O psicólogo e autor da abordagem da terapia do esquema, Jeffrey Young, mapeou até o momento 18 esquemas emocionais, a partir dos seus estudos, pesquisas com colaboradores e vivência clínica. Como se trata de uma abordagem em psicoterapia bastante recente (a partir de 1990), os estudos continuam sendo feitos, publicados e atualizados na comunidade científica. Hoje vamos falar a respeito do esquema de isolamento social.
ISOLAMENTO SOCIAL
Segundo Young (2008), pessoas que apresentam o esquema de isolamento social costumam experienciar uma intensa solidão e se percebem como diferentes de outras pessoas, excluídas, rejeitadas, isoladas, apresentando como principal comportamento a dificuldade em fazer parte de grupos, socializar-se ou mesmo relacionar-se.
Este autor afirma que “qualquer pessoa que cresce se sentindo diferente pode desenvolver este esquema.” (Young, 2008 p.198). Ele ainda acrescenta como exemplos de pessoas que costumam apresentar este esquema emocional “superdotados, membros de famílias famosas, indivíduos muito bonitos ou muito feios, homossexuais, pessoas que pertencem a minorias étnicas, filhos de alcoolistas, sobreviventes de traumas, portadores de deficiências físicas, órfãos ou adotados e membros de uma classe social muito superior ou muito inferior a daqueles no entorno.” (Young, 2008 p.198)
Concluímos, a partir destes pontos sinalizados pelo autor, que pessoas que vivenciam experiências de exclusão, rejeição, preconceito, discriminação, seja por questões relacionadas a imagem, habilidades, gênero, cultura, aspectos sociais, políticos, econômicos, traumas, perdas, portadores de deficiências físicas, transtornos psiquiátricos, transtornos por uso de substâncias e/ou outras condições, costumam estruturar o esquema de isolamento social, por não terem a necessidade emocional básica de apego e pertencimento nutrida ao longo de sua jornada. Por vezes, nas suas interações iniciais, percebe-se alguns destes aspectos:
- Ausência de conexão, vínculos estáveis e duradouros com outras pessoas;
- Dificuldades para integrar-se em grupos, ou mesmo experiência de exclusão;
- Ambientes desorganizados, instáveis, violentos, inseguros, perigosos (fuga de guerras, perseguições, catástrofes, etc);
- Experiência de migração para contextos sócio-culturais diferentes;
- Pouco ou ausência de afeto (carinho, amor) de forma incondicional;
- Desconsideração, desrespeito, negligência.
Estas vivências terminam contribuindo para que o indivíduo se perceba diferente dos outros à sua volta, mas também experienciar ser percebido assim pelos outros, fortalecendo sentimentoa de diferenciação, não pertencimento, isolamento, solidão.
COMPORTAMENTOS
Os principais comportamentos que pessoas com esquema de isolamento social apresentam são:
- Ficar à margem ou evitar totalmente os grupos;
- Realizar atividades individuais, solitárias;
- Evitar conhecer pessoas, estabelecer novos relacionamentos;
- Evitar situações sociais e de exposição;
Estes comportamentos podem ser expressos de diferentes formas e intensidades, de acordo com a história de vida de cada sujeito. Mas o fato é que se percebe nitidamente este padrão evitativo presente, que podem estar a serviço do sujeito para protegê-los de novas situações traumáticas (violência, preconceito, discriminação, bullying), de novos constrangimentos, exposições, ou mesmo de sofrimentos, perdas e dores envolvidos a partir de tais experiências.
Quando o indivíduo assume sua percepção de si em relação aos outros como diferente e/ou inadequado, pode resignar-se ao esquema de isolamento social, ou seja, assumir como verdade para si mesmo tal percepção e seguir sua jornada de vida repetindo o padrão de isolamento, pouquíssimas interações e evitação de grupos.
Mas ainda há casos em que este esquema se mostra como uma estratégia de enfrentamento hipercompensatória, por exemplo, casos de pessoas que interagem superficialmente, sem aprofundar vínculos ou engrenar relacionamentos duradouros, chegando a mudar com frequência de parceiros ou mesmo estabelecer amizades sem initmidades, sem abertura para abrir suas vulnerabilidades e necessidades emocionais.
O fato é que, para entender caso a caso e os impactos gerados pelo esquema de isolamento social ativado na vida do paciente, é preciso avaliação e acompanhamento especializado por parte de um terapeuta do esquema, observando dados de histórico de vida, familiar, social, laboral, relacionamentos, acontecimentos traumáticos, bem como fatores biológicos e de temperamento que possam também contribuir para a estruturação e expressão deste esquema.
Para ampliar a reflexão, seguem algumas sugestões de conteúdo e títulos que serviram de referência para este artigo:
Entrevista com Jeffrey Young: https://www.youtube.com/watch?v=brIWqbjuMj8
Livro “Reinvente sua vida” (Jeffrey Young): https://www.sinopsyseditora.com.br/livros/reinvente-sua-vida-1648
http://www.tfebrasil.com.br/psicoterapia_esquema.asp
Referência Bibliográfica:
YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.
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