LILAH KUHN – psicóloga e coach

LILAH KUHN – psicóloga e coach

Psicóloga formada pela UFBA, com MBA em Gestão de RH, curso em Gerenciamento de Projetos pela FGV, especialista em Terapia dos Esquemas e Terapia Cognitivo Comportamental pelo CETCC, formação e Professional e Self Coach pelo Instituto Brasileiro de Coaching (IBC) e bacharelado em Música pela Faculdade Cantareira.

Atuação em clínica nas abordagens Terapia Cognitivo Comportamental, Terapia do Esquema e também com Orientação Profissional.

Profissional com 21 anos de carreira desenvolvida nas áreas clínica, coaching, desenvolvimento humano, recursos humanos, com experiência em todos os subsistemas de RH, atuando em empresas multinacionais e nacionais de grande porte nos segmentos de consultoria, varejo, tecnologia, indústrias (farmacêutica, alimentícia, móveis, aço e química). Perfil multicultural com atuação LATAM.

Experiência sólida com atendimento clínico, coaching de carreira, orientação profissional, treinamento, cursos, palestras, desenvolvimento e aplicação de conteúdos em T&D e educação corporativa, diagnóstico organizacional, avaliações comportamentais, por competências, clima organizacional, desempenho, 360 graus, assessments e planejamento estratégico.

Outras experiências: na área artística como cantora, Produtora Executiva da GUITARCOOP, coaching de carreira para músicos e artistas, trabalhos de Direção de Voz em estúdios para bandas, proprietária da MUSIC FOR FUN (empresa de eventos) e foi premiada com o Troféu Caymmi de Melhor Intérprete em 2003/2004.

DISTORÇÕES COGNITIVAS: o que são?

DISTORÇÕES COGNITIVAS: o que são?

As distorções cognitivas são tipos de pensamentos automáticos que apresentamos no dia a dia e que tem como característica principal uma falha avaliativa da realidade e que leva o indivíduo a uma percepção distorcida dela. São pensamentos que evidenciam falhas no processamento da informação e geram vieses de como o sujeito irá interpretar a si mesmo, os outros, suas experiências, o mundo e o futuro. Mas na prática, como isso acontece?

Vamos imaginar o caso de uma pessoa que esteja vivenciando uma crise depressiva. Em meio a seus sintomas de apatia, falta de vontade e de energia para fazer as coisas, perda de sentido de vida, problemas de sono, falta de prazer em atividades antes prazerosas e do seu interesse, entre outros sintomas, surgem pensamentos negativistas, pessimistas, e que a levam a perceber a si, sua vida, suas experiências de forma negativa, desqualificantes. Imaginemos que ela apresentou as seguintes falas:

“Sou um fracasso”

“Nunca conquistei nada, nunca fiz nada de relevante”

“Não adiante eu insistir, eu já tentei todas as possibilidades.”

“Devo ser uma pessoa muito ruim mesmo para estar vivendo tudo isso.”

“Eu deveria ter me esforçado mais, mas agora é tarde demais.”

Perceba quão negativos e pessimistas são estes pensamentos, e o quanto eles impactam potencializando negativamente a experiência emocional desta pessoa para se sentir ainda mais imersa em sentimentos de tristeza e fracasso. Mas observem também algumas caraterísticas que estão presentes nestes pensamentos e que estão interferindo na percepção que ela tem a seu respeito e da sua vida:

ROTULAÇÃO: “Sou um fracasso”, “devo ser uma pessoa muito ruim mesmo para estar vivendo tudo isso.” ou seja, ela entende ser o fracasso e não que teve algumas experiências frustrantes ou que não alcançaram alguns resultados desejados. Atribui como sendo ela integralmente este traço negativo.

PENSAMENTO ABSOLUTISTA: “Nunca conquistei nada, nunca fiz nada de relevante.” , desconsiderando todas as outras experienciadas vivenciadas em outras dimensões de vida e hiperdimensionando a experiência de fracasso. É o famoso “tudo ou nada”, “8 ou 80”.

PREVISÃO NEGATIVA DE FUTURO: “Não adiante eu insistir, eu já tentei todas as possibilidades.” Aqui a pessoa unicamente considera como perspectiva de futuro o fracassar mais uma vez caso tente fazer algo. E isto a leva a paralisar, resignar, por influência desta visão negativa de futuro.

AFIRMAÇÕES “EU DEVERIA…”: “Eu deveria ter me esforçado mais, mas agora é tarde demais.”, isto é, interpretando os acontecimentos em termos de como ela imagina que deveriam ter sido, em vez de focar no que de fato aconteceu e no que pode fazer a partir disso. Um pensamento que potencializa a fixação no passado, nos que não é possível ser mudado, impactando na perda do seu poder de ação para seguir em frente.

Estes tipos de pensamentos são o que chamamos de erros cognitivos ou de distorções cognitivas. Percebem como estes pensamentos automáticos interferem em como a pessoa irá enxergar a realidade e como será sua experiência emocional? Aqui trouxe para você melhor compreender o conceito alguns exemplos práticos, mas existem outros tipos de distorções cognitivas, conforme abaixo:

LEITURA MENTAL: você assume que sabe o que as pessoas pensam, assumindo como verdade, sem fundamentos em fatos e evidências.

CATASTROFIZAÇÃO: acredita que o que aconteceu ou acontecerá será algo de grande magnitude negativa e insuportável de tolerar.

DESQUALIFICAÇÃO DOS ASPECTOS POSITIVOS: assume como triviais ou de pouco valor os aspectos positivos, as realizações e qualidades próprias ou dos outros.

FILTRO NEGATIVO: foca somente nos que há de ruim, negativo, raramente observando ou entrando em contato com os aspectos positivos e agradáveis das experiências.

HIPERGENERALIZAÇÃO: percebe um padrão global de aspectos negativos a partir de uma única situação, entendendo que todas as outras terão o mesmo desfecho.

COMPARAÇÕES INJUSTAS: interpreta acontecimentos a partir de padrões não realistas, focando no como as outras pessoas se saem melhor e entendendo ser pior, inferior a elas a partir de tais comparações.z

*são apenas alguns tipos aqui sinalizados, mas existem outros muitos.

A terapia cognitivo comportamental, bem como a terapia do esquema, auxilia o indivíduo a tomar consciência de suas distorções cognitivas, como elas acontecem no seu dia a dia e de forma automática, quais situações servem-lhe de gatilho para ativá-los rapidamente, aprende a questionar a veracidade destes pensamentos com base em evidênvias e dados de realidade, bem como auxilia a estruturar novos e melhores pensamentos mais adaptativos, realistas e que contribuirá para melhora na sua experiência emocional, bem como estruturar novas estratégias e comportamentos mais saudáveis e adaptados ao seu contexto atual.

Você não precisa estar em depressão ou qualquer outro quadro de sofrimento psicoemocional ou psiquiátrico para apresentar distorções cognitivas. Todos nós temos de alguma forma elas no nosso dia a dia. A diferença está em como lidamos, questionamos, confrontamos e mudamos nosso olhar a partir de sua identificação.

Fazer terapia é uma das estratégias que nos ajuda a melhor nos conhecermos e, consequentemente, melhorar nossa relação com nossos pensamentos, nossas emoções, nossas atitudes com nós mesmos, com os outros e no mundo. Ou seja, fazer terapia é uma grande oportunidade de autoconhecimento e melhoria contínua para todos. E não é preciso esperar vivenciar um sofrimento insuportável para colocar em prática esta estratégia de autocuidado. Permita-se, cuide-se, desenvolva-se, aprimore-se.

Para saber mais, confira:

WRIGHT, J. H., BASCO, M. R. & THASE, M. E. APRENDENDO ATERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL UM GUIA ILUSTRADO. 2008. ARTEMED.

MITOS EMOCIONAIS

MITOS EMOCIONAIS

Os mitos emocionais são crenças a respeito das emoções e que aprendemos ao longo do nosso desenvolvimento. São pensamentos a respeito do sentir que aprendemos a partir de contextos (família, cultura) e que assumimos como verdade, mas que geram impactos negativos na nossa experiência emocional.

Normalmente, os mitos emocionais envolvem pensamentos distorcidos (distorções cognitivas) a respeito das emoções. E costumamos entrar em contato com eles quando crescemos e nos encontramos em ambientes invalidantes, ou seja, contextos que entendem ser errado e/ou proibido o entrar em contato com as emoções, gerando em nós comportamentos de evitar e/ou ignorar o sentir delas assim como expressá-las, entendendo ser elas não importantes. Ademais, se as pessoas parte deste ambiente invalidante ainda tem uma postura punitiva frente a elas, podemos aprender e entendê-las como inaceitáveis, contribuindo para a inibição emocional e impactando negativamente na nossa regulação emocional.

Um ponto importante é que aprendemos a nos regular emocionalmente a partir dos nossos modelos, referências, sendo as nossas primeiras referências os nossos pais e o contexto familiar. A forma como nossos pais reagem às próprias emoções e às nossas quando criança, aceitando, validando, ou, o contrário, chamando atenção de forma desqualificante ou mesmo punindo, influenciará na formação das nossas crenças a respeito delas e como devemos lidar com nossas emoções.

Por exemplo: se você foi tratado com reprovação por seus pais ao expressar raiva, tristeza, você pode ter aprendido que estas emoções são erradas ou inaceitáveis. Se você foi ignorado ao senti-las, você pode ter aprendido que elas não tem importância e devem ser ignoradas ou descartadas.

O fato é que aprendemos quando criança e levamos isto ao longo da nossa vida para outros contextos e relações, que também exercerão novas influências a respeito de como sentimos e expressamos (ou não) as emoções.

EXEMPLOS DE MITOS EMOCIONAIS

Para melhor ilustar tudo isso que hoje estamos falando, seguem alguns exemplos que você pode reconhecer também como seus:

  1. “Existe um jeito certo de sentir a cada situação” : Somos seres diferentes e podemos sentir e nos comportar de formas diferentes a partir de uma mesma situação. O importante é que a cada momento buscaremos administrar nossas emoções para encontrar formas mais assertivas de expressá-las e buscar ter nossas necessidades emocionais atendidas.
  2. “Se eu expresso e deixo os outros saberem como me sinto, serei visto como fraco(a).”: Estamos aqui diante de um julgamento a respeito de uma vulnerabilidade. Se nos sentimos frágeis, vulneráveis, com medo, com raiva ou outra emoção é como nos sentimos simplesmente, não uma questão de certo ou errado. E isto nos ajuda a identificar o que necessitamos a partir de cada situação. Mostrar como nossas vulnerabilidades nos permite receber a ajuda, apoio necessários, não é uma fraqueza, apenas se trata de nossa humanidade e que está tudo bem sermos assim.
  3. “Sentimentos negativos são ruins e destrutivos.”: mais uma vez, não existe emoção certa ou errada, simplesmente são como nos sentimos e cada uma das emoções exercem um papel, uma função e comunicam algo a nosso respeito. As emoções desagradáveis nos fazem parar, refletir sobre razões possíveis que contribuíram para assim nos sentirmos e, como consequeência, buscar acionar recursos para promover mudanças necessárias.
  4. “Ser emotivo é estar fora de controle, vão me chamar de louco(a).” : ser emotivo frente às situações não tem nada de errado, a questão é como isto acontece e como você dá vazão às suas emoções. Se você manifesta suas emoções sempre de forma explosiva ou se você simplesmente embota suas emoções, de um jeito ou de outro haverá custos emocionais e consequências. A ideia é que você identifique o que está sentido e possa aprender a expressar-se e regular-se de forma saudável.
  5. “Toda emoção dolorosa é resultado de uma má atitude.”: mais uma vez aqui está acontecendo um julgamento a respeito do sentir. Muitas emoções dolorosas não dependem de nós, por exemplo, quando nos sentimos tristes ao perder uma pessoa querida. Podemos sentir emoções desagradáveis a partir de como os outros agem conosco ou a partir de situações que fogem ao nosso controle.
  6. “Se os outros não aprovam como me sinto, então eu não deveria estar me sentido assim.”: mais uma vez, não é uma questão de certo ou errado, simplesmente como você se sente. E às vezes outras pessoas poderão não compreender suas razões, seja por falta de empatia, seja porque viveram outras referências contextuais e emocionais. Não é o outro que deve dizer a você como se sente nem o que deve fazer com as suas emoções, esta é uma experiência emocional sua e cabe a você isso. É sua a responsabilidade sobre suas emoções, como expressa e o que faz com elas.

Exercícios de focalização e meditação axiliam a entrar em contato com as emoções, observá-las, identificar o que está sentindo no momento, fortalecer sua regulação emocional e aprender a reconhecer o que necessita e a melhor forma de expressar e buscar atender suas necessidades a cada situação e interação.

As emoções tem processamento diferente das nossas cognições (racional) e isto nos leva a aprendizados ricos a nosso respeito e colocar em prática mudanças, transformações.

Para saber mais sobre o assunto, confira esta leitura, referência para este artigo:

LEAHY, Rober. L. Terapia do Esquema Emocional: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental.Tradução: Sandra Maria Mallmann da Rosa; revisão técnica: Ricardo Weiner. – Porto Alegre: Artemed, 2016.

TIPOS DE APEGO

TIPOS DE APEGO

Um dos referenciais teóricos importantíssimos dentro da abordagem da Terapia dos Esquemas é a teoria do Apego, proposta pelo médico psiquiatra infantil John Bolwby, na década de 1950, trazendo à luz da ciência contribuições acerca da origem dos vínculos afetivos. Ele e o pesquisador James Robertson, no ano de 1952, fizeram estudos de observações clínicas e filmagem com crianças de 2 e 3 anos, com foco em estudar o comportamento delas quando separadas de suas mães, sem substituição desta figura parental por outra estável. Neste experimento, Robertson identificou e mapeou as fases da separação (protesto, desespero, desapego), sendo que os resultados destes estudos geraram grande impacto na sociedade inglesa daquele período histórico.

Bolwby (1952) passou a levantar questões a respeito dos efeitos da privação materna na infância, como as crianças lidam com a perda, o luto e separação, e quais impactos destas experiências para o desenvolvimento delas e estruturação de personalidade patológica. A partir destas perguntas, este autor passou a aprofundar seus estudos em etologia a respeito do comportamento dos animais, deparando-se com estudos de outros autores como Konrad Lorenz (1935) sobre imprinting e Harry Harlow (1958) a respeito da separação materna com macacos Rhesus. Como influência de tais autores e destes achados, Bowlby identificou os seguintes pontos como chaves na estruturação da sua teoria do apego:

  • Sistemas comportamentais: potencial biológico que herdamos, fruto de adaptações evolutivas da espécie, e que favoreceram a sobrevivência no passado. Compostos de comportamentos rápidos e automáticos, mas que sofrem influências do meio e das experiências do sujeito (perspectiva evolutiva interacionista)
  • Homeostase Ambiental: potencial biológico + influência do meio + experiências do indivíduo geram modificações nos sistemas comportamentais visando a homeostase ambiental, ou seja, flexibilizando antigos e modelando novos comportamentos com foco em adaptar-se ao meio e sobrevivência;
  • Sistema de Apego: com função de gerar proteção, segurança e suprimento de necessidades para o indivíduo sobreviver, sendo decisivo na perpetuação da espécie.

Em síntese, os achados de Bolwby contribuíram para ele estruturar a teoria do apego, integrando conceitos da psicanálise, etologia, psicologia evolucionista, comportamental e cognitiva. Esta teoria explica como se originam o vínculo dos bebês com as mães e seus primeiros cuidadores e como o tipo de apego influenciará nos outros vínculos que o sujeito irá estruturar ao longo da sua jornada de vida com outros indivíduos.

Neste sentido, podemos entender a necessidade dos bebês em estabelecer vínculo com as mães e/ou cuidadores, por uma necessidade de sobrevivência que envolve tanto aspectos fisiológicos quanto emocionais (alimentação, cuidados, proteção, segurança) e que são chaves na sua sobrevivência, já que sozinho ele não teria condições de atender as próprias necessidades e sobreviver.

Como este vínculo é estruturado ao longo da infância impactará na construção de modelos mentais a respeito de si próprio, dos outros, do mundo, e contribuirá diretamente na formação da personalidade, regulação da percepção de mundo, dos sentimentos e dos comportamentos do indivíduo.

TIPOS DE APEGO

A estruturação do apego acontece num processo de 3 etapas:

  1. PRÉ-APEGO (0 a 6 semanas de vida): a criança demonstra orientação e sinalização para as pessoas à sua volta, ainda sem preferências, a partir de seu “equipamento biológico pré-programado” para buscar proximidade com os humanos que cuidam dela e ter suas necessidades satisfeitas;
  2. FORMAÇÃO DO APEGO (6 semanas a 6/8 meses de vida): a criança começa a apresentar preferências por figuras familiares, mas sem recusar estranhos ainda. Vocaliza e chora de formas diferentes a depender da proximidade da mãe/cuidador primário;
  3. APEGO DEFINIDO (6/8 meses a 18 meses de vida): o bebê busca ativamente presença e proximidade da(s) figura(s) de apego a partir da sua locomoção, sinalização, choro, evidenciando ansiedade de separação, busca de segurança, proteção e maior reciprocidade esta(s) figura(s).

Os tipos de apego foram mapeados pela psicóloga Canadense Mary Ainsworth (1970), a partir do seu experimento “Estudo psicológico da situação estranha” (AINSWORTH, 1970), realizado por ela com crianças de 12 a 18 meses, observando as reações que elas apresentavam ao serem separadas de suas mães, bem como ao reencontro delas, tendo ou não a presença de uma outra pessoa estranha a elas. A partir dos resultados deste experimento, Ainsworth estruturou 4 tipos de apego:

  1. APEGO SEGURO: a mãe ou outra figura de apego primária responde rapidamente ao choro da criança, é sensível às suas necessidades, cuida, conforta, acalma, oferece carinho, segurança, proteção e é disponível. A criança demonstra interesse pelo cuidador, busca sua presença e proximidade quando necessita, sente-se capaz de explorar o ambiente desde que o adulto não se afaste por longos períodos, e tolera estranhos, mas só expressa confiança pela figura de apego;
  2. APEGO INSEGURO ANSIOSO/AMBIVALENTE: ambiente e/ou cuidador imprevisível, desorganizado, instável. Cuidador pode até se mostrar atento à criança, mas sem sincronia com suas necessidades e solicitações, não respondendo ou respondendo tardiamente elas. Pouco disponível emocionalmente. A criança costuma se desestabilizar na ausência do cuidador, entendendo a separação como ameaça real e iminente. Expressa raiva, angústia nas separações e não se conforta facilmente. Mostra-se constantemente insatisfeita;
  3. APEGO INSEGURO EVITATIVO: mãe ou cuidador não disponível ou não atento às necessidades da criança, podendo ser rejeitador ou mesmo distanciar-se física e psicologicamente. A criança ignora este afastamento, não se empenha em manter contato, não distingue estranhos do cuidador e termina priorizando atividades, objetos e coisas ao invés de pessoas;
  4. APEGO DESORGANIZADO: crianças expostas a maus tratos, abusos, negligência parental, famílias com transtornos por uso de substâncias, ambientes violentos. Ela recebe informações ambíguas do cuidador gerando angústia, desconfiança, age de modo confuso, passando a vivenciar medo crônico e intenso, ansiedade, agitação podendo apresentar ataques de fúria.

APEGO X CONSEQUÊNCIAS

A partir destes tipos de apego, podemos identificar, ao longo da adolenscência e fase adulta, impactos em como o indivíduo percebe a si mesmo, aos outros, ao mundo, bem como se relaciona. Vejamos abaixo quais consequências mais frequentes a partir de cada tipo de apego:

  1. APEGO SEGURO: pessoa sente-se competente para lidar com pares, aberta a novas experiências, curiosidade, autoestima positiva, tolerância a novidades, frustrações, reagindo bem frente a seus fracassos. Entusiasmo, persistência, resolução de problemas e tomada de decisão assertivas, independência e consegue restabelecer relacionamentos saudáveis e recíprocos;
  2. APEGO INSEGURO ANSIOSO/AMBIVALENTE: indivíduo apresenta imaturidade, insegurança, incompetência social, comportamentos de dependência emocional, material, insegurança. Dificuldades para se relacionar, para permanecer nos relacionamentos, dificuldades para desfrutar dos mesmos, para empatizar com o outro e refletir sobre suas responsabilidades nas relações. Pode apresentar condutas impulsivas e agressivas;
  3. APEGO INSEGURO EVITATIVO: sujeito pode se mostrar contradependentes ou autossuficientes, evitando pedir ajuda, compartilhar, estabelecendo relacionamentos superficiais e/ou não duradouros. Pode apresentar traços antissociais;
  4. APEGO DESORGANIZADO: autopercepção negativa e desqualificante de si (indigno, mau), visão dos outros como perigosos, ameaçadores, abusivos e imprevisíveis. Podem apresentar muitos traumas, transtornos de memória e atenção, comportamentos agressivos, cruéis, oposicionistas, ausência de empatia e sensibilidade moral, bem como culpabilizar os outros ou quem queira ajudá-lo.

Para saber mais, confira as referências abaixo:

WAINER, R. Terapia cognitiva focada em esquemas : integração em Psicoterapia [recurso eletrônico] / Organizadores, Ricardo Wainer … [et al.]. – Porto Alegre : Artmed, 2016.

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2008.

MELO, W. V. Estratégias psicoterápicas e a terceira onda em terapia cognitiva / organizado por Wilson Vieira Melo… [et al.] – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2015.

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TERAPIA DO ESQUEMA

A Terapia do Esquema é uma abordagem integrativa em psicoterapia, estruturada pelo psicólogo americano Jeffrey Young, a partir de casos mais complexos e de difícil manejo, especialmente os transtornos de personalidade. Ele percebeu em sua prática clínica e estudos que os protocolos da terapia cognitivo comportamental tradicional não davam conta de atender todas as necessidades e peculiaridades dos seus pacientes. A partir daí, propôs uma extensão na abordagem da TCC e integração de técnicas de diferentes referenciais teóricos: da psicodinâmica (psicanálise), da gestalterapia (técnicas vivenciais), da terapia cognitivo comportamental (TCC), teoria do apego (Bowlby) e da terapia focada nas emoções (TFE).

O ponto de partida de trabalho nesta abordagem é compreender como se deu a estruturação dos esquemas iniciais desadaptativos na infância e adolescência, a partir da relação do indivíduo com seus cuidados e com o seu contexto de desenvolvimento, quais necessidades emocionais não foram atendidas e qual impactos destes EID’s no contexto de vida atual do paciente;

Tem por objetivo mudar a forma de encarar, interpretar e reagir aos estímulos, a partir das situações vivenciadas e relacionamentos, processar emoções e relações com eventos traumáticos, bem como estruturar estratégias de enfrentamentos mais adaptativas.

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA

A relação terapêutica trata-se da relação terapeuta e paciente estabelecida no setting terapêutica. Mas na terapia do esquema, ela é encarada como uma técnica importantíssima e fundamental em todo o processo terapêutico. YOUNG (2008), afirma que “o terapeuta do esquema considera a relação terapêutica vital para avaliação e mudança de esquemas”, pois é nesta relação que o paciente trará e expressará com o terapeuta quem ele é no mundo, como se percebe, como percebe as outras pessoas, como pensa, sente, age e como se relaciona.

Num primeiro momento, e assim como acontece em outras abordagens em psicoterapia, o terapeuta está focado em estabelecer sintonia, conexão com o paciente, em promover um espaço seguro, receptivo, de acolhimento, sem julgamento, para que este se sinta à vontade para trazer suas questões, dificuldades e dilemas, progressivamente vincule-se com o terapeuta e entre de fato em terapia.

Na fase de avaliação, a relação terapêutica se mostra como poderosa ferramenta para reconhecimento de esquemas emocionais ativados do paciente, agregando informações vitais ao processo avaliativo, feito não somente por técnicas estruturadas (questionários dos esquemas, estilos parentais, estilos de enfrentamento, imagens mentais). Assim, ao longo desta etapa, o terapeuta está focado em identificar os esquemas ativados do paciente a partir do que ele trás nas sessões, quais estilos de enfrentamento ele vem colocando em prática até o momento, quais necessidades emocionais estão ausentes e não foram supridas e como tudo isto impacta na sua vida atual.

Neste sentido, a relação terapêutica servirá como espaço de reparação parental limitada, oferecendo as necessidades emocionais básicas de forma limitada ao paciente, bem como espaço experimental de aprendizado de novas estratégias de enfrentamento, mais saudáveis, mais adaptativas.

YOUNG (2008) também afirma que “os terapeutas do esquema são pessoais na maneira de se relacionar com os pacientes, em vez de distantes. Tentam não parecer perfeitos, nem conhecedores de algo que ocultam do paciente. Deixam que suas personalidades naturais transpareçam, compartilham respostas emocionais que acreditam ter um efeito positivo sobre o paciente, expõem-se quando isso auxilia o paciente e visam a uma postura de objetividade e compaixão.”

No processo terapêutico, o terapeuta utiliza suas emoções, esquemas e vivências a favor do processo do paciente, ou seja, mostra-se como de fato ele é, espontaneamente. Estimula o paciente a falar como se sente nesta relação, bem como fornecer feedbacks a respeito do terapeuta, como estratégia de auxiliar o cliente na sua autopercepção, comunicação e expressão das suas necessidades emocionais e vulnerabilidades. É também esta relação espaço para exercício da empatia, escuta ativa e compaixão por parte do terapeuta, de forma a reconhecer o que de fato o paciente necessita e entender a situação a partir do ponto de vista dele.

O terapeuta utiliza a técnica do confronto empático para provocar o cliente a acessar seus esquemas e entender seu funcionamento, provocando-o a encontrar formas alternativas e mais adaptativas frente às suas necessidades e desafios. Utiliza-se ainda da autorrevelação quando oportuna ao aprofundamento da reflexão do cliente, quebrando o mito do psicólogo como sujeito detentor de um saber diferenciado,  articulando no setting terapêutico seus esquemas, emoções e experiências como ferramentas na ampliação de repertório emocional e comportamental do paciente, e  contribuindo para que este encontre em si mesmo, fortaleça e promova seus aspectos saudáveis.

Para saber mais sobre o assunto, seguem algumas sugestões de conteúdo:

Entrevista com Jeffrey Young: https://www.youtube.com/watch?v=brIWqbjuMj8

Livro “Reinvente sua vida” (Jeffrey Young): https://www.sinopsyseditora.com.br/livros/reinvente-sua-vida-1648

http://www.tfebrasil.com.br/psicoterapia_esquema.asp

Referência Bibliográfica:

YOUNG, Jeffrey E.. Terapia do esquema [recurso eletrônico] : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / Jeffrey E. Young, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar; tradução Roberto Cataldo Costa. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

MINDSET ESCASSEZ

MINDSET ESCASSEZ

Você costuma se preocupar frequentemente que faltará suprimentos para você e sua família? Que ganha pouco e que é preciso trabalhar muito para ser bem remunerado? Você tem pensamentos frequentes de que algo de pior possa acontecer e que ativam o seu medo de perder pessoas importantes, dinheiro, coisas que para você tem um valor? Tem hábito de estocar alimentos, objetos para que não falte? Tem medo de perder seu emprego, de falir, de não ter rendimentos suficientes para pagar seus compromissos e ter uma vida próspera? Reflita como está a qualidade dos seus pensamentos e comportamentos, eles falam do seu mindset, ou seja, como sua mentalidade está estruturada.

Escolhi hoje fazer esta reflexão com você, por perceber o quanto o medo está ativado de forma intensificada em muitas pessoas, especialmente neste momento de pandemia. Um dos pensamentos que mais tenho ouvido nas sessões de psicoterapia e coaching é: “E se não der certo? E se eu tiver que começar tudo de novo?”

Todas estas perguntas propostas estão revelando o mindset de escassez. E o que isso significa? Significa que o seu “farol” está direcionado para o que pode acontecer de pior, a falta, o medo, riscos, perdas. E isto ativa todo o seu sistema para permanecer em estado de hipervigilância, em alerta constante, de modo a evitar que tudo isso aconteça.

Alguns comportamentos são bastante presentes no mindset de escassez: paralisar frente às situações e problemas, consumo para estocar coisas para que não falte, gastar sem poupar porque a vida pode acabar no próximo momento ou porque não se sente digno, merecedor, capaz de construir uma vida próspera.

O mindset de escassez não tem consciência do todo, das infinitas possibilidades, é unidirecional, individualista, negativista. Está presente em pessoas focadas nas dificuldades, nos problemas. Comportamentos de resistência, compulsividade, estado de alerta constante, ansiedade, medo, preocupação excessiva com o fracasso, com o falhar, o errar como o fim de tudo, competição, comparações, são exemplos desta mentalidade focada na escassez, de que não haverá espaço nem suprimentos para todos, e que os problemas são o fim, o pior de tudo, não conseguindo enxerga-los como oportunidades para criar novas ideias, inovar, muito menos focar na resolução de problemas e ver os erros e falhas como etapas de um processo evolutivo.

Pessoas com mindset de escassez preocupam-se excessivamente em ser avaliados, rejeitados, demitidos, criticados negativamente, por preocupar-se com frequência e de forma intensa com a possibilidade de errar, fracassar, perder, ser excluído. Sentem-se vigiadas o tempo todo e direcionam toda a energia para evitar o pior, ao invés de buscar novas e melhores possibilidades, soluções, criações e conexões.

O mindset de escassez faz você ter medo do novo, medo da mudança, enxergar a oportunidade como obstáculo, apegando-se à zona de conforto, ainda que ela não seja nada confortável, mas pelo simples fato de ser conhecida para você, estar habituado com o que acontece nela, conhecer e saber como lidar, com uma série de automatismos, resistindo a novos aprendizados, expansão de sua consciência, de suas habilidades e conhecimentos, resistindo, assim, ao seu desenvolvimento, progresso, melhoria contínua, à abundância, a ativação do seu potencial infinito, à mudança, às transformações.

Já parou para pensar: “E se der certo?” Pois é, pode dar muito certo, muito diferente, melhor ou maior do que você imaginava. Mas é preciso se permitir, se abrir para o novo, abraçar as falhas e erros como oportunidades para novos começos diferentes, buscar ajuda para ampliar a reflexão e compartilhar ideias e soluções.

Se você se identificou com alguma passagem deste texto, convido você a ampliar sua reflexão e saber mais sobre o Mindset de Crescimento ou de aprendizado. Vou aproveitar e deixar algumas sugestões de conteúdo para que possa saber mais. Ah, e mais uma dica: faça terapia, faça coaching, participe de cursos de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, mentorias. Ou seja, tudo o que possa servir para você de ferramenta para sua flexibilização e ressignificação cognitiva para promover sua mudança de mentalidade e viver de forma plena, com sentido e felicidade.

 

https://www.youtube.com/watch?v=epN6elf4otU

https://www.youtube.com/watch?v=VqipaMrttps&t=25s

https://www.youtube.com/watch?v=pa-KZdDRcWA

https://www.youtube.com/watch?v=H9CdT5cFRnI

https://www.youtube.com/watch?v=qZyDpIonMBM

https://www.youtube.com/watch?v=ai_RP-C1qBI

https://www.youtube.com/watch?v=uONp5_cy9cs

https://www.amazon.com.br/Mindset-Carol-S-Dweck/dp/8547000240

O QUE VOCÊ DECLARA?

O QUE VOCÊ DECLARA?

Você costuma prestar atenção ao que você declara? Costuma prestar atenção ao que você comunica para você mesmo, para os outros e para o mundo? As declarações, afirmações, que você costuma fazer no seu dia a dia? Já prestou atenção o quanto elas interferem no seu comportamento, percepção de si, dos outros e visão de mundo?

Se de repente você não costuma estar atento(a) a isso, vamos fazer juntos este exercício agora. Complete as frases abaixo com o que vier primeiro na sua mente, sem julgamento ou avaliação do que pensar:

  1. “EU SOU________________________”
  2. “AS PESSOAS SÃO_____________________”
  3. “O MUNDO É_____________________”

São 3 perguntinhas simples, mas que muito falam sobre nossa percepção, crenças, visão de mundo, sobre a nossa tríade cognitiva, que são nossos 3 níveis de relacionamento e percepção. Veja:

Estas perguntas também falam do CICLO DA REALIDADE que estruturamos a partir desta tríade cognitiva, dos nossos esquemas emocionais. Nosso cérebro é composto por 100 bilhões de neurônios, mas destes somente 1 bilhão tem função de armazenamento de memórias. Já de cara dá para notar que não é possível armazenar 100% dos inputs de informações que recebemos do meio.

Nós selecionamos as informações que dão concretude à nossa realidade, a partir dos nossos esquemas emocionais que envolvem um conjunto de comportamentos, cognições, emoções, que geram verdadeiros “filtros” do que enxergamos e nomeamos como realidade.

Mas e o que tem a ver o que declaramos com isso? Simplesmente TUDO! O que enunciamos, manifestamos, afirmamos, declaramos, serve para nosso cérebro como comando. Se uma pessoa fala “nossa, eu sou burra, não sou suficientemente boa, não sou competente”, ela dará este comendo ao seu cérebro de modo que ele busque fatos, situações, relações, experiências que confirmem esta crença limitante, ou seja, que confirme esta verdade. Isso significa que o mental desta pessoa estará a todo momento registrando experiências em que ela se perceba assim, confirmando seu ciclo de realidade.

A boa notícia é que podemos modificar esta percepção, transformar nosso ciclo da realidade, a partir de novos comandos, novas declarações que emitimos para nosso sistema, confrontando as antigas percepções, e buscando novas evidências congruentes com esta nova visão que estamos buscando consolidar no nosso sistema. O fato é que quando declaramos algo, seja negativo ou positivo, o nosso sistema buscará congruência com o que entendemos ser verdade, validando elas a partir dos fatos, experiências e emoções que vivemos. Isso é o que entendemos ser a nossa realidade.

Enfim, podemos reprogramar nossas crenças, encontrar novos sentidos, estruturar novas verdades para nosso sistema, e, com isso, alterar nossa percepção a nosso respeito, dos outros, do mundo, da realidade. Isto nós podemos fazer praticando técnicas da PNL (programação neurolinguística) e da TCC (terapia cognitivo comportamental).

No mais, convido você estar mais atento(a) ao que você DECLARA. Perceba o quanto que isso que manifesta como verdade faz você olhar para si, para os outros e para o mundo com lentes “coloridas” ou com lentes “preto/branco”. Perceba que você tem o poder de alterar tudo isso. Não tenha receio de buscar ajuda profissional para trabalhar com você nesta sua transformação. Pedir ajuda é o maior gesto de coragem que você pode ter.

Para ampliar sua leitura e reflexão, deixo estas dicas de links:

https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/04/150408_vert_fut_capacidade_cerebro_ml

https://www.tecmundo.com.br/ciencia/16846-cerebro-humano-x-pc-como-eles-se-comparam-.htm#:~:text=Se%20cada%20um%20desses%20neur%C3%B4nios,(1%20milh%C3%A3o%20de%20gigabytes).

https://epocanegocios.globo.com/Caminhos-para-o-futuro/Saude/noticia/2016/09/45-fatos-curiosos-sobre-o-cerebro.html

https://www.researchgate.net/profile/Carlos_Manoel_Lopes_Rodrigues/publication/319617817_Perspectivas_do_estudo_da_mente_da_psicologia_cognitiva_as_neurociencias/links/59b4c0500f7e9b3743524b9a/Perspectivas-do-estudo-da-mente-da-psicologia-cognitiva-as-neurociencias.pdf

ATENDIMENTO ONLINE: principais pontos de adaptação dos profissionais

ATENDIMENTO ONLINE: principais pontos de adaptação dos profissionais

Em meio ao contexto de pandemia do coronavírus, o atendimento psicológico online se tornou realidade para terapeutas e clientes, como uma estratégia de assegurar o distanciamento social preventivo contra o contágio do COVID-19 e dar seguimento nos processos de psicoterapia.

Além disso, muitas pessoas que antes não faziam terapia, por conta do contexto pandêmico, entraram em contato com diversas emoções, questões existenciais, assim como o desafio de viver temporariamente, mas sem prazo, em confinamento, seja sozinho, seja com seus familiares,  deparando-se com conflitos até então não existentes ou que foram potencializados neste momento. Isto tem levado cada vez mais pessoas buscar psicólogos para fazer terapia online como estratégia de saúde mental, promoção de bem estar, qualidade de vida e gestão de conflitos.

DESAFIOS

O fato é que a maior parte dos psicólogos não atendiam online até então, e neste momento foram inclusive orientados pelo CPF (Conselho Regional de Psicologia), em virtude da portaria n°639/2020 do Ministério da Saúde de 31/03/2020, a fazerem os atendimentos online, seguindo os critérios da resolução CFP N°11/2018,  que estabelece regras para o atendimento psicológico mediado por tecnologia.

Daí que uma série de desafios para adaptação dos terapeutas e pacientes se deram a partir desta realidade e aqui vamos listar alguns principais pontos de adaptação para os profissionais:

  1. Cadastro E-PSI: ainda que neste período de pandemia o CFP tenha flexibilizado a obrigatoriedade do cadastro do profissional na plataforma e-psi para monitoramento e fiscalização, é fundamental psicólogos deixarem seu cadastro em dia, já que não temos previsão de quando nem como será o contexto de atendimentos pós quarentena;
  2. Assegurar o sigilo: estamos trabalhando nos atendimentos online, mas continuamos seguindo o código de ética da nossa profissão. É fundamental garantir o sigilo, confidencialidade e proteção das informações do paciente, assim como fazíamos nos atendimentos presenciais. Muito importante que o psicólogo não compartilhe seu computador e outros dispositivos com terceiros, continue gerando pronturários e seguindo protocolos das suas respectivas abordagens, assim como esclarecer clientes sobre seus recursos tecnológicos a serem utilizados para garantir tal segurança de sigilo dos dados;
  3. Setting Terapêutico: isto diz respeito ao ambiente físico e subjetivo da escuta terapêutica. Antes o setting era presencial, com recursos e ferramentas de intervenção presenciais, e que agora precisam ser adaptados pelo terapeuta para assegurar eficácia do seu atendimento. Muito importante ter um espaço privativo reservado aos atendimentos, assim como orientar os clientes também neste sentido: buscar espaço sem interrupções, sem distrações, que se sinta plenamente à vontade para falar sobre suas questões. Se você psicólogo tiver possibilidade de manter alguns elementos do setting presencial no seu setting online de atendimento, ajudará no sentimento de conforto e segurança para o seu paciente;
  4. Campo de Visão: Outro ponto que se perde no atendimento online é a visão em 3D, a presença efetiva do outro, perceber as reações fisiológicas (olhar, temperatura, cheiro, sudorese, velocidade da respiração, agitação motora, e outras informações não verbais e corporais). Sendo assim, vale investir num ambiente privativo sem outros estímulos, que permita escuta ativa, diretiva, e atenta ao que é sinalizado pelo cliente na tela do dispositivo utilizado. Como o campo visual fica ainda mais restrito, preste bastante atenção tanto na sua expressão verbal e não verbal como na do seu cliente;
  5. Agenda: apesar de estar em casa, é preciso manter a mesma rotina de dias/horários marcados, tempo de sessão. Isto contribui para o senso de rotina, mantendo as mesmas regras de funcionamento do presencial no formato remoto. Isto ajuda a diminuir o senso de incerteza e instabilidade;
  6. Qualidade dos dispositivos e conexão: este é um desafio tanto para psicólogos quanto para os clientes. Quanto melhor o sinal e a velocidade de transmissão de dados da internet disponível, mais estável e sem interrupções de conectividade será o atendimento, contribuindo para manter o fluxo do atendimento sem interrupções de ordem técnica. Importante também combinar e orientar o paciente qual ferramenta ele melhor se adapta, como utilizar, como assegurar seu sigilo e privacidade;
  7. Atendimento a crianças: são ainda mais desafiante para o terapeuta, além de exigir o consentimento expresso dos responsáveis legais delas. Além disso, a depender da idade da criança, a participação de pelo menos 1 dos cuidadores pode ser essencial para que a sessão aconteça.
  8. Cuidar de si para cuidar dos outros: é bem importante estar a tento que nós terapeutas estamos vivenciando o mesmo contexto pandêmico que nossos clientes. Somos humanos e também temos nossas vulnerabilidades. Então é fundamental que você procure colocar em prática estratégias de autocuidado e saúde integral, não superlotar sua agenda de atendimentos online, colocar intervalos entre os clientes para fazer pausas e ter tempo de recuperação de um cliente para outro. Procure manter uma rede de apoio e troca ativa com seus colegas, compartilhar ferramentas e técnicas que sejam úteis para todos, pedir ajuda a colegas de sua confiança, fazer terapia, fazer supervisão.

São muitos desafios para nós psicólogos em assegurar para o cliente uma sessão de qualidade e eficácia terapêutica. Porém, diante do contexto, é muito melhor assegurar os atendimentos ainda que de forma remota e adaptada, do que suspendê-los. Estamos num contexto de muitas incertezas, riscos reais, e que provocam inúmeras emoções e sentimentos como o desamparo.

Para o paciente, saber que pode contar com seu terapeuta ao longo deste processo e ter a possibilidade de fazer suas sessões online, fará toda a diferença no sentir-se amparado, apoiado, acolhido, com escuta ativa e poderá pensar e praticar as estratégias de promoção de bem estar e qualidade de vida que estiver ao seu alcance.

Para saber mais:

http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-639-de-31-de-marco-de-2020-250847738

Resolução CFP Nº 11/2018

https://br.noticias.yahoo.com/terapia-%C3%A0-dist%C3%A2ncia-psic%C3%B3logos-e-073012246.html

https://blogdodunker.blogosfera.uol.com.br/2020/03/27/sofrimento-como-ter-atendimento-psicologico-online-em-epoca-de-coronavirus/

Transtorno de Ansiedade Generalizada: o que é TAG?

Transtorno de Ansiedade Generalizada: o que é TAG?

Vamos começar este artigo diferente dos outros. Proponho a você o seguinte exercício: respire fundo, 3 respirações profundas. Preste atenção no movimento de entrada e saída do ar dos seus pulmões, entrando pelas narinas e saindo pela boca. Inspire, expire, inspire, expire, inspire, expire. Apenas foque na sua respiração. Sinta a sensação de bem estar que sua respiração provoca. A partir daí, preste atenção em você mesmo, nos seus pensamentos e quais emoções você sente neste momento. O que você sente? Quais pensamentos  atravessam sua mente? Consegue observar quais fatores lhe geram ansiedade? Do que você tem medo, preocupação ou qualquer tipo de temor? Se trata de medos específicos ou difusos, indefinidos ou generalizados?  Agora que você prestou atenção em você , no seu corpo e mente em como eles reagem a esta pequena meditação, vamos falar um pouco mais sobre ansiedade.

Ansiedade

Ansiedade em si não é algo ruim. É algo parte do seu sistema de luta e fuga que, frente a um perigo, dispara toda uma  cascata de hormônios no seu organismo de modo a ativar este sistema de proteção, seja para enfrentar o perigo, seja para proteger-se, livrar-se dele. Ou seja, ativa respostas fisiológicas e comportamentos  frente a fatores reais ou imaginários de perigo ou estresse. Este é um sistema que desde que surgiu o primeiro humano na terra, desenvolvemos de modo a preservar nossa vida e nossa espécie.

A questão é quando esta ansiedade, muitas vezes expressas em formas de medos, receios, preocupações, tomam maior parte do seu tempo do que o viver propriamente. Quando ela te gera um estado constante de apreensão e, ao pequeno exercício de mindfullness (atenção plena) como este que fizemos acima, você percebe que não há perigo algum ameaçando você, mas ainda assim você se percebe vivenciando uma avalanche de pensamentos  de medo e/ou preocupação com algo de pior por acontecer.

Aí começamos a perceber uma alteração na funcionalidade do seu sistema de proteção e sobrevivência. Ou seja, quando você se percebe a maior parte do seu tempo (o mesmo todo ele) em constante apreensão, preocupação, com sensações de perigo iminente, significa que seu sistema de luta e fuga está em alerta constante, provocando emoções, reações fisiológicas e comportamentos de buscar lutar ou proteger-se ou preservar-se de algo que imaginário, que acontece somente dentro da sua mente.

Transtorno de Ansiedade Generalizada

Reconheceu algo assim em você? Pois bem, aqui estamos falando do Transtorno de Ansiedade Generalizada ou TAG, que se caracteriza por este estado constante de medo, apreensão, preocupação que compromete o bem estar e rotina daqueles que sofrem deste transtorno, exatamente por se perceberem a maior parte do tempo dedicando tempo, energia, cuidados, pensamentos, emoções para lidar com estes medos e preocupações  não reais, sem qualquer associação com eventos e/ou objetos reais.

Isso leva a pessoa a vivenciar sintomas e incômodos psico-físico-emocionais no seu dia a dia sem justificativas reais, causando transtornos na sua rotina. Isto revela uma visão distorcida de realidade e de perigo, desproporcionais  ou mesmo desconectados aos fatos que vivencia no seu dia a dia. Ela se sente sempre em perigo, com medo, como se estivesse sendo observada, perseguida, invadida, mesmo sem qualquer fato, pessoa ou objeto manifestando efetivamente estes comportamentos. Ou seja uma apreensão e preocupação constante por algo que não existe.

Ansiedade Crônica

É uma ansiedade crônica e que toma a maior parte da vida da pessoa, comprometendo sua experiência no aqui e agora, sua percepção de prazer, desfrute, por constante receio de que algo possas acontecer. Estas pessoas também levam maior tempo para se recuperar de situações estressoras por remoerem elas e permanecerem mais tempo pensando no que poderia ter sido, nas possíveis alternativas de resolução ou outras catástrofes futuras imaginárias que podem surgir fruto daquelas situações estressoras. Vivem uma aflição constante no seu dia a dia, seja de que não darão conta de tudo, de que não fizeram tudo o que poderia ter feito, de que não tomou todos os cuidados, ou de que algo a qualquer momento irá acontecer de pior, incluindo o sentimento de morte iminente.

Sintomas frequentes

Entre os sintomas físicos mais presentes e associados ao constante estado de preocupação, ansiedade e  apreensão, estão:

  • Taquicardia
  • Dor no peito
  • Respiração ofegante ou sensação de asfixia
  • Sudorese
  • Náuseas
  • Arrepios
  • Dores musculares
  • Tremores
  • Ondas de calor ou calafrios
  • Adormecimentos
  • Insônia
  • Esgotamento físico e mental
  • Dificuldade de concentração
  • Nervosismo
  • Sensação de deslocamento, estranheza

Se você ou alguém próximo relata sintomas como estes e percepções distorcidas de perigo acerca da realidade, como mais acima exposto neste artigo por pelo menos 6 meses de duração, não hesite. Procure ajuda profissional, de modo a ajudar você a trabalhar na remissão dos sintomas, dos incômodos e desconfortos psico-físico-emocionais, e especialmente para ajudar você a quebrar este ciclo de pensamentos e percepções distorcidas da realidade, através da terapia e uso de medicação adequadamente prescrita por um médico psiquiatra.

Lembre-se sempre: pedir e procurar ajuda é o 1º passo e um grande gesto de coragem para seu autocuidado, promoção de saúde integral, qualidade de vida e bem estar.