desrespeitados em algum direito, se alguma necessidade emocional não foi atendida,  se fomos injustiçados, maltratados, negligenciados, trapaceados, discriminados, ignorados, excluídos, prejudicados a partir da ação ou fala do outro, ou mesmo a partir de um acontecimento.

Ou seja, para perdoar, é preciso tomar consciência e reconhecer quais necessidades emocionais e direitos foram desrespeitados e o que será feito daqui para frente para ressignificar esta relação de forma saudável, diferente, respeitando as necessidades e direitos de ambos, e seguir em frente na jornada levando estes aprendizados positivos, permitindo-se se abrir para novas experiências.

Perdoar a si

Quando falamos de perdoar a si mesmo, falamos de autoperdão. Perdoar-se significa então libertar-se de culpas e arrependimentos que você sinta por algo que tenha feito a si mesmo ou a outra(s) pessoa(s) e que tenha entendido não ter sido a melhor solução, escolha, decisão, não ter sido justo, respeitoso, ou mesmo ter machucado, magoado ou ultrapassado os limites consigo mesmo ou com alguém.

Esta ação é super importante como estratégia de cura e liberação emocional, porque quando não nos perdoamos ficamos presos às situações passadas, que não temos mais poder de ação de modificá-las, já que não é possível mudar o passado.

A pessoa que não exercita o perdão permanece ruminando pensamentos relacionados à situação, normalmente com pensamentos que recriam o cenário buscando outros desfechos, mas que emocionalmente leva à reatualização constante das emoções desagradáveis, da mágoa, arrependimento e culpas envolvidas na situação. O corpo revivencia toda a avalanche emocional a cada vez que se volta àquela situação. Este movimento psíquico e emocional contribui para potencializar quadros de ansiedade e mesmo de depressão, por este aprisionamento autoimposto pelo sujeito em situações passadas.

Assim, o autoperdão é este movimento de liberação emocional, de libertar-se das culpas e arrependimentos que surgiram em situações difíceis que pertencem ao passado e buscar novos sentidos a partir do que aconteceu. Perdoar-se é entender, compreender que houve uma dor, um sofrimento pelo que você fez, mas também incluir que você foi o que poderia ter sido naquele momento, que também é tão humano quanto outras pessoas, passível de erros, falhas. É aceitar que, além de forças pessoais, também tem fraquezas, vulnerabilidades, e que pode seguir em frente e fazer diferente, ressignificar relações a partir das experiências vividas.

Considerações finais

É importante lembrar que faz parte da condição humana o aspecto da imperfeição, e isso envolve ter consciência de que estamos sujeitos a cometer falhas, imprudências, prejuízos, perdas, tanto no aspecto material como subjetivo.

Somos humanos e por assim sermos, estamos sujeitos a tomar decisões não assertivas, escolher caminhos com consequências desagradáveis ou de alto impacto, enfim, podemos falhar em algum momento da nossa caminhada, assim como o outro pode vir a nos decepcionar de alguma forma, pelo fato de ser tão humano quanto nós, estar nesta mesma condição e sob os mesmos direitos universais.

O fato é que aprendemos com todas as experiências que vivemos, erros e acertos. Sabemos que falhamos ou que fomos bem sucedidos numa ação, numa escolha, a depender das consequências envolvidas.

É importante reconhecermos nossas responsabilidades diante delas, fazer o que precisa ser feito, ajustar as melhorias possíveis, mas também levar em conta que somos o que podemos ser a cada momento.

Não perdoar alguém, assim como não perdoar a si mesmo, envolve permanecer na dor, no julgamento, na tensão, na ansiedade, na dura crítica ou mesmo na punição. Esta é uma escolha que faz a pessoa paralisar, ficar presa ao passado, ao que poderia ter sido, e, consequentemente, ter dificuldades para seguir em frente, para se permitir fazer diferente em outras e novas situações.

Perdoar, assim, é necessário para libertar a si mesmo e o outro de dores, ressentimentos, de histórias passadas para seguir em frente. É permitir-se acolher e aceitar as vulnerabilidades, entendendo que elas fazem parte da nossa condição humana, existencial. É se abrir para novas oportunidades, aprendizados, novos sentidos, ressignificar. É praticar a melhoria contínua na arte de ser, viver, relacionar, agir, realizar.

Para saber mais: https://www.youtube.com/watch?v=JH5X4vUMkCg

Santiago, Adriana – O Poder Terapêutico do Perdão. Teoria, Prática e Aplicabilidade do Perdão com Base Científica na Psicologia Positiva. Ed Sinopsys

Confinamento e seus efeitos no corpo, mente e alma

Confinamento e seus efeitos no corpo, mente e alma

Já estamos há 126 dias em quarentena, promovendo distanciamento social no enfrentamento da propagação do COVID-19.Mas também há um exército de profissionais das mais diversas áreas dos serviços essenciais que há este mesmo tempo (ou maior) está na linha de frente, vivenciando de perto todos os desafios e impactos negativos que esta pandemia tem gerado.

Vivenciamos, desde março, diversas mudanças de rotina: de higiene e autocuidado, pessoal, familiar, profissional, alimentar, relacionamento e socialização virtual a maior parte do tempo, e ainda um contexto sócio-político-econômico e de saúde pública repleto de incertezas, fatores estressores, em âmbito mundial.

Todo este cenário acima descrito passou a ser a nossa nova rotina, o que muitos tentando de alguma forma encontrar e criar novas referências, têm chamado de “novo normal”. Mas o fato é que passamos a viver sob estresse crônico, diário, há mais de 120 dias, e isto promove uma série de impactos no nosso corpo, mente e alma.

ESTRESSE

O estresse é uma experiência que nosso organismo vivencia quando nos sentimos ameaçados, como resposta a algum perigo real ou imaginário. Diante de fatores estressores, nosso organismo entra em estado de alerta, liberando descarga de hormônios cortisol e adrenalina no nosso organismo, ativando nosso sistema de luta-fuga e nos preparando para lutar, fugir ou paralisar.

A ansiedade frente a um perigo em si não é algo ruim. Aliás sempre foi um fator de proteção e sobrevivência, mas que, com o passar dos séculos, do nosso processo de evolução tecnológica e mudanças de estilo de vida, desenvolvemos também uma série de medos e ameaças subjetivas, imaginárias, que do mesmo modo ativam esta descarga hormonal.

A diferença é que, no tempo das cavernas, nossos ancestrais de fato liberavam estes hormônios na caça e combate com predadores, lidavam com ameaças reais. Mas hoje, vivenciamos todo este processo do estresse e não liberamos efetivamente isso, percorrendo tais hormônios na nossa corrente sanguínea, deixando-nos em alerta constante, e que, a longo prazo, trazem grandes impactos na nossa saúde geral e sistema imunológico.

EFEITOS NO CORPO

Quando estamos sob estresse crônico, como no contexto atual de confinamento, grandes incertezas, mudanças drásticas de rotina, perdas de entes queridos, perdas materiais, nosso corpo apresenta uma série de sintomas de estresse:

  • Aumento de pressão arterial e batimentos cardíacos;
  • Aumento da atividade cerebral, hipervigilância, estado de alerta;
  • Pupilas dilatadas;
  • Vasoconstricção e aumento de coagulação sanguínea;
  • Aumento na acidez e inflamação no organismo, especialmente aparelho gástrico;
  • Dores musculares por conta de tensão, dores articulares;
  • Aumento nos índices de açúlcar;
  • Diminuição da libido;
  • Perda ou aumento de apetite;
  • Cansaço, indisposição, lentificação, letargia;
  • Problemas de sono: insônia ou hipersonia;
  • Compulsões como estratégia para aliviar anestesiar, esquecer, compensar sofrimentos e incertezas;

EFEITOS NA MENTE

Também experienciamos sintomas psicoemocionais e comportamentais frente ao contexto estressor crônico da pandemia:

  • medo do contágio do vírus (ser contaminado ou transmitir para alguém), medo de adoecer, medo de morrer, medo de perder trabalho, clientes, medo de fechar negócio, medo de falir, medo das incertezas, medo de perder o controle, medo de não dar conta, medo de enlouquecer, etc.
  • ANSIEDADE: que pode ser percebida no corpo (falta de ar, aceleração de batimentos cardíacos, agitação física, estado constante de alerta, insônia, e outros sintomas acima descritos), como na mente (pensamentos acelerados, pensamentos intrusivos, preocupação constante com segurança, sobrevivência, saúde, higiene, contas a pagar, inseguranças, etc);
  • NEGAÇÃO: dificuldades para aceitar o contexto, seus riscos envolvidos, a possibilidade real de adoecimento grave, finitude, enfim de morte. Dentro disso, é muito comum comportamentos de evitativos como não ficar em casa, não seguir as orientações de higienização e desinfecção constantes (lavar a mão, não misturar nem usar utensílios de uso pessoal, evitar aglomerações, usar máscaras e luvas), como que fingindo para si mesmo que nada de grave estivesse acontecendo. Este mecanismo trás à tona a dificuldade que temos de acessar nossas vulnerabilidades, dores, nossa incompetência e impotência frente ao cenário;
  • RAIVA: esta emoção surge neste contexto como uma expressão também de não aceitação do contexto, incertezas, impotência, não saber, perda de referências de rotina, controle, planejamento. Ela pode ser expressa como irritabilidade, impaciência, agitação psicoemocional, agitação motora, aumento da ansiedade, pânico, bem como explosividade e acessos de fúria, variando de pessoa para pessoa;
  • TRISTEZA: esta emoção revela nossa dor frente ao contexto, riscos e ameaças envolvidos, nosso sentimento de impotência, de não saber, nossa fragilidade. Revela nossa empatia em sentir não só a nossa dor, mas a dor dos que estão à nossa volta, nos conectando pelas nossas vulnerabilidades. Ela revela nossas dores frente às perdas envolvidas, pessoais, materiais, de pessoas queridas, faltas concretas e subjetivas que experimentamos diariamente, falta do contato social, de estar próximos das pessoas que amamos, saudades, e outras experiências psicoemocionais;
  • INSTABILIDADE EMOCIONAL: alterações constantes de humor e estados emocionais;
  • CONFORMISMO: alguns podem estar se conformando com o contexto, ficando em casa, tomando todos os devidos cuidados e precauções, mas ainda assim experienciando todas estas emoções anteriormente citadas, expressão a não aceitação efetiva do contexto e seus inúmeros impactos. O conformismo costuma nos levar a comportamentos de lentificação, passividade, resignação, vitimismo, evitativos como a procrastinação, a preguiça, queda de produtividade, dificuldades de atenção e memória;
  • PROCRASTINAÇÃO: algumas pessoas relatam estarem adiando, procrastinando algumas atividades, seja por falta de motivação, energia, concentração, seja por falta de sentido para se manterem engajados nelas;
  • MEMÓRIA: alguns relatam dificuldades de memória e para se concentrar em atividades, manter-se focados por conta do estresse gerado pelo confinamento prolongado;
  • CONFUSÃO MENTAL: algumas relatam sentir perda da noção dos dias, por conta do isolamento e dificuldade em diferenciá-los, estabelecer uma rotina minimamente estruturada, além das informações confusas, imprecisas veiculadas nos meios de comunicação;

EFEITOS NA ALMA

Aqui falamos de alguns efeitos relacionados à nossa dimensão espiritual:

  • LUTO: vivenciamos neste período da pandemia os 5 estágios do luto (negação, raiva, barganha, depressão, aceitação) pelos diferentes tipos de perdas que vivenciamos neste momento (perdas de pessoas queridas, perdas materiais, perdas ou interrupção súbita de planos, sonhos e projetos pessoais, profissionais, etc);
  • PERDA DE SENTIDO DA VIDA, em virtude de tudo ter parado, não haver prazos para tudo isso passar, sonhos e projetos cancelados e/ou adiados sem previsão, sensação de viver em suspensão, sem saber o que será, como será e o que virá;
  • NEGATIVISMO: pessoas se sentindo reféns do contexto, resignadas, impotentes, sem perspectivas frentes à tantas incertezas, descrentes;
  • PESSIMISMO, DESESPERANÇA: Pode levar pessoas a se sentirem desesperadas, desesperançosas, sem fé, perda da confiança em si, nos outros e no contexto, assim como perder sentido de sua existência. Em caso mais graves, podem levar a ideação suicida ou mesmo a tentativas de suicídio.
  • REFLEXÃO, RESSIGNIFICAÇÃO: há também quem esteja encarando este momento como um “freio de arrumação” para refletir e entrar em contato com o presente, com o que realmente importa, dores, necessidades emocionais, de mudanças, ajustes de rota, bem como mudança de planos, de como se relacionar, como trabalhar, de estilo de vida, revendo hátibos, em como a construção de novos sonhos e transformações, abrindo-se para aprofundar o autoconhecimento e ressignificar a vida.

Como podemos ver, são inúmeros impactos que o confinamento provoca no nosso corpo mente e alma. A proposta deste artigo é ajudar na reflexão, abertura para acolher como estamos vivendo, sentido, pensando, o que podemos aprender com tudo isso, como podemos atravessar toda esta jornada de inúmeras mudanças da melhor forma, a partir dos recursos disponíveis e ao nosso alcance.

Não está sendo fácil para ninguém, mas com certeza podemos nos ajudar uns aos outros a enfrentar os desafios que estão diante de nós, visíveis ou invisíveis, com maior escuta, compaixão, acolhimento, não julgamento, respeito, empatia, apoio, cuidado, afeto, solidariedade, cada um fazendo sua parte, utilizando seus talentos, fazendo o que é possível ser feito, olhando não só para si, mas para as necessidades e adversidades do coletivo.

Para saber mais, confira:

https://www.youtube.com/watch?v=lBkzdaulobA

https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2016/08/08/o-que-o-estresse-causa-no-corpo.htm

https://www.vittude.com/blog/estresse-saiba-como-ele-afeta-sua-saude/

https://mamtra.com.br/socializacao-x-isolamento-social/

http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597292-a-dimensao-espiritual-da-crise-do-coronavirus

https://brasil.elpais.com/mamas_papas/2020-06-06/os-efeitos-do-confinamento-na-saude-mental-de-criancas-e-adolescentes.html

https://www.estadao.com.br/infograficos/saude,pausa-para-se-reconectar-com-quem-somos-e-com-nossos-sonhos,1089380

 

IMPREVISTOS: você tem espaço para lidar com eles?

IMPREVISTOS: você tem espaço para lidar com eles?

Vivemos neste momento um contexto com um dos maiores imprevistos da história da humanidade: a pandemia do coronavírus.  E isso no trouxe a reflexão sobre como lidamos com os imprevistos, as incertezas, aquilo que não podemos controlar no nosso dia a dia.

Estes pontos têm sido fator fortíssimo de geração de ansiedade, desconforto, medo, sofrimento para muitas pessoas: o lidar com as incertezas. Mas cada pessoa apresenta comportamentos e reações diversas frente ao contexto.

O fato é que o isolamento social, estratégia de prevenção da propagação do COVID-19, fez fechar temporariamente ou mesmo definitivamente muitas empresas, suspender contratos de trabalho de milhares de pessoas ou mesmo levou a demissão de muitas outras. Isso nos leva a refletir se de fato incluímos espaço na nossa agenda para lida com os imprevistos, se praticamos estratégias preventivas frente a riscos previsíveis ou não. A princípio, parece estranho falar disso, mas no atual contexto se tornou uma questão de sobrevivência.

IMPREVISTOS

Imprevistos são situações que normalmente consideramos como fatores de risco. Alguns podem ser visualizados, mitigados, e outros não. Mas o fato é que se temos um comportamento de tratar e gerenciar riscos previsíveis, temos sim a prática da precaução, do planejamento, da prevenção, e do incluir espaço em nossas agendas e planos financeiros para eventuais imprevistos. Certamente este comportamento contribui e muito positivamente para lidar com momentos de transição, crises, perdas, tanto no aspecto de redução de danos materiais, financeiros, quanto na gestão emocional de perceber que se tem uma reserva de emergência estruturada.

Mas é importante lembrar que os imprevistos também são janelas de oportunidades. Não precisamos ir muito longe para identificar empresas, empreendedores que aumentaram sua margem de lucro e demanda frente a este contexto (apps de delivery, aumento de vagas na área de TI, EAD, entre outros exemplos). Ou seja, o que podemos perceber diante disso é que não são os fatos em si que se mostram como ameaças, mas sim como percebemos e lidamos com eles.

E VOCÊ? TEM ESPAÇO NA SUA AGENDA PARA LIDAR COM IMPREVISTOS?

Esta é a pergunta inicial desta reflexão de hoje, provocar você a pensar em como lida com imprevistos e se você, no seu dia a dia, costuma incluir eles como parte da sua agenda ou se você vive no limite, no fio da navalha, assumindo todos os riscos sem qualquer precaução.

O fato é que a forma como você percebe os imprevistos direciona seus comportamentos em como lidar com ele. Pessoas que focam no curto prazo, em satisfação imediata de necessidades e desejos, normalmente não incluem os imprevistos em suas agendas, porque estão focadas em ser feliz no hoje e ter prazeres imediatos. Com isto, costumam não estruturar reservas financeiras, gastando tudo o que entra. Sendo assim, ficam mais vulneráveis a qualquer imprevisto que surja, também vivenciando impactos imediatos.

Já outras pessoas entendem que imprevistos podem sim gerar prejuízos materiais, financeiros, além de afetar sua saúde emocional. Por conta disso, elas estruturam e fortalecem o hábito de poupar, alimentar uma reserva financeira mínima de 3 a 12 meses de “colchão”, guardar em investimentos de médio e longo prazo, ou seja, não somente pensando no hoje, mas em sonhos que desejam realizar, bem como criar condições de sobrevivência para atravessar momentos de crise. Isto certamente contribui para lidar com eles de forma menos estressora e aberto a oportunidades.

O fato é que não se trata de julgar, avaliar o quanto é certo ou errado um destes caminhos, mas sim você refletir qual deles tem tomado, quais riscos você está disposto(a) a enfrentar, quais perdas e ganhos envolvidas e qual deles faz mais sentido para você.

Como vimos, imprevistos em si não são ruins, depende de como nos relacionamos com eles e das nossas escolhas e hábitos até aqui estruturados. Eles podem sim nos levar a crises, como também gerar oportunidades, a depender exatamente de como caminhamos e nos relacionamos com eles. Enfim, podemos aprender sempre com eles, seja desfrutando destas oportunidades, seja com os prejuízos, impactos e sofrimentos vivenciados a partir deles.

Se até aqui você não considerava nem se relacionava com os imprevistos, o que você está disposto fazer daqui para frente? Quais seus aprendizados frente a este contexto de pandemia que você já teve até aqui e quer levar consigo daqui para frente?